Carta de FHC, que sugeria união de forças em torno de Alckmin contra o
petismo e o antipetismo, foi recebida com ironia por campanhas de
centro-direita. Aliás, os tucanos jamais demonstraram a intenção de
negociar com as forças de centro-direita. A propósito, segue reportagem
da Gazeta do Povo:
O PSDB
tentou esvaziar as candidaturas dos seus oponentes de centro e direita
para conclamar a sociedade a se unir em torno de um único nome,
apresentado como a terceira via contra o petismo e o antipetismo:
Geraldo Alckmin, do próprio PSDB. Só que o partido propôs esse debate
tarde demais e ainda sem empenhar esforços. No final, teve de voltar
atrás, mostrando como a sigla perdeu sua capacidade de interlocução
política e com a sociedade.
A carta
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) propondo a união de
forças democráticas em torno de Alckmin foi ironizada pelos adversários.
Alguns presidenciáveis questionaram por que Alckmin não abriu mão ele
mesmo de sua candidatura em torno de outros concorrentes e por que não
começou alguma aproximação mais cedo.
O que disseram os candidatos sobre a ideia
Marina
Silva (Rede) afirmou à Gazeta do Povo neste domingo (23) que não cabe ao
PSDB tentar direcionar o processo eleitoral, convidando as outras
candidaturas a se unirem em torno do candidato tucano. “A sociedade
brasileira é quem vai fazer esse movimento, escolhendo aquela
candidatura que esteja pronta para unir o Brasil e para fazer um governo
com base naquilo que a população de fato quer ver resolvido: o problema
do desemprego, da saúde, da educação, da ética, de um governo que use
corretamente os recursos da população.”
Alvaro
Dias (Podemos) considerou a proposta tucana “um pouco tardia”. O
presidenciável elogiou a iniciativa de FHC, em redigir a carta, mas
disse que os tucanos é quem deveriam desistir de seu candidato. “A
primeira providência para que isso tivesse sucesso seria o PSDB
renunciar a sua candidatura [de Geraldo Alckmin]. (...) Se o PSDB quer
unir o centro, desista de sua candidatura.” Alvaro afirmou que os
tucanos já perderam três eleições presidenciais seguidas para o PT e que
vão perder a quarta se mantiverem sua candidatura.
Através
de seu assessor, o candidato João Amoêdo (Novo) afirmou que não tinha
sido procurado pelo PSDB e que não caberia desistir da candidatura antes
do primeiro turno. “Não existe qualquer possibilidade disso”, disse um
assessor de Amoêdo.
Já
Henrique Meirelles (MDB) sugeriu que caberia a Alckmin abrir mão de sua
candidatura. “A minha resposta é que sim, sou favorável à união do
centro. Agora, precisamos ter um centro com um candidato com condições
de ganhar as eleições e o candidato que está subindo nas pesquisas, em
condições de ganhar a eleição sou eu. Se o PSDB quiser se unir a nós
ainda no primeiro turno será muito bem vindo, caso contrário,
aceitaremos com muita força o MDB e PSDB juntos no segundo turno. O PSDB
apoiando o Henrique Meirelles para presidente”, disse o candidato do
MDB, via seus assessores.
PSDB não mobilizou esforços para dialogar com candidatos de centro-direita
O
deputado federal tucano Silvio Torres, um dos estrategistas da campanha
de Alckmin, afirmou à Gazeta do Povo que FHC esperava, com a carta
divulgada na última quinta-feira (20), conclamar as “forças” que
consideram Bolsonaro e Haddad extremos opostos.
“Há
pessoas que estão por conta própria, vinculadas ou não à campanha, que
estão preocupadas com a situação e que estão tomando iniciativas. Que
não aceitam que o Brasil possa chegar nas eleições com os dois
candidatos que representam a grande insegurança para o pais”, disse
Torres. O deputado admitiu, porém, que não houve qualquer esforço da
campanha para buscar diálogo com os outros candidatos.
Ainda na
quinta-feira, quando foi divulgada a carta, Alckmin declarou que não
iria falar com os outros candidatos, mas que queria conscientizar o
eleitor com esse chamado para unir em torno dele o centro e a direita.
“Eu não vou procurar candidatos porque respeito, é legítimo que eles
sejam. Mas a ideia é uma reflexão junto ao eleitorado.”
Alckmin mantém discurso de que é alternativa à polarização
Neste
domingo (23), Alckmin manteve o discurso de que buscará ser visto pelo
eleitorado como a alternativa à polarização. Em ato no Parque do
Ibirapuera, em São Paulo, afirmou que sua candidatura representa o
“caminho para o fim da era PT no Brasil”. “Acho que nós somos o caminho
para poder impedir a volta do PT para o governo.”
Com Jair
Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) no topo das pesquisas, o PSDB
tenta se vender como a única opção viável, mas está com dificuldade de
superar erros que o próprio partido cometeu, como proteger o senador
Aécio Neves e outros nomes do alto escalão do partido implicados em
esquemas de corrupção.
Também
perderam a articulação com o mercado financeiro e investidores, que
sinalizam que começam a aceitar o nome de Bolsonaro, principalmente por
causa de Paulo Guedes, economista liberal responsável pelo plano
econômico do candidato do PSL.
Segmentos
do próprio mercado financeiro consideram tardia a proposta de uma
aliança de centro-direita e não veem viabilidade na candidatura de
Alckmin, mesmo o candidato pertencendo ao partido que já foi o preferido
dos bancos e grandes investidores. O gestor de um grande fundo de
investimentos com forte atuação no setor de infraestrutura e energia
afirmou à reportagem, em condição de confidencialidade, que o PSDB
deveria ter buscado uma união dos candidatos de centro e direita três
meses atrás.
“Sugerir
isso a duas semanas da eleição complica. A impressão é que se
estivessem melhor nas pesquisas não estariam sugerindo isso. O PSDB está
colhendo frutos dos inúmeros erros. A verdade é que o partido tinha que
ter expulsado Aécio Neves e Eduardo Azeredo”, disse. “O PSDB se perdeu
muito e agora vem com esse papo de união de centro. O mercado e
empresários já estão com o Bolsonaro.”
Há rumores de que alas do PSDB vão apoiar Haddad no 2.º turno
O gestor
também afirmou que corre entre os operadores do mercado financeiro a
notícia de que “metade do PSDB estaria falando em apoiar o Haddad no
segundo turno”. O próprio Haddad também vem sinalizado que pedirá apoio
ao PSDB caso chegue ao segundo turno, segundo noticiaram os jornais O
Estado de S.Paulo e O Globo. A ideia seria pregar uma ideia de
pacificação do país.
Dentro
do PT, a possibilidade de Haddad receber apoio de tucanos não é afastada
ou rechaçada. Um técnico ligado ao partido em Brasília diz que o
ex-prefeito de São Paulo mantém diálogo com tucanos, pessoas ligadas ao
mercado financeiro e investidores e, muitas vezes, adota posturas e
discursos que o colocam próximo ao que prega e defende algumas alas do
PSDB. “O Haddad dialoga com esse povo e fala coisas que até parece ser
de tucano de alta plumagem”, afirmou o petista.
Sobre os
rumores de um apoio do PSDB ao PT em eventual segundo turno, Alckmin se
pronunciou no Twitter, afirmando que “não existe menor chance de
aliança com o PT”. “Jamais terão meu apoio para voltar à cena do crime.
Seus apoiadores são aqueles que acampam em frente a uma penitenciária”,
escreveu Alckmin.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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