Sempre
sorrindo, Ellyse Pêpe dedilha uma almofada de borracha azul que a
terapeuta ocupacional lhe estende. O objetivo é desenvolver a
coordenação motora fina da jovem de 21 anos, que tem paralisia cerebral
desde o nascimento. Recentemente, Ellyse terminou um livro que conta sua
história de vida — e agora precisa de ajuda para publicá-lo. O custo de
R$ 100 mil está além das possibilidades da família.
"Ela
é a pessoa mais empática que eu já vi". É assim que o pai da menina, o
empresário na área de tecnologia Urbano Matos, 53, a define. "Ela
transmite uma alegria às pessoas", diz, antes que a esposa, mãe de
Ellyse, complete: e "uma determinação, uma força de vontade". Itana
Matos, 48, se dedica exclusivamente à filha e aos tratamentos dela.
"São
tranquilos", é o que Ellyse tem a dizer dos pais. "Eu desabafo o que eu
penso e tudo eles querem saber, estar junto comigo. Eles querem mais e
mais de mim e também me apoiam muito", conta.
Além do suporte de Urbano e Itana, a garota também tem o apoio da irmã, Lettycia, de quatro anos.
Relação
A
relação das duas é tranquila, apesar de algumas brigas. "Às vezes ela
fica enchendo", ri Ellyse, e completa: "mas irmã tem que ter muita
paciência. Ela sempre vai me ajudar e ser minha companheira de todos os
momentos. Eu fico até emocionada em saber disso. A família é muito
unida, é muito importante para mim", diz.
A
ideia de escrever um livro surgiu dos pais. "Ela sempre criava
histórias, inventava jogos, então a gente dizia que ela devia escrever",
conta Itana. Mas foi só depois que a mãe de uma amiga da menina sugeriu
o mesmo que Ellyse topou a ideia. A obra, de 150 páginas, já está
pronta e inclui fotos da vida dela. Urbano e Itana querem lançar uma
versão eletrônica, em áudio e impressa — que será feita em letras
maiores, adaptada a quem tem dificuldades para ler.
"No
livro, ela fala muito de acessibilidade, da dificuldade que tinha com
livros normais. Eu tinha que ler para ela. A gente gostaria de não
trazer esse mesmo problema para as pessoas", explica Itana. Além da
paralisia cerebral, Ellyse também tem dislexia.
"Como
ela quer atingir as pessoas que têm dificuldades e situações que são
limitadoras, a gente precisa fazer um livro que permita acesso a todos",
completa Urbano. "A dificuldade agora está em arrecadar. Só a impressão
é mais de R$ 40 mil", relata.
Ellyse
conta que o objetivo do livro é ajudar pessoas com dificuldades —
semelhantes às dela ou não. "Tem pessoas que pensam que não conseguem e
acabam superando as dificuldades. Esse livro é pra superar. Eu fico
honrada e feliz de levar esse livro pra outros lugares. Penso que vou
conseguir tudo se me esforçar", afirma. Ellyse levou um ano escrevendo o
livro, que foi digitado por ela mesma e corrigido por sua mãe.
Os
pais de Ellyse explicam que a paralisia cerebral foi provavelmente
causada por um acidente sofrido quando Itana ainda estava grávida. O
carro em que a família viajava caiu em um rio, e a mãe da jovem ficou
mais de dez minutos embaixo d'água.
"Não
diagnosticaram nada na gravidez, só no nascimento. Ela começou a fazer
tratamentos com um mês e meio de idade", relata Itana. "No começo,
diziam que ela não ia conseguir sentar sozinha. Hoje ela anda com o
andador, come sozinha e terminou o ensino médio", conta Urbano.
A
ex-fisioterapeuta de Ellyse, France Cardoso, que a acompanhou desde os
seis anos de idade até recentemente, explica o problema da menina: "ela
tem uma lesão no sistema nervoso central que não evolui. O que existe é o
comprometimento motor. Se a gente trabalhar preventivamente, para
evitar pioras do quadro motor, pode ter ganhos", diz.
O
objetivo dos tratamentos – que hoje tem sessões de psicopedagogia,
fisioterapia, terapia musical e com psicólogo – é dar a ela ganhos
funcionais. "O que ela for capaz de fazer, com a limitação dela, é o
grande ganho", diz Frances.
Ellyse
não parece, no entanto, preocupada com limitações, e já decidiu o
futuro profissional: quer estudar teologia e se tornar missionária.
Para contribuir com a campanha, basta acessar https://goo.gl/CrsJhT.
Fonte: A Tarde.
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