Carlos Chagas
Certas coisas, só no
Brasil. Estamos assistindo a missa de réquiem celebrada pelo próprio
defunto. No caso, foi o governo que morreu, e o celebrante é a
presidente Dilma. Não dá para entender como Madame fornece, dia a dia,
mais argumentos para seu sacrifício. Ainda agora pediu ao Tribunal de
Contas da União mais quinze dias para responder às acusações de haver
extrapolado a Lei de Responsabilidade Fiscal e maquiado contas que não
poderia. A presidente já havia conseguido quinze dias de prorrogação.
Outro tanto seria exagero inexplicável, mas o Advogado Geral da União
solicitou. Ontem, veio a recusa da maioria do plenário daquela corte,
óbvia derrota do governo, capaz de fazer supor que no julgamento do
mérito, repita-se o placar.
Não havia ao lado de Dilma
um só assessor capaz de alertá-la para ficar quieta, sem endossar o
pedido considerado abusivo? O objetivo final é é evitar a rejeição das
contas
Aproxima-se a hora de o TCU
decidir, e se as contas da campanha de 2014 forem consideradas
irregulares, caberá ao Congresso pronunciar-se. Como pena máxima, se
assim for decidido, estará a perda de mandato.
A conclusão é de que Dilma
forneceu argumentos para sua degola, mesmo não se tendo certeza do
julgamento final do Tribunal de Contas da União ou da disposição do
Congresso de sacrificá-la. A imagem, realmente, é da missa de réquiem
celebrada pelo defunto, porque da reeleição até agora, a presidente tem
incorrido numa série de erros fundamentais. Negou de pés juntos que
vivíamos uma crise econômica, jurou que inexistiam razões para a volta
da inflação. Prometeu que não reduziria o número de seus ministros.
Desautorizou o ministro da Fazenda, no qual depositara ilimitada
confiança, anulando uma série de iniciativas adotadas por Joaquim Levy e
depois tornadas sem efeito. Obrigou-se a engolir a renuncia do
vice-presidente Michel Temer da condição de coordenador político. Suas
relações com o Lula se deterioraram, ao tempo em que ao menos numa
votação o PT posicionou-se contra ela. Foram várias suas derrotas no
Congresso, culminando com o desembarque do presidente da Câmara. Numa
palavra, graças à chefe do governo, piora a cada dia sua já instável
segurança.
NOMEAR E DEMITIR
Apesar de haver ficado para
o final de janeiro a recomposição ministerial, com a extinção de dez
ministérios, um conselho tem chegado à presidente Dilma, daqueles
praticados por Tancredo Neves quando compunha sua equipe: “jamais nomeie
quem não puder demitir”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário