Por Guilherme Reis | Fotos: Gilberto Júnior/Bocão News
Para o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia
(Ufba), Joviniano Neto, a delação de Marcelo Odebrecht referente a
doações feitas à campanha de Dilma Rousseff (PT) em 2010 e 2014 podem
estremecer o governo Michel Temer (PMDB) se os recursos forem
comprovados como pagamento de propina. “As grandes empresas doavam para
todos os candidatos que eles viam que tinham alguma chance. Doavam para o
favorito e a outro como seguro. Quando uma doação é colocada sob
suspeita, enfraquece a situação de quem recebeu doação. Estamos com uma
crise do modelo de financiamento, aliado à falta de credibilidade dos
políticos”, avaliou, mas sem apostar na queda do atual governo.
Segundo o professor, as recentes polêmicas envolvendo o financiamento
privado de campanhas eleitorais, o que passou a ser proibido nas últimas
eleições, colocaram em crise a relação entre empresas e o Poder
Público. “Chamaram a delação da Odebrecht da delação do fim do mundo
porque ela atingiria todos os partidos. O que se coloca em
questionamento é a relação entre as empresas e o modo de financiamento
da campanha”, opinou, citando o fato de Cláudio Melo Filho, ex-diretor
de Relações Institucionais da Odebrecht, ter feito lobby no Congresso
para conseguir aprovar matérias de interesse da empreiteira.
“Isso não é ilegal, pode ser visto como tráfico de influência mas
também como lobby. Isso é papel de lobista. Ainda não aprovamos nenhuma
lei regulamentando o lobby no Brasil, como fizeram nos Estados Unidos,
onde o lobby se organiza, faz relatório... Lá tem lobista atuando
registrado e fazendo propaganda do que conseguiu aprovar”, explicou.
Ainda na avaliação de Joviniano Neto, a defesa de Temer deverá se
basear na tentativa de provar que todas as doações recebidas foram
legais, e que o fato contribui para reduzir ainda mais a popularidade do
peemedebista. Entretanto, ele ressaltou que o presidente ainda possui
forte apoio do Congresso e de grupos econômicos. “Temer tem a favor dele
a maioria dos parlamentares, grupos empresariais nacionais e
internacionais e grandes setores da mídia que vão dar a ele pelo menos o
direito de se defender. Mas é um governo impopular que aprova medidas
impopulares mas necessárias. Democracia não é isso”, disse.
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