J. R. Guzzo, no blog Fatos, inaugurado em Veja.com: "muito
barulho por quase nada: a queda de Michel Temer vem, vai, volta, vem de
novo e continua não acontecendo. É a nossa “agenda política”:
O
cardápio de questões políticas que está sendo servido ao público em
geral, já há tempos, reflete o que os garçons querem vender para os
clientes e não o que existe realmente na cozinha. O grande prato em
oferta durante os últimos meses, mas que nunca chega à mesa, por maiores
que sejam os esforços investidos na sua oferta, é o “Fora Temer”.
Já se confirmou no mundo dos fatos, uma porção de vezes, que isso não
existe; não há os ingredientes, nem o cozinheiro e nem a vontade dos
fregueses em pedir o que o restaurante quer que eles comam. Mas nada
disso tem feito diferença até agora. A permanecer essa curiosa situação
de extrema oferta e baixíssima procura, o “Fora Temer” continuará por aí
até o dia em que o presidente da República
passar a faixa ao seu sucessor no dia 31 de dezembro de 2018. A
população brasileira, nesse caso, receberá mais ou menos a seguinte
informação: “Caiu Michel Temer.” Até lá será preciso conviver com o
surto descontrolado de desejos que passam por notícias, e cujo resultado
final se resume a deixar mal informado quem presta atenção no que lê,
ouve ou vê diariamente no noticiário.
Michel
Temer ficou, como acaba de ser comprovado pela última verificação de
fatos que se tem sobre o tema – a votação do parecer da Comissão de
Justiça da Câmara que opinou por não autorizar o processo penal do
presidente por parte do Supremo Tribunal Federal.
Isso não faz com que ele se torne melhor, ou pior; apenas mostra que o
público ouve uma coisa e acontece outra. Durante semanas a fio, os
políticos da “oposição”, os formadores de opinião e a esquerda nacional
levaram extraordinariamente a sério a possibilidade de uma derrota fatal
de Temer; acabaram ficando 115 votos abaixo do mínimo que precisavam
para ganhar a votação em plenário. Ou seja: a hipótese que circulou este
tempo todo, com contas dramáticas e diárias de “a favor” ou “contra”,
trocas de “lealdade”, tremores de terra entre os aliados do governo,
etc., etc., simplesmente não era nada. É natural: nada sai do nada.
Tem sido
assim desde o começo dessa história lamentável, que acabou virando a
“agenda política” do Brasil atual. Começou com a exigência escandalizada
de um “gesto de grandeza” de Temer; ele deveria renunciar e com isso
todo mundo ficaria feliz, a come çar pelo ex-presidente Fernando Henrique.
Tratava-se de algo tão possível como um triângulo de dois lados – mas a
hipótese chegou a ser dada como altamente viável, ou até iminente.
Seguiram-se os repetidos anúncios de derrota do governo na votação de
seus projetos no Congresso; a cada vez que Temer ganhou anunciou-se que
perderia na próxima. Viriam as “diretas já”; nunca vieram. O resto é
mais do mesmo. A Comissão de Justiça daria um parecer contra Temer; o
parecer foi a favor. A oposição e os “dissidentes” iriam adiar tudo; não
adiaram nada. Seria difícil o governo conseguir quo rum para votar o
parecer; no dia marcado compareceram mais de 490 deputados, num total de
513. Desde então anuncia–se que o resultado da votação foi uma grande
derrota para o governo, embora tenha havido uma vantagem numérica –
meramente numérica, coisa que, como qualquer cientista político sabe,
não quer dizer nada.
Ninguém,
como já se disse mais de 1.001 vezes, tem a menor obrigação de gostar
de Michel Temer e de seus amigos do presente ou do passado. Mas isso não
dá força a quem não gosta dele, e nem muda os fatos. Trata-se de
realidades bem simples. Lula
e seus seguidores são minoria absoluta no Congresso. Não levaram a
população “às ruas”, fora uns grupinhos de gente a seu serviço.
Pesquisas que perguntam se você é “a favor de que sejam apuradas as
acusações contra Temer”, ou “a favor de cortarem os seus direitos”, não
valem nada e por isso não influenciam ninguém. Tirar legalmente um
presidente da República do cargo é algo extremamente difícil – é preciso
contar com uma Dilma para dar certo, ou um Fernando Collor,
que, aliás, renunciou antes de ser deposto. É complicado formar
maiorias verdadeiras pregando o extremismo, porque a maioria da
população não é extremista – e o evangelho da oposição, hoje em dia, se
resume a isso, mais elogios à Venezuela, incentivo repetido à desordem e
aumento dos gastos do governo. É pouco, para virar a mesa.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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