Extremo oposto ao que vimos no Brasil com Michel Temer, a chanceler alemã Angela Merkel conta com altos índices de apoio. Por lá, mais de 50 % dos alemães continuam achando que a “Mutti” (mamãe) Merkel faz um bom trabalho e 36% a manteriam no poder se houvesse uma nova eleição hoje. Aqui, como vemos nas pesquisas recentes, Michel Temer tem a maior rejeição de toda a história recente.
Uma das chaves para o apoio é a representatividade: o povo alemão consegue se enxergar na chanceler. Seu jeito, levemente desajeitado, mas com precisão de máquina nas técnicas cotidianas reflete o trabalhador alemão. A recusa de Merkel à opulência, em desacordo com Putin, Trump e Temer, é também aderente ao comportamento do alemão médio.
MUDAR POUCO – Quando perguntada por que ela posicionava as mãos na sua pose característica de diamante a física-química-chanceler respondeu: “Porque me tranquiliza, é uma posição simétrica”. A inércia (que os oposicionistas chamam de pragmatismo excessivo) se traduz em método: Merkel só aceita mudanças pequenas no status quo e, mesmo essas, precisam passar por análises rigorosas, com todos os potenciais efeitos mapeados.
No fim a estratégia de Merkel é: mudar pouco, mas sempre que uma mudança for realizada, que torne as coisas um pouco melhores do que estavam. Nesta frequência que o espírito alemão tem se encontrado nas últimas décadas, a chanceler foi a pessoa certa para incorporá-lo. Com isso, a economia alemã tem um crescimento modesto mas robusto, que não é medido pelo PIB, mas pelo bem-estar de sua população. A sensação de pleno emprego e de que amanhã será (um pouquinho) melhor que hoje mantém um sentimento positivo – mesmo que problemas sérios não sejam resolvidos.
AUMENTO SURPRESA – Aqui, sabemos que a história é bem diferente. Tivemos um aumento “surpresa” de 10% nos combustíveis por conta de um aumento tributário. O governo apresenta uma tabela super-simplificada, mostrando que, com este aumento, arrecadará R$ 10 bi a mais ao ano (litros consumidos atualmente multiplicado pelo tributo a mais). Ignora os preceitos mais simples da economia, como a elasticidade do consumo de bens não essenciais pelo aumento do preço.
Desconsidera todo e qualquer efeito que a alteração pode ter na redução da receita (redução do consumo, não só de combustíveis, mas de tudo, que terá seu preço aumentado pelo frete e custos de produção). Desconsidera que, ao enterrar a economia com aumento percentual da carga tributária, ele reduz a arrecadação, ao invés de aumentar (no exemplo extremo, o socialismo soviético cobrava 100% de imposto, com resultados conhecidos).
GOVERNO IGNORANTE – Este exemplo emblemático mostra uma forma de governo ignorante (no sentido daquele que ignora). São alterações enormes (reforma da previdência, reforma trabalhista, aumento de impostos) a toque de caixa, sem a garantia germânica (“mudará pouco e para melhor, pois nós já avaliamos tudo conforme este estudo público que está disponível, que foi apreciado, inclusive, pelos melhores professores”).
Na verdade, o sentimento é exatamente o oposto: que nada foi estudado e que as mudanças são resultados de negociatas, troca de favores, comprometimentos, e que ninguém de fato avaliou a mudança em si: somente são seguidas sugestões, ameaças, chantagens e que todos os estudos foram realizados em porões escuros (agora, à prova de gravação).
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