Datafolha
Um dos dados que chama a atenção na pesquisa divulgada na segunda-feira (10) pelo Datafolha refere-se ao grau de decisão dos brasileiros em relação ao candidato que escolheram para presidente da República. A maioria (55%) se diz totalmente certa sobre sua opção, porém, ao se comparar a taxa dos convictos com eleições anteriores, percebe-se que a cristalização do voto nesta eleição está em patamar muito mais baixo.
COMPARAÇÃO – No mesmo período, nas campanhas de 2006 e 2010, esse índice alcançava 80% e, em 2002 e 2014, se aproximava de 70%.
Claro que a tendência reflete o conjunto de incertezas do cenário político brasileiro dos últimos anos, meses e semanas.
Mas, considerando-se o contingente de eleitores que mantém a posição de votar em branco ou anular o voto (o percentual caiu em relação à pesquisa anterior, mas ainda configura recorde histórico), o espaço para os candidatos conquistarem novos adeptos é reduzido.
VARIÁVEIS – Com o objetivo de projetar potenciais de crescimento dos principais nomes ao cargo, o Datafolha aplicou análise multivariada de segmentação sobre o universo eleitoral de cada candidato.
A exemplo do que fez na disputa de 2014, combinou variáveis como intenção de voto, rejeição e conhecimento para chegar ao teto e piso imediatos de cada um.
Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as intenções de voto, é o candidato que, ao mesmo tempo, apresenta alto grau de cristalização tanto de entusiastas quanto de detratores.
PRÓS E CONTRAS – Dentre os seus 24% de intenção de voto, 21% são de eleitores que se dizem convictos.
No extremo oposto, 47% dos brasileiros enquadram-se em um grupo denominado “causa perdida”, isto é, afirmam conhecer o deputado e o rejeitam completamente.
Demonstram certeza sobre a opção pelo candidato do PSL a presidente principalmente os homens e os mais ricos, mas é interessante notar que o índice de convicção entre simpatizantes do PSDB supera a média em cinco pontos percentuais. O dado ilustra a dificuldade de Geraldo Alckmin (PSDB) no resgate de seus correligionários.
TETO DE 27% – Considerando-se o potencial de crescimento de Jair Bolsonaro, se a tendência mantiver curva ascendente, o candidato do PSL tem teto imediato de até 27%.
Quanto a seus detratores, pelo menos metade das mulheres, dos jovens e dos mais escolarizados impede desempenho mais expressivo do capitão reformado em sua aspiração de chegar ao Palácio do Planalto.
No pelotão de baixo, onde estão embolados quatro candidatos, se considerados apenas os eleitores convictos de cada um, o quadro fica ainda mais indefinido.
HADDAD E MARINA – O que impede um melhor desempenho do substituto de Lula não é mais Marina Silva (Rede), que nos levantamentos anteriores herdava boa parte do espólio do ex-presidente e que, agora, é totalmente descartada por metade dos brasileiros.
É Ciro Gomes (PDT), que, além de dividir com o petista a cristalização de voto em segmentos correlatos de redutos lulistas, como o Nordeste, apresenta também bom potencial em estratos mais ao centro, como entre os eleitores de Geraldo Alckmin, onde chega a ser cogitado por 47%.
Talvez, por esse espectro amplo, o maior desafio de Ciro daqui para frente seja justamente o de adaptar o discurso, sem desagradar ambos os lados.
VOLÚVEIS – O pedetista é um dos candidatos com maior taxa de eleitores “volúveis”, isto é, que podem mudar o voto a qualquer momento. Se isso acontecer, é bem provável que Haddad suba para percentuais próximos a 13% em médio prazo. Caso contrário, Ciro tem potencial para chegar a 18% no mesmo espaço de tempo.
Quanto a Alckmin, resta a dúvida sobre como o ex-governador de São Paulo penetrará na blindagem que Jair Bolsonaro compôs em torno do eleitorado tradicionalmente tucano.
Seu potencial imediato se projeta em 15% das intenções de voto, mas, para alcançar esse patamar, o foco não deve ser exclusivo no perfil óbvio dos eleitores de Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoedo (Novo). Alckmin tem maiores chances na conversão quantitativa de eleitores indecisos e entre os que votam em Marina.
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