O ano letivo começou com uma "bermuda justa" no Colégio Rio Branco, um
dos mais tradicionais de SP. De um lado, alunas acusam a direção de
proibi-las de vestirem shorts sob a justificativa de que eles atrairiam
"olhares masculinos". E se dizem obrigadas a "sofrer em silêncio com o
calor do verão". Do outro, a escola diz que alunas estão usando as
bermudas que fazem parte do uniforme com número menor, para ficarem mais
curtas. "Falamos: 'Gente, os shorts estão curtos demais'. Elas não
querem usar bermuda do tamanho correto porque falam que é brega", diz a
diretora-geral do colégio, Esther Carvalho, para quem o debate "está
sendo perigosamente deturpado". "São duas coisas importantes: uma é
código de vestimenta e contexto, outra é uma discussão mais complexa,
sobre preconceito, tolerância, feminismo, machismo", segue a diretora.
As alunas organizaram um abaixo-assinado na internet em que dizem
"reivindicar direitos de liberdade de escolha e expressão, para
conseguir acabar com as restrições direcionadas somente às mulheres". A
escola sustenta que a bermuda do uniforme (com comprimento na altura do
joelho) é obrigatória também para os meninos. "É claro que, para eles
[direção], é bem mais sensato nos fazer passar calor, do que culpar os
meninos que não querem controlar seus hormônios, nem quando estamos
usando calças", afirma o texto das estudantes. "Eu também tenho calor",
diz a diretora. "O que fazer? Usa a bermuda da escola. A vida é assim.
Tem regra. Outras pessoas também usam uniforme e sentem calor. No
momento é o que temos." Alunas que descumprem a regra estão sendo
alertadas, mas Esther nega que sejam "retiradas da sala de aula para
levar sermão", como afirmam. "O que é um sermão para um jovem? Qualquer
coisa que venha de um adulto." Mudanças no uniforme são discutidas com
os alunos, segundo a diretora. "A camiseta da menina é 'baby look'. Mas
de alguma forma nunca vai atender a todos. Porque cada um quer usar sua
roupa dentro de um uniforme." A direção planeja "aproveitar este momento
para trazer a discussão sobre machismo, feminismo, preconceito". Até
ontem, o abaixo-assinado intitulado "Liberdade aos shortinhos" tinha
cerca de 760 adesões. Esther diz que é "até triste" ler no manifesto que
nem todas as alunas têm condição de comprar uma calça, opção à bermuda.
"A maioria da população do colégio é abastada. Não é essa a questão."
(MB)
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