Rotina dos tratadores começa antes de o sol nascer e se encerra à noite.
Mas em meio às lidas do dia a dia, também há espaço para diversão.
Deixar os animais com o pelo reluzente exige dedicação dos peões (Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini)
Quem vê cavalos, touros e ovelhas impecáveis na Expointer, talvez não imagine o trabalho que dá cuidar desses animais. Para garantir que as estrelas da feira agropecuária realizada em Esteio brilhem, um batalhão de anônimos dá duro durante horas a fio. São os peões, essenciais para tratar do rebanho de 7.927 animais inscritos no evento.Eles são centenas, espelhados por todo o Parque de Exposições Assis Brasil. Cerca de 250 dormem no alojamento provisório montado em um canto do parque. Outros se instalam em caminhões, trailers, motorhomes e até mesmo em barracas. Desde 2008, por determinação do Ministério Público do Trabalho, os tratadores estão proibidos de passar a noite dentro de galpões ou pavilhões da feira, junto dos animais.
Como nas estâncias, a lida diária dos peões começa cedo, antes do sol nascer. A maioria está de pé por volta das 5h. Só em dias de julgamentos ou leilões, eles precisam levantar cerca de 1h30 antes, para dar aquela caprichada no visual dos bichos. O tratamento de beleza inclui banho, corte, escovamento e secamento dos pelos, entre outros cuidados. Alguns passam até óleo para dar brilho.
“Eles precisam ficar bonitos para o povo olhar”, explica o tratador Nilmar Nassur, de 30 anos, que trabalha para a Cabanha Cezar, de Esmeralda, cidade do nordeste gaúcho, próxima a Vacaria.
Victor Rodrigues já perdeu a conta de quantas
Expointer participou (Foto: Márcio Luiz/G1)
Depois de limpos, os animais são alimentados com feno, ração ou um “verde”. De barriga cheia, eles são levados para um passeio pelo parque, para não ficarem parados nos boxes ou pavilhões. A vigilância dos peões é mantida durante todo o dia. De pá e carrinhos de mão ou baldes, eles recolhem o esterco das baias, para que os animais não voltem a se sujar. No caso do gado da cabanha de Nilmar, da raça charolês, de pelo branco, não precisa muito para causar um tremendo estrago.Expointer participou (Foto: Márcio Luiz/G1)
Pela primeira vez na Expointer, Nilmar foi contratado temporariamente pelo patrão da cabanha. Vai receber em torno de R$ 1 mil por cerca de 15 dias de trabalho. Além dos nove dias de feira, ele chegou um pouco antes, para dar tempo de o gado se acostumar com ele. “É um ganho extra bom”, diz o peão, que se mantém trabalhando em outras feiras menores pelo estado e em fazendas de sua cidade natal e arredores.
Já Victor Mateus Rodrigues, 35 anos, é funcionário fixo da Fazenda Santa Clara, de Rosário do Sul, na Região da Campanha. Não ganha nenhum adicional para trabalhar na Expointer. Como Nilmar, ele também levanta cedo e encerra o expediente à noite, por volta das 21h. Mesmo assim, ele diz que gosta de trabalhar na feira. “É bom vir para cá, a gente também se diverte um pouco”, conta.
Victor já perdeu a conta de quantas exposições participou nos 11 anos que trabalha como peão. Ele diz que o trabalho na feira é menos intenso do que na fazenda, mas lá o expediente encerra algumas horas antes, durante a tarde. A única queixa do peão é o longo período longe da mulher Luciele e do filho Rodrigo, de 15 anos. “De vez em quando bate uma saudade”, confessa o tratador.
Em meio a lida diária, peões também encontram tempo para prosear durante o churrasco ou rodas de
chimarrão e de viola (Foto: Montagem sobre fotos de Eduardo Seidl e Camila Domingues/Palácio Piratini)
Mas nem só de trabalho duro é feita a rotina diária dos peões na Expointer. Nas poucas horas de folga, há algum espaço para momentos de lazer. É o modo que muitos encontram para esquecer a distância da família. É comum vê-los reunidos proseando em torno do churrasco, carreteiro ou chimarrão. Ninguém dispensa um bom trago, bom para espantar o frio.chimarrão e de viola (Foto: Montagem sobre fotos de Eduardo Seidl e Camila Domingues/Palácio Piratini)
Durante o dia, os peões passeiam pelo parque para assistir a competições como o Freio de Ouro ou dar uma olhada no agito da feira. Também conferem os produtos gaudérios vendidos nos estandes, embora os preços não sejam tão convidativos. Quando a noite cai, muitos ainda encontram disposição para participar de rodas de viola, bailes ou shows. Hábitos simples da vida no campo, reproduzidas na cidade grande.
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