MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Bloco Zona do Agrião se enraizou na cultura de São Luiz do Paraitinga


Bloco foi criado na casa do compositor luizense Elpídio dos Santos.
Sem desfilar há anos, integrantes farão apresentação especial no sábado.

Marcelo Rodrigues
Negão dos Santos, Renata Marques e Lia Marques do Bloco do Agrião (Foto: Fábio França)Negão dos Santos, Renata Marques e Lia Marques do Bloco do Agrião (Foto: Fábio França)
Foi na sala de estar do Instituto Elpídio dos Santos que os integrantes do grupo Paranga receberam a reportagem do G1. Sentados no chão, descalços, num imenso tapete, Negão dos Santos, Renata Marques e Lia Marques parecem que estão na sala de casa. E, de certa forma, estão: fundado em 2001 pelos sete filhos e netos de Elpídio, exatamente para preservar a memória do artista, o Instituto é a antiga casa da família.

Negão dos Santos - um dos filhos - não larga o violão nem durante a entrevista. “É que no fim a gente vai acabar precisando dele mesmo”, ele explica. Não foi no fim. Um minuto de papo depois e ele já dedilhava as famosas marchinhas do bloco Zona do Agrião.

Mas, ainda que o célebre Elpídio dos Santos (1909 - 1970) - e suas mais de mil composições - tenha espalhado o DNA da música na veia dos filhos, o Zona do Agrião deve muito mais à dona Cinira Pereira dos Santos (1925 - 2011), esposa de Elpídio, por ter acontecido. Talentosa artesã e agregadora natural era ela quem abria as portas de casa para que os amigos entrassem e fizessem a festa, com muita música, roupas de chita e marchinhas.
Bloco do Agrião foi criado na década de 1980 em São Luiz do Paraitinga (Foto: Arquivo/ Bloco do Agrião)Bloco do Agrião foi criado na década de 1980
em São Luiz do Paraitinga (Foto: Arquivo/ Bloco
do Agrião)
“Minha mãe dizia que eu nem precisava me preocupar em ir para a festa. Ela viria até em casa” brinca Negão. E foi assim, na sala de casa, que o bloco foi tomando forma. A regra era usar panos floridos e ter alegria. Muita alegria. E levar para as ruas aquele clima da sala da vó Nira. Em 1981, “brincando de tecido e gente”, desfilou pela primeira vez o bloco Zona do Agrião.

Na época, a cidade era pequena e a folia era grande. Mas controlável. E o Zona do Agrião tinha o privilégio de contar com o talento dos compositores do Paranga em sua formação original que, a cada ano, tratavam de mudar a canção do bloco, tal qual uma escola de samba troca de enredo a cada carnaval. Teve homenagem ao cometa Halley, Florisbela Tropical, Palhaços, Espanta-Vaca...

“Foi mais pela fantasia do que pela música. Pela facilidade de cada um fazer seu próprio traje. Democrático! Todo mundo consegue improvisar um palhaço, por exemplo”, conta Lia Marques – neta de Elpídio -  que, embora fosse apenas uma criança na década de 80, aprendeu cedo que era mais difícil para aquelas pessoas fazerem a fantasia do que marchinha. Num ambiente tão criativo e musical, as canções vinham naturalmente e carimbadas sempre com um melódico “zo...na... do agrião” ao fim do refrão. Era como a assinatura da família Santos e de seus queridos amigos.

“Na turma, ninguém conseguia ficar parado. Tinha sempre que ter uma novidade, na música e nas roupas”, conta Renata Marques. Todos esses elementos reunidos transformaram o Zona do Agrião – nome usado entre o meio de campo e a meia lua, do campo de futebol, onde desenvolvem as jogadas que geram o gol - em um dos mais coloridos e diferentes do passado.

Mas, na inversão que o Negão dos Santos gosta de brincar, a cidade continuou pequena e a festa, outrora grande, passou a ser gigantesca. E os talentosos artistas do Zona do Agrião foram dando um tempo dele.
Bloco do Agrião é um dos mais tradicionais de São Luiz do Paraitinga (Foto: Arquivo/ Bloco do Agrião)Bloco do Agrião é um dos mais tradicionais de
São Luiz do Paraitinga (Foto: Arquivo/ Bloco do
Agrião)
É que praticamente todos eles passaram a usar sua arte nas mais diferentes festividades ligadas ao carnaval. E, atualmente, o bloco não desfila. Mas as músicas do “Zona do Agrião” continuam entre as mais famosas da festa e versos como “Menina não fique aflita, borde a sua chita e vem pra rua dançar”, ou “É, mamar na vaca você quer, quem que não quer?” seguem na boca do povo, nas apresentações das principais bandas da cidade, nas serestas, nas rodas, e claro, no palco com o Paranga.

E, como as músicas daquela época seguem no imaginário popular, quem sabe o Zona do Agrião não volte a qualquer momento para brilhar nas ruas de SLP. “Coisa linda que vai ser”, como diz o enredo que a trupe cantou em 1984.

“Eu não confirmo essa volta, não. Mas também não nego”! brinca Negão.
Serviço
Sábado (6), 21 horas no coreto com a banda Paranga

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