Apesar
dos esforços de Renan Calheiros, presidente do Senado - que tem boas
razões para temer as investigações da PF -, os senadores optaram pelo
voto aberto, na sessão de ontem, certamente por pressão da sociedade,
"que passou o dia nas redes sociais". Artigo de Merval Pereira no jornal
O Globo:
A
tentativa do senador Renan Calheiros de manter o voto secreto na
decisão do Senado sobre a prisão do senador Delcidio Amaral foi
atropelada pela pressão da sociedade, que passou o dia nas redes sociais
demonstrando que o país está mudando, e que seria inaceitável pelos
cidadãos que os senadores, a pretexto de defenderem a imunidade
parlamentar, votassem secretamente pela liberdade do companheiro.
Seria
a reconfirmação dramática do que descreveu a ministra Carmem Lucia do
Supremo Tribunal Federal no seu voto pela prisão do senador: "Primeiro,
se acreditou que a esperança venceu o medo. No mensalão, se viu que o
cinismo venceu o medo. E, agora, que o escárnio venceu o cinismo".
Ao
emitir uma nota oficial alegando que o PT não deve solidariedade ao
senador Delcídio Amaral, líder do governo, pois sua prisão não se deve
“à sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples
filiado”, o presidente do PT produziu uma formidável confissão de culpa,
admitindo que os demais petistas presos e defendidos pelo partido, com
os tesoureiros Delúbio Soares e João Vaccari Neto e o ex-ministro José
Dirceu, saudado em convenções partidárias como “guerreiro do povo
brasileiro”, estavam atuando em missões partidárias tanto no mensalão
quanto no petrolão.
Nada
que o senso comum já não tivesse detectado, mas o ato falho de Falcão
deve ser saudado como a evidência de que é difícil manter por tanto
tempo uma versão fantasiosa que vem sendo desmontada passo a passo pela
Operação Lava-Jato.
O
decano do STF, ministro Celso de Mello, foi contundente como sempre em
seu voto no caso que, segundo ele, “revela fato gravíssimo: a captura do
Estado e de instituições governamentais por organizações criminosas. É
preciso esmagar, é preciso destruir com todo o peso da lei - respeitada a
garantia constitucional - esses agentes criminosos."
É
o que se revela no dia a dia da Operação Lava-Jato, uma operação
criminosa que tomou conta do Estado brasileiro, levando ao paroxismo a
utilização da coisa pública por um grupo político que domina o poder por
13 anos e se acostumou a “fazer o diabo” para se manter nele.
A
gravação da tentativa de suborno do ex-gerente Nestor Cerveró para que
sua delação premiada não acontecesse, ou, no mínimo, não incriminasse o
senador petista Delcídio Amaral ou o banqueiro André Esteves é uma
revelação do baixo mundo em que se transformaram as ações políticas e
econômicas sob o governo petista.
Não
havia limites para as ousadias criminosas, nem barreiras para
tentativas de interferir até mesmo no STF. Não é à toa que os
presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, ou do Senado, Renan Calheiros,
acreditam que é possível ao Palácio do Planalto intervir no Ministério
Público, na Polícia Federal ou no Judiciário para proteger seus
apaniguados e perseguir seus adversários.
Instalou-se
no país um tal clima de atuação criminosa em todos os níveis dos
negócios públicos, em benefício de setores e personagens próximos do
governo petista, que a eles tudo parecia possível, até mesmo uma fuga
mirabolante ou, como revelam os diálogos, a tentativa de anular os
processos da Operação Lava-Jato e, em conseqüência, todas as delações
premiadas.
Como
se fosse possível apagar da mente dos cidadãos todos os delitos já
relatados, muitos deles já condenados em primeira instância pelo juiz
Sérgio Moro. A decisão de ontem do Senado é histórica não por que pela
primeira vez um Senador da República pode ser preso, mas por que os
senadores parecem ter acordado para os clamores da opinião pública.
Mesmo
que Renan Calheiros fale uma coisa num momento, como se tivesse
entendido a mudança do país, e aja de maneira oposta em outra ocasião,
tentando encaminhar a votação secreta quase que numa confissão de
blindagem em causa própria, já não há ambiente para aceitar tamanha
desfaçatez. A prisão de Delcídio Amaral pode, afinal, desatar o nó das
investigações sobre os políticos envolvidos na Operação Lava-Jato.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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