Artista que fazia obra em madeira deixou um legado e muitos seguidores.
Famílias inteiras são sustentadas com a técnica ensinada pelo mestre.
Esculturas de diversos tamanhos tomam conta das salas do Museu Manoel da Marinheira (Foto: Jonathan Lins/G1)
O artista, do município de Boca da Mata, distante 80 km de Maceió,
e com 25.776 mil habitantes, faleceu no ano passado, mas deixou um
legado na arte popular e muitos seguidores. Homem de poucas palavras ele
se tornou conhecido por apreciadores do Brasil e do mundo.
Manoel da Marinheira e os filhos Severino e Antônio. (Foto: Arquivo pessoal/ Família Marinheira)
Pai de 20 filhos, 10 do primeiro casamento e 10 do segundo. Cinco deles
herdaram o talento do pai de esculpir madeira. O nome Marinheira surgiu
logo no nascimento. Quando seu pai chegou em um navio vindo da Alemanha
e se apaixonou pela mãe de Manoel. Então ela ficou conhecida como
Marinheira e quando o primogênito nasceu ficou Manoel da Marinheira.
André da Marinheira talha madeira que se tranformará em um banco encomendado por um cliente do Piauí. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Mas para sustentar duas famílias, o artista não conseguia viver de sua
arte e durante anos e anos trabalhou na roça e nos canaviais da região.
No entanto seu talento como artista era tamanho que encantou o usineiro
Jorge Tenório que passou a residir em Boca da Mata, na década de 60, e a
colecionar suas peças.
A primeira escultura de Manoel da Marinheira foi
este coelho que está exposto no museu que leva
seu nome. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Mas foi na década de 70, quando o fotógrafo Celso Brandão e o artista
plástico Fernando Lopes conheceram o escultor, que o trabalho de Manoel
da Marinheira ganhou mais visibilidade. Eles começaram a divulgar as
obras junto a artistas e intelectuais da época.este coelho que está exposto no museu que leva
seu nome. (Foto: Jonathan Lins/G1)
Daí em diante as obras de Manoel da Marinheira ganharam o mundo. Hoje tem peças nos Estados Unidos e em muitos países da Europa.
Assim como seu pai, Manoel da Marinheira também incentivou os filhos que se interessavam pela arte. Antônio, Maria Cícera e Severino são filhos do primeiro casamento. Os três são surdos e mudos e encontraram na arte a melhor forma de expressão. Maria Cícera, a única mulher que seguiu os passos do pai, faz imagens sacras como o avó. E Antônio e Severino esculturas de animais como o pai.
Esculturas de Maria Cícera, única filha de Manoel da Marinheira que seguiu os passos do pai. (Foto: Jonathan Lins/G1)
A esposa de Severino, Dete Barros, 42, diz que a família vive de sua
arte. Ela é ''tradutora'' de Severino e é quem cuida das encomendas e
das participações em feiras do artesão. "Acho que a família poderia se
unir mais para divulgar o trabalho, isso já aconteceu no passado, mas
hoje está cada um por si. Como Severino não fala, fica mais difícil a
comunicação em feiras e exposições, mas temos muitos clientes antigos
que sempre compram", diz.O ateliê dele é na garagem da casa onde vive, bem próximo a entrada de Boca da Mata. Um local improvisado, mas de onde sai peças magníficas e bem similares as que eram esculpidas pelo pai, que são mais rústicas. Todos os trabalhos são realizados com madeira da Jaqueira, que não é controlada de forma ambiental e que depois de alguns anos para de dar frutos.
Manoel da Marinheira Filho e André da Marinheira são os filhos do segundo casamento que seguem a arte do pai. Hoje, eles são convidados para feiras e exposições em todo país.
Dona
Maria Genaci segura o tatu esculpido pelo marido; única peça de Manoel
da Marinheira que a família guardou. (Foto: Jonathan Lins/G1)
André acabou de participar da Fenearte em Pernambuco e agora está
produzindo peças para atender as encomendas feitas por lá. Ele também
trabalha em um local bem simples, em Boca da Mata, mas tem um ajudante. O
artista diz que já ensinou o ofício a mais de 15 pessoas, que ele chama
de discípulos. "Ensinar é uma forma que eu vejo de divulgar e também de
disseminar nosso trabalho. Hoje tem artistas que aprenderam comigo e
que já estão ganhando dinheiro com suas peças", diz.André da Marinheira também sustenta sua família com as peças que cria, mas ele diz que não quer receber muitas encomendas. Uma peça dele pode valer R$ 200, se for uma miniatura e pode chegar a R$ 30.000. Os bancos, com detalhes de cabeças de animais nas pontas, mais encomendados atualmente, variam de R$ 2.000 a R$ 4.000 "Conheci um artesão que tem encomendas até 2020, eu não quero isso. Prefiro ir devagar, fazer menos peças para não me estressar e ter condições de criar coisas novas", diz André que adaptou o trabalho do pai e faz peças com um acabamento diferenciado.
A viúva de Manoel da Marinheira, Maria Genaci Peixoto Barbosa, 63, viveu 47 anos ao lado dele. Ela mora bem pertinho de onde André da Marinheira faz suas esculturas. "É o mesmo que ver ele [Manoel] aqui trabalhando. Ele adorava o que fazia. Ele trabalhava na roça e depois fazia os 'bichinhos' dele", diz.
Manoel da Marinheira morreu aos 95 anos, em maio de 2012, mas ele parou de esculpir aos 80 anos quando teve glaucoma e perdeu a visão. Das centenas de peças que ele produziu a família só ficou com um tatu.
Mas muitas das obras dele estão no Museu Manoel da Marinheira criado pelo usineiro Jorge Tenório. Hoje o colecionador é o principal comprador de obras de madeira talhada de Boca da Mata. Ele não tem peças só da família da Marinheira, mas como de outros artistas que aprenderam o ofício e hoje fazem um belo trabalho.
Museu Manoel da Marinheira possui sala com esculturas em miniatura. (Foto: Jonathan Lins/G1)
O acervo tem mais de 1.000 peças. Quem cuida de tudo e com muito
carinho, desde 2007, é o Everaldo dos Santos Silva. O Museu Manoel da
Marinheira fica situado no balneário Águas de São Bento, na Fazenda
Moreira, em Boca da Mata. Abre de segunda a sexta-feira das 8h às 17h. É
possível agendar visitas ao balneário. O passeio com café da manhã e
almoço sai por R$ 38,00. Mais informações no site www.aguasdesaobento.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário