Ranulfo Bocayuva A TARDE
Somente esta semana, a Editora Abril demitiu 120 funcionários; o Grupo Estado cortou 31 das 66 vagas do seu portal; o "New York Times" anunciou plano para 30 demissões voluntárias até 24 de janeiro; o "Financial Times" alemão encerrou sua circulação estampando ontem na sua manchete "Final Times"; e o jornal "El País" rescindiu contrato de 110 jornalistas para enfrentar queda de suas receitas publicitárias e vendas de exemplares em consequência da forte recessão espanhola.
A partir de janeiro de 2013, a revista americana "Newsweek", que acumulava dívidas de US$ 30 milhões (o equivalente a cerca de R$ 60 milhões), só poderá ser lida na internet. Apesar do otimismo de sua editora-chefe Tina Brown, nada garante o sucesso automático da transposição da marca forte para o mundo online, onde já existem modelos de jornalismo estabelecidos com notícias em tempo real, análises sérias, contextualizações objetivas e opinião de colunistas, professores e escritores conhecidos.
Além disso, o cidadão, por meio das redes sociais, quer cada vez mais opinar e se engajar. Mas não se pode confundir o que significa informação apurada e opinião. Trata-se de diferença crucial, que não pode ser ignorada no mundo da overdose de informação, no qual futilidades e inutilidades enchem os cérebros. Cada grupo de comunicação terá que escolher inevitavelmente caminhos arriscados e soluções inovadoras para se adaptar às consequências da crise, que se alastra nos
Estados Unidos e Europa, sem esquecer de atender às novas exigências de mercado leitor e publicitário em plena mutação devido à oferta de novos meios digitais.
A questão não é o meio (TV, internet, rádio ou jornais), mas a informação, ou seja, a mensagem, como já dizia o mestre visionário Marshall McLuhan, autor do conceito "aldeia global", há 50 anos. Paralelamente às dificuldades econômicas, esgotamento de modelo editorial e concorrência dos portais de notícias e blogs, que muitas vezes oferecem notícias gratuitas sem pagamento de direitos autorais aos produtores da informação, há clara tentativa de cercear a liberdade de imprensa por meio de lei e ausência de publicidade oficial, como é o caso atual na Argentina.
O Grupo Clarín, o maior conglomerado argentino de mídia, enfrenta, desde 2008, batalha contra o governo de Cristina Kirchner porque o jornal se colocou contra o
aumento dos impostos de exportação dos produtos agrícolas. Relatório da jornalista Sara Higuera, do Comitê para Proteção dos Jornalistas (www.cpj.org), salienta que o maior perdedor neste confronto é o jornalismo.
De um lado, são frequentes as denúncias de casos de corrupção ou de apresentação de falsas estatísticas de inflação, e, por outro, o governo acusa o "Clarín" de defender os próprios interesses, já que era um dos organizadores da Expoagro, principal feira agropecuária no país. Embora a nova Lei de Meios tenha como objetivo desconcentrar e desmonopolizar o setor de comunicações, proposta positiva do ponto de vista do pluralismo e da igualdade, teme-se que a "mídia amiga" seja beneficiada com as concessões. Com o adiamento da aplicação da lei, que deveria ter entrado em vigor ontem, a batalha continua até que seja decidida a sua constitucionalidade ou não.
Seja qual for a plataforma, digital ou impressa, jornais devem, obviamente, diversificar suas marcas e qualificar seus produtos sem esquecer suas maiores conquistas:
credibilidade e independência. A informação não pertence nem aos jornais e nem aos governos e sim à sociedade.
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