MEDIÇÃO DE TERRA

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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Agricultores fazem fila para depor sobre escândalo do Pronaf


Câmara de Vereadores da cidade começou a receber pessoas que se dizem lesadas no esquema

ZERO HORA
Agricultores fazem fila para depor sobre escândalo do Pronaf Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Santa Cruz do Sul está em ebulição. A Câmara de Vereadores começou a receber na manhã desta sexta-feira levas de pequenos agricultores endividados, que dizem terem sido logrados num golpe envolvendo o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Os lesados fazem fila para prestar depoimento no plenarinho, onde são ouvidos de forma sigilosa, porque a maioria teme represálias pelo fato de fazerem denúncias. À tarde os depoimentos serão tomados numa audiência pública organizada pela Câmara Federal e Senado. O encontro, com presença de deputados, será no auditório da Faculdade Dom Alberto, no centro de Santa Cruz.
Os denunciantes dizem ter sido lesados pela Associação Santa-Cruzense dos Agricultores Camponeses (Aspac), entidade ligada ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e apontada pela PF como líder de um esquema fraudulento. Conforme inquérito, a Aspac intermediava contratos dos filiados com o Banco do Brasil (BB), para obter financiamentos do Pronaf. O dinheiro liberado, em alguns casos, parava nas contas da própria associação, e parte seria repassada a contas particulares de dirigentes da entidade – sem que os agricultores soubessem. Muitos desses colonos, mesmo sem receber os financiamentos, ficaram endividados e seus nomes foram parar na Serasa (serviço de consulta de crédito usado pelos bancos), como devedores.



A PF rastreou 26 mil depósitos que passaram por 107 contas ligadas a dirigentes ou funcionários da Aspac. A suspeita é que R$ 79 milhões possa ter sido o valor envolvido no golpe, entre 2006 e 2012. O golpe atingiu Santa Cruz e outras cidades do Vale do Rio Pardo.
Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS
Um dos agricultores que se diz vítima e topa mostrar o rosto é Edgar Rubin Woll, de Santa Cruz do Sul. Ele diz ter acertado financiamento do Pronaf, de R$ 15 mil, para comprar um trator usado. Em 25 de abril de 2012, foi ao Banco do Brasil e soube, por funcionários, que o dinheiro tinha entrado em sua conta — inclusive tirou extrato mostrando isso. Quando tentou sacar, o dinheiro não estava mais.
— Decidi cobrar do pessoal da Aspac e do gerente do banco. Eles disseram que era engano, que o dinheiro não tinha entrado na conta. Quando reclamei, me puseram para fora e sugeriram que eu procurasse meus direitos — reclama Woll, que ingressou com ação judicial por perdas materiais, contra o BB e a Aspac. Ele conseguiu liminar para tirar seu nome da Serasa - do contrário, não conseguiria mais financiar a lavoura.
Bem pior é a situação do casal M. e R., agricultores de Linha Eugênio, interior de Santa Cruz do Sul. Eles dizem que toda a família foi lesada no golpe do Pronaf, em mais de R$ 100 mil: o agricultor, sua mulher e um casal de filhos adultos. Todos tiraram financiamento, intermediado pela Aspac.
— Só recebi R$ 1 mil depois de muito reclamar, embora tenham tirado no meu nome um empréstimo de R$ 16 mil e outro de R$ 5 mil. O filho tirou R$ 36 mil e, quando não recebeu e soube que estava com nome no Serasa, tentou se matar. Ele não consegue emprego, porque tá na lista dos endividados em banco — diz M., que toma medicamentos para conseguir dormir.
O casal diz que reclamou para um vereador, ligado ao MPA e à Aspac, que prometeu ajuda. Até hoje esperam.


A audiência atraiu a Santa Cruz do Sul agricultores até de outras regiões do Estado. Um grupo de Amaral Ferrador (Metade Sul do Estado) compareceu para denunciar outro tipo de golpe envolvendo o Pronaf. São 76 agricultores que contraíram financiamentos e, junto com eles, pagaram seguros de vida. O pagamento foi feito para pessoas que eles dizem serem ligadas ao MPA e que intermediavam os empréstimos.
O problema é que o dinheiro dos seguros não foi repassado ao banco e, quando algumas viúvas tentaram receber valores relativos ao companheiro morto, descobriram que estavam sem cobertura securitária. Isso está em denúncia oferecida pelo promotor de Justiça Cláudio Rafael Morosin Rodrigues, de Encruzilhada do Sul, contra três pessoas que intermediavam os seguros do Pronaf em Amaral Ferrador. O número de lesados pode ser de 600, equivalente ao de seguros feitos.
A audiência especial dos deputados em Santa Cruz começa às 14h e mais casos são esperados.
* Zero Hora

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