Por Folhapress | Fotos: Agência Brasil
O presidente Michel Temer decidiu processar Joesley Batista, sócio do
grupo J&F, após o empresário afirmar, em entrevista à revista
"Época", que o peemedebista lidera a "maior organização criminosa do
país".
Temer divulgou uma longa nota neste sábado (17) para dizer que
entrará, na segunda-feira (19), com ações civil e penal contra o
empresário, como antecipou a Folha, e que o governo "não será impedido
de apurar" crimes praticados por Joesley.
"Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação
financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência
da República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e
responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que
praticou, antes e após a delação", diz o texto.
Segundo a Folha apurou, o presidente acredita que o Ministério Público
Federal vai utilizar as novas declarações do empresário para
"reconstruir" a base da denúncia que deve apresentar contra Temer na
próxima semana.
Na nota, o presidente acusa Joesley de "desfiar mentiras em série",
proteger "estrategicamente" o PT e critica a impunidade conferida ao
empresário, em uma referência indireta à PGR (Procuradoria-Geral da
República) e seu comandante, Rodrigo Janot.
À "Época", Joesley diz que o ex-presidente Lula "institucionalizou" a
corrupção no país, mas que nunca teve uma conversa não republicana com o
petista.
Segundo a nota de Temer, porém, a relação da JBS com o governo começou
na gestão petista, na qual estavam "os verdadeiros contatos do
submundo" do empresário e "as conversas realmente comprometedoras com os
sicários que o acompanhavam".
"Os fatos elencados demonstram que o senhor Joesley Batista é o
bandido notório de maior sucesso na história brasileira. Conseguiu
enriquecer com práticas pelas quais não responderá e mantém hoje seu
patrimônio no exterior com o aval da Justiça. Imputa a outros os seus
próprios crimes e preserva seus reais sócios", diz a nota.
E segue: "[Joesley] obtém perdão pelos seus delitos e ganha prazo de
300 meses para devolver o dinheiro da corrupção que o tornou bilionário,
e com juros subsidiados. Pagará, anualmente, menos de um dia do
faturamento de seu grupo para se livrar da cadeia. O cidadão que
renegociar os impostos com a Receita Federal, em situação legítima e
legal, não conseguirá metade desse prazo e pagará juros muito maiores".
Integrantes do governo admitem, em caráter reservado, que o discurso
do empresário cria um novo abalo político para o Planalto, que está
mergulhado em uma grave crise há um mês, desde que vieram a público os
detalhes da delação da JBS.
A ordem de Temer, portanto, é manter a ofensiva contra a JBS e contra a
PGR que, segundo assessores do presidente, claramente investe em uma
"escalada" contra o governo, cujo próximo passo, acreditam, deve ser a
prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
Na entrevista, Joesley afirma que Geddel era o "mensageiro"
responsável por informar Temer sobre pagamentos feitos pelo empresário
ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde o ano passado em
Curitiba.
Ainda de acordo com Joesley, Geddel o procurava quinzenalmente para se
atualizar sobre a compra do silêncio de Cunha e repassar as notícias ao
presidente. "Era uma agonia terrível", diz o empresário.
Em suas novas declarações, o sócio da J&F confirma o que disse em
seu depoimento à PGR sobre pagar Cunha e o operador Lúcio Bolonha
Funaro, também preso, para que ambos não o delatassem.
Para Joesley, Temer é o chefe de uma organização criminosa que contava
com Cunha, Geddel, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
preso há dez dias, e os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e
Eliseu Padilha (Casa Civil).
Um dos principais auxiliares de Temer, Moreira nega qualquer
irregularidade e diz que as declarações do empresário são uma "suspeição
afrontosa".
"Politicamente, dentro do PMDB, eu militei no grupo liderado pelo
presidente Michel Temer mas jamais participei ou vi práticas ilícitas. É
uma suspeição afrontosa o que esse senhor levanta", declarou Moreira à
Folha.
"É surpreendente a ousadia e a desenvoltura em mentir do contraventor
Joesley Batista. Estive com ele uma única vez, em um grupo de
brasileiros, numa viagem de trabalho em Pequim, ocasião em que me foi
apresentado. E nunca mais nos encontramos. Seu juízo a meu respeito é o
de quem quer prestar serviço e para tal, aparenta um relacionamento que
nunca existiu."
BASE ALIADA
Auxiliares de Temer avaliavam como "frágeis" os elementos que seriam
utilizados para sustentar as acusações contra o presidente –baseadas na
gravação de uma conversa entre Temer e Joesley– mas agora admitem, em
caráter reservado, que o novo discurso do empresário pode corroborar as
suspeitas por corrupção, obstrução de justiça e formação de organização
criminosa e robustecer a denúncia.
No Congresso, o plano da coalizão governista é partir para o ataque
contra Joesley e o Ministério Público por meio da CPI criada, mas ainda
não instalada, para tratar da delação da JBS.
Um dos aliados de Temer, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) diz que o
presidente é o primeiro a defender que tudo seja investigado e
esclarecido: "Esse sujeito [Joesley] é réu confesso e tem um acordo de
delação que o livrou desse monte de sujeira. Do outro lado, tem pessoas
que negam as acusações. Tem que se investigar tudo."
A oposição, por sua vez, aposta nas novas declarações como mais uma fato que pode "antecipar" a saída de Temer do cargo.
O líder da bancada do PT na Câmara, Carlos Zarattini (PT-SP), afirmou
que a entrevista de Joesley diz que "a denúncia é muito grave, colocou
Temer como líder de uma quadrilha". "À medida em que a denúncia de Janot
for chegando ao Congresso, a maioria que o governo diz que tem agora
vai acabar se esfarelando. Vai se acabando essa maioria. É insustentável
esse governo. O PSDB vai desembarcar do governo. Se ainda fosse um
governo com popularidade, mas nem isso ele tem", afirma o petista.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA:
"Em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES.
Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o
faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões.
Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente
Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto. Toda essa história de
"sucesso" é preservada nos depoimentos e nas entrevistas do senhor
Joesley Batista. Os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os
verdadeiros contatos de seu submundo, as conversas realmente
comprometedoras com os sicários que o acompanhavam, os grandes
tentáculos da organização criminosa que ele ajudou a forjar ficam em
segundo plano, estrategicamente protegidos.
Ao bater às portas do Palácio do Jaburu depois de 10 meses do
governo Michel Temer, o senhor Joesley Batista disse que não se
encontrava havia mais de 10 meses com o presidente. Reclamou do
Ministério da Fazenda, do Cade, da Receita Federal, da Comissão de
Valores Mobiliários, do Banco Central e do BNDES. Tinha, segundo seu
próprio relato, as portas fechadas na administração federal para seus
intentos. Qualquer pessoa pode ouvir a gravação da conversa na internet
para comprová-lo.
Em relação ao BNDES, é preciso lembrar que o banco impediu, em
outubro de 2016, a transferência de domicílio fiscal do grupo para a
Irlanda, um excelente negócio para ele, mas péssimo para o contribuinte
brasileiro. Por causa dessa decisão, a família Batista teve substanciais
perdas acionárias na Bolsa de Valores e continuava ao alcance das
autoridades brasileiras. Havia milhões de razões para terem ódio do
presidente e de seu governo.
Este fim de semana, em entrevista à revista "Época", esse senhor desfia mentiras em série.
A maior prova das inverdades desse é a própria gravação que ele
apresentou como documento para conseguir o perdão da Justiça e do
Ministério Público Federal por crimes que somariam mais de 2000 mil anos
de detenção. Em entrevista, ele diz que o presidente sempre pede algo a
ele nas conversas que tiveram. Não é do feitio do presidente tal
comportamento mendicante. Quando se encontraram, não se ouve ou se
registra nenhum pedido do presidente a ele. E, sim, o contrário. Era
Joesley quem queria resolver seus problemas no governo, e pede
seguidamente. Não foi atendido antes, muito menos depois.
Ao delatar o presidente, em gravação que confessa alguns de seus
pequenos delitos, alcançou o perdão por todos seus crimes. Em seguida,
cometeu ilegalidades em série no mercado de câmbio brasileiro comprando
US$ 1 bilhão e jogando contra o real, moeda que financiou seu
enriquecimento. Vendeu ações em alta, dando prejuízo aos acionistas que
acreditaram nas suas empresas. Proporcionou ao país um prejuízo estimado
em quase R$ 300 bilhões logo após vazar o conteúdo de sua delação para
obter ganhos milionários com suas especulações.
Os fatos elencados demonstram que o senhor Joesley Batista é o
bandido notório de maior sucesso na história brasileira. Conseguiu
enriquecer com práticas pelas quais não responderá e mantém hoje seu
patrimônio no exterior com o aval da Justiça. Imputa a outros os seus
próprios crimes e preserva seus reais sócios. Obtém perdão pelos seus
delitos e ganha prazo de 300 meses para devolver o dinheiro da corrupção
que o tornou bilionário, e com juros subsidiados. Pagará, anualmente,
menos de um dia do faturamento de seu grupo para se livrar da cadeia. O
cidadão que renegociar os impostos com a Receita Federal, em situação
legítima e legal, não conseguirá metade desse prazo e pagará juros muito
maiores.
O presidente tomará todas medidas cabíveis contra esse senhor. Na
segunda-feira, serão protocoladas ações civil e penal contra ele. Suas
mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira
pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da
República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e
responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que
praticou, antes e após a delação.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República"
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