MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Agricultor com doença de Wilson não encontra medicação para tratamento


Medicamento específico para tratamento está em falta no Brasil.
'Os comprimidos devem durar 10 dias. Depois não sei como será', diz paciente.

Jonatas Boni Do G1 RO

Jovem descobriu doença de Wilson há seis meses (Foto: Jonatas Boni)Jovem descobriu doença de Wilson há seis meses
(Foto: Jonatas Boni)
Por causa da falta de remédios específicos, o agricultor Augusto Alves Fernandes, de 27 anos, que é portador da doença de Wilson, pode sofrer sequelas. Morador da zona rural do município de Cerejeiras (RO), o agricultor não recebeu, no mês de setembro, o remédio que é distribuído pelo Governo do Estado do Ceará. “O fígado dele está com cirrose, então a falta desta medicação pode continuar impregnando em outros órgãos do corpo”, explica Manuella Bastos Cândido, médica que acompanha o tratamento de Augusto sobre a falta do medicamento.
Segundo Manuella, a doença de Wilson se dá pelo acúmulo de cobre nos tecidos, o que provoca alterações no cérebro, fígado, rins e olhos. O tratamento auxilia apenas no controle da doença, já que não tem cura. Uma das sequelas causadas pela doença é o atrofiamento dos músculos e a limitação de alguns movimentos do corpo. Augusto já apresentou alguns destes sintomas, segundo relatório médico, como, por exemplo, a fala arrastada.
Por causa do alto custo do remédio, indicado pelos médicos, a família recorreu a Defensoria Pública de Rondônia para conseguir a medicação gratuitamente. Apesar do posicionamento favorável da Justiça, não foi possível comprar o medicamento no estado.
Augusto explica que descobriu a doença há seis meses. “Fiquei internado por quase 60 dias, 30 deles na UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Fiz vários exames, mas ninguém descobria o que era”, detalha. O agricultor diz que o sofrimento ocorre desde outubro de 2012. Ao dar entrada no hospital de Cerejeiras, Augusto foi encaminhado para Vilhena (RO) e logo em seguida para Porto Velho. Já era visível o problema nos fígados, mas os médicos não descobriam qual era causa.
Preocupado com a vida do agricultor, um amigo de Augusto, Altamiro Lemes, o levou até Fortaleza para o tratamento médico, após saber que na cidade havia um centro de tratamento para o mesmo tipo da doença de Augusto. No estado cearense, Augusto conseguiu se cadastrar e passou a receber gratuitamente a medicação. De acordo com o agricultor, até o mês de agosto o medicamento estava sendo enviado sem atrasos, através dos Correios. “Já neste mês tudo mudou. Não recebemos e agora os comprimidos estão no final”, explica.
Segundo Altamiro, ao entrar em contato com a Coordenadoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (COASF) foi informado sobre a falta da medicação em todo território nacional. Em contato com o órgão distribuidor, uma funcionária disse ao G1 que o processo está tramitando em Brasília e que o bloqueio da comercialização do remédio é devido a uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em nota, a Anvisa informou que o fabricante do Cumprimine mudou o endereço de fabricação para o Canadá. Como esta mudança poderia influenciar diretamente na qualidade dos produtos, o órgão impôs novas exigências ao laboratório responsável. De acordo com a Anvisa, as normas foram cumpridas pela empresa no mês de julho, conforme publicação do Diário Oficial da União (DOU). A agência nacional ressalta que não se tratou de um bloqueio especifico de um lote do Cumprimine, mas sim de uma validação da nova fábrica. O G1 entrou em contato com a empresa fabricante para ver a fabricação da medicação, mas não obteve retorno.
Augusto enviou nova solicitação para recebimento do remédio para a Secretaria de Estado da Saúde de Rondônia (Sesau), mas o pedido foi negado. “Como eu pegava remédio no Ceará, eles disseram que não era permitido cadastro em duas secretarias”, explica.
Dono de farmácia que venceu licitação diz que distribuidoras não tem estoque do remédio (Foto: Jonatas Boni)Farmacêutico diz que distribuidoras não tem estoque
do remédio (Foto: Jonatas Boni)
A secretaria regional de Saúde, em Vilhena, explicou que o remédio também está em falta no estado, mas não informou o motivo. Nas farmácias privadas, farmacêuticos dizem já ter trabalhado com este produto, mas por conta da baixa procura e do alto preço, média de R$ 300 a caixa, as empresas preferem não fazer o pedido, a não ser que o cliente se comprometa a comprar mensalmente a medicação no estabelecimento.
Desde o início do tratamento, Augusto conseguiu comprar o remédio em farmácia particular apenas duas vezes. “Quando passei por São Paulo, consegui achá-lo”, afirma. Os demais medicamentos, oito tipos, indicados para o tratamento da doença, são fornecidos pela prefeitura de Cerejeiras.
Os comprimidos devem durar mais dez dias. Depois não sei como será"
Augusto Alves, agricultor
Rotina
Temendo perder os movimentos ou até mesmo morrer, caso o remédio acabe na próxima semana, Augusto afirma tentar levar a vida da maneira que pode. Segundo o agricultor, para economizar, chegou a reduzir a quantidade de cápsulas ingeridas diariamente. A médica receitou 120 comprimidos ao mês, mas cada caixa do produto possui 100 cápsulas.
Sem força para fazer caminhadas longas pelo sítio, Augusto passa boa parte do dia dentro da casa onde mora, junto com os pais. O agricultor diz que espera com ansiedade a chance de fazer o transplante de fígado em Fortaleza. Mas isso só deve acontecer após uma melhora no quadro de saúde.
De acordo com a mãe de Augusto, Agustina Alves Fernandes, de 65 anos, Augusto está com cirrose, anemia e hepatite. Devido a todas estas enfermidades, ela precisa fazer uma comida totalmente diferente; nada de óleo e sal no arroz e feijão, por exemplo. “Todo o cuidado é pouco agora, pois se não a cirurgia não vai dar certo”, relata.
Entre exames médicos, viagens e demais despesas com remédios, a família de Augusto gasta uma média de R$ 2 mil por mês. Se não ganhasse uma parte dos medicamentos, o gasto seria o dobro, finaliza Augusto.

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