MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Uma objeção sobre a reforma da estrutura mental da direita: há um jogo interditado para conservadores?

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Em relação ao texto O que fazer para eliminar o hábito mais terrível da direita e começar a conquistar resultados políticos, o leitor Thiago lançou uma objeção que incluo abaixo, para logo em seguida comentar:
O pensamento de um esquerdista é assim: o fim justificam os meios.
O de um direitista conservador é: a verdade é suprema, os valores e a moral estão acima de tudo que possa ser conquistado. Digamos que um conservador cristão prefira a prisão e a morte à relativizar uma verdade moral.
São dois públicos TOTALMENTE DIFERENTES.
Infelizmente, Luciano, eu sou evangélico e posso te garantir que essa “malicia” que você deseja incutir na cabeça dos direitistas só funcionará com alguém não religioso. Na mente de um cristão, até na própria narrativa bíblica, vemos profetas dizendo verdades nuas e cruas a governantes impios. É um contrassenso. Teu argumento pode funcionar para um direitista liberal, mas para um conservador cristão é algo totalmente incompatível, pelo menos é essa impressão que tenho.
As estratégias corriqueiras da esquerda são bem parecidas com as características de demônios trapaceiros, malignos. É totalmente contra a nossa natureza adotar esse formato ardiloso. Os conservadores gostam mesmo é de esfregar a verdade na cara de qualquer um subversivo.
Luciano, você faz um grande trabalho em codificar essas estratégias e apresentar para a direita liberal.
Digamos que os conservadores são SUPER/ULTRA/MEGA apegados a uma “régua moral”, presente em suas consciências e eles não se importam com o juízo que a sociedade fará de seus posicionamentos. Se você conseguir imaginar um cristão sendo devorado por um leão por não negar a Cristo em uma Arena Romana, você então começará a compreender como a mente de um cristão funciona quando condenado pela coletividade da sociedade.
(conservadores) Somos vacinados contra a rejeição do meio social.
Porém, essa Força que nos faz resistentes, não nos permite ser “astutos”, compreende?
A força da esquerda é a mentira, o ardil, o subterfúgio, a ilusão coletiva, o embusteiro argumentativo. Consigo ver um liberal se “armando” dos mesmos métodos em prol de um objetivo comum, mas não consigo enxergar um conservador adotando tal estratégia.
Essa é só a minha impressão. Sempre leio teus argumentos, já estudei alguns textos, mas não posso deixar de transparecer isso que me incomoda. Não é por maldade, é algo automático… posso estar generalizando sobre os conservadores. Talvez uma pequena parte intelectual não seja tanto apegada a fé… mas quem é sente essa incompatibilidade.
Obs: quando me refiro a conservador, me refiro a um que seja de alma (cidadão comum), não a um político profissional.
Acredito que o Thiago se equivoca ao entender erradamente astúcia com desonestidade. Ou mesmo o uso da malícia contra desonestos com desonestidade. Nos dois casos, há um erro gravíssimo, praticamente uma paralaxe cognitiva, ocorrendo o afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real anunciado pelo indivíduo.
Seria um fenômeno de auto-engano coletivo, fruto da modernidade, o que pode ser ocasionado por muitas crenças conflitantes hoje em voga, muitas delas inseridas inclusive por grupos políticos inimigos.
A realidade, porém, desmente essa construção teórica, pois não há nenhuma evidência de que conservadores religiosos (e existem os conservadores não-religiosos também) sejam seres humanos menos funcionais para a vida em sociedade. Na verdade, tendem a ser iguais aos não-conservadores e não-religiosos, em linhas gerais.
Se fosse verdade essa noção de “incapacidade de astúcia” de religiosos, poderíamos demitir hoje mesmo quase todos os funcionários conservadores religiosos que usam sistemas de informação, pois eles seriam extremamente vulneráveis às ameaças de hackers. Por sorte, isso não acontece.
Jogadores de futebol conservadores religiosos também possuem a mesma capacidade de reação às artimanhas do adversários no campo de futebol.
Ademais, se a tese da “incapacidade de astúcia” fosse verdadeira, nenhum conservador religioso poderia ser contratado para profissões como negociador, vendedor, policial, advogado e auditor, dentre várias outras, pois todas essas profissões dependem de astúcia.
Mas, como já disse, a realidade mostra que conservadores religiosos são perfeitamente funcionais. Portanto, são capazes de levar uma vida normal, sem constituírem riscos devastadores para suas sociedades por uma ingenuidade absurda. Isso simplesmente não ocorre.
Na verdade, o que existe é a ingenuidade política especialmente em questões políticas, e especialmente em questões da política pública.
Isso não ocorre por que o esquerdista tem uma capacidade que o conservador não tem. De jeito algum, pois, como já mostrei, se isso fosse verdade nenhum conservador conseguiria sequer emprego, pois constituiria riscos absurdos para as empresas que os contratassem.
Essa deficiência, ou seja a ingenuidade política, é limitada a um escopo de eventos: os eventos relacionados à política pública. É neste escopo que tanto muitos liberais como muitos conservadores caem feito patinhos, não por incapacidade de serem astutos, mas por uma deficiência em termos de treinamento em como funciona a política.
E que fique bem claro: isso talvez tenha mais a ver com liberais do que com conservadores. Vemos vários autores liberais manifestando boas ideias econômicas, mas ingênuos politicamente. Olavo de Carvalho é um católico e ensina muitas coisas sobre aniquilações de ingenuidades. Portanto, essa “trava” mais em conservadores do que liberais parece não existir.
Ora, se os conservadores religiosos são seres humanos plenamente funcionais como os não-conservadores e não-religiosos, não há um motivo para acreditarmos que eles estão incapacitados de entender a política como ela é, e reagir aos eventos políticos da maneira mais adequada.
Podemos apostar, no entanto, em uma crença de muitas pessoas da direita de que eles não conseguirão jogar o jogo, pois notam que o adversário realmente é muito mais astuto. Mas essa é apenas uma questão de preparação.
Esse é o processo mais doloroso: se preparar para reagir aos eventos políticos, mas não há nada que uma conscientização (com termos fortes) não resolva com o tempo.
Vários leitores conservadores religiosos tem conseguido obter ótimos resultados reagindo politicamente aos eventos do mundo e, de todos os testemunhos que recebi, até agora não vi nenhum dizendo ter se arrependido. Na verdade, muitos se arrependem de ter demorado para fazer esse tipo de assimilação.
Então, Thiago, uma palavra final: até que tenhamos informações específicas sobre você, o fato de você ser religioso não impede que você seja um ser humano normal, plenamente funcional para as atividades sociais de todo tipo, inclusive profissionais. Tendo essas características, tem pleno potencial para assimilar os conceitos e as práticas da guerra política e, enfim, se tornar invulnerável aos ataques da extrema-esquerda.
A tal “trava” que impediria um conservador religioso de aceitar e entender a guerra política simplesmente não existe. Porém, a crença na existência dessa trava pode ser um forte impeditivo para o desenvolvimento da consciência política de qualquer um.

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