Em 2011, bloco econômico enfrentou desconfiança do mercado.
Economista vê sobrevivência da moeda no longo prazo.
(Veja no vídeo acima, divulgado pelo BCE: como as notas de euro são fabricadas)
Atualmente, a moeda corre riscos. Mais de 332 milhões de pessoas usam o euro – são cerca de 870 bilhões de euros em notas e moedas em circulação, segundo o Banco Central Europeu (BCE). Ao longo de seus dez anos de existência, outros cinco países o adotaram: Eslovênia (2007), Chipre (2008), Malta (2008), Eslováquia (2009) e Estônia (2009).
A falta de confiança na eurozona e no próprio euro, no entanto, colocou em dúvida sua viabilidade e ameaça sua sobrevivência.
As dúvidas são alimentadas pelos augúrios sombrios de analistas, agências de medição de risco e personalidades europeias, como o primeiro presidente da Comissão Europeia e um dos arquitetos do euro, Jacques Delors, chegou a afirmar que a eurozona e sua moeda estão 'à beira do precipício'.
Os investidores reduziram sua exposição à zona do euro e se cansaram das inúmeras cúpulas europeias. Comissão Europeia, FMI, Banco Central Europeu e com força cada vez maior, a Alemanha, vão moldando um novo modelo de salvação que, apesar das contínuas reuniões, ainda parece muito nebuloso.
Acho que temos uma história de sucesso. A zona do euro talvez seja a primeira grande integração econômica"
Roberto Padovani
Votorantim Corretora
Votorantim Corretora
O maior risco de “deserção” parece vir da Grécia. O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida supera, em muito, o limite de 60% do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade assinado pelo país para fazer parte do euro. E a impossibilidade de desvalorizar a moeda e, assim, favorecer as exportações do país, dificulta a recuperação grega.
A Grécia vem sendo pressionada para colocar suas contas em ordem, e tem recebido sucessivas ajudas bilionárias dos demais países do bloco. O temor é que um calote da dívida grega estimule outros países também altamente endividados, como Irlanda e Portugal, a fazerem o mesmo, abalando a confiança no euro e tornando mais cara a rolagem de dívidas dos países que usam a moeda.
Um fim do euro seria uma catástrofe para os bancos europeus, e faria com que, por sua vez, a inflação e o desemprego disparassem, advertem os economistas. No caso de um país como a Grécia decidir sair da união monetária, sua própria moeda, neste caso o dracma, registraria imediatamente uma forte desvalorização. E os detentores da dívida grega sofreriam grandes perdas. O mesmo ocorreria em cada país que abandonar o euro.
O "fim do euro seria o fim da Europa", advertiu o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Futuro da moeda
Na avaliação de Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, o medo sobre o possível fim da moeda única pode refletir apenas uma ansiedade do mercado financeiro, que trabalha com análises de curto prazo. Para ele, de uma perspectiva histórica, o que se vê é um avanço para a moeda, não um retrocesso.
Em 1º de janeiro de 2012 faz dez anos que o euro começou a circular. (Foto: Divulgação Banco Central Europeu)
“Há muita ansiedade no curto prazo porque é difícil enxergar como essa agenda de longo prazo vai evoluir. É normal que os mercados financeiros fiquem ansiosos e isso gere análises de ruptura.” Padovani explica que os mercados financeiros globais, por definição, operam com dados de curto prazo.“A zona do euro reflete um grande avanço institucional – e como qualquer avanço é de longo prazo e feito a partir de conflitos. A crise é mais uma etapa, é um incentivo para avanços institucionais – que, na minha opinião, demorariam se não fosse ela.”, diz Padovani.
O especialista avalia que os custos econômicos de um retrocesso seriam muito mais altos. “Existe um consenso político de que é preciso avançar e não retroceder”, lembra Padovani.
A logo do euro é projetada na ponte Pont Neuf, iluminada com luz azul, em 1º de janeiro de 2002. (Foto: Mal Langsdon/Reuters)
Para o coordenador do curso de negócios internacionais e comercio exterior do Programa de educação Continuada da Fundação Getulio Vargas (GV-PEC), Evaldo Alves, o caminho daqui para a frente não deve ser a ruptura da moeda, mas sim a chegada a um consenso sobre tem tomará as decisões no bloco econômico e quem pagará a conta – lembrando que, muito provavelmente, a última parte sobrará para a Alemanha. “Hoje até a França não consegue mais bancar”, avaliou.Na avaliação de Alves, os próprios moldes com que a moeda única foi criada dificultam uma saída de países como a Grécia do bloco.
“Pela lógica, os países que não cumpriram o mínimo de desempenho de uma lógica de mercado deveriam sair. Só que na União Europeia é tudo mais complicado, porque as decisões têm que ser aprovadas em consenso. Todos têm que aprovar. Imagina na hora que coloca isso em debate”, avalia.
Vendedor exibe anúncio na loja em 9 de janeiro de 2002, no centro da cidade de Toulouse, na França: primeiro dia das vendas de inverno em euros. (Foto: Eric Cabanis/AFP)
Ainda na opinião de Alves, a criação do euro foi tecnicamente correta, mas o problema é de gestão. “Não houve aumento da produtividade na União Europeia. Foi um belíssimo esforço institucional, foi um sucesso do ponto de vista institucional (...), mas já tem uns 15 anos que esses dois grupos, os Estados Unidos e a União Europeia, não vem aumentando a produtividade”, diz, lembrando a exceção nos EUA em relação à área de tecnologia da informação.Além da questão da produtividade, o especialista cita ainda a questão fiscal como um dos problemas. “[Na criação de blocos] é preciso manter a economia saudável. Países menores começaram a ter déficit fiscal e hoje outros países da Europa têm um déficit fiscal fantástico”, disse.
CriaçãoPadovani avalia que a lógica da zona do euro foi baseada em questões política e econômica.
“A ideia do euro era essa: harmonização política e integração comercial. Acho que temos uma história de sucesso. A zona do euro talvez seja a primeira grande integração econômica.”
Para Padovani, o fato de determinados países – como Alemanha e França – abrirem mão de moedas fortes em favor de uma moeda comum não pode deixar de ser considerado um marco simbólico. “Para chegar a uma moeda única precisamos de décadas de negociação, de transação. A gente está no meio deste processo.”
Imagem de uma nota de euro divulgada pelo Banco Central Europeu. (Foto: Divulgação Banco Central Europeu)
Desafios da moedaO primeiro desafio, segundo ele, foi o de implementar a moeda e criar regras comuns. “O próximo desafio é aprofundar a integração, permitindo maior mobilidade de mão de obra. A mobilidade que se tem hoje na Europa não é plena", destaca."O segundo desafio, também de longo prazo, é fazer com que a produtividade de cada país seja mais próxima, mas para que isso aconteça é preciso que os países façam reformas importantes.”
O terceiro desafio, que, na opinião de Padovani já está em curso, é impor regras fiscais mais rígidas. “Acredito que a rigidez de regras deve ser não só com relação ao tamanho do ajuste requerido por parte dos países, mas também quanto às penalidades em caso de não cumprimento.”
Emergentes
O resultado disso tudo é que países emergentes tem tido possibilidades de crescimento. “Nesta questão de equilíbrio fiscal nós já aprendemos, temos até uma lei de responsabilidade fiscal. Aumentamos um pouco nossa produtividade, como no agronegócio, mas tem outros que são mais eficientes do que nós, como a China”, avalia.
No ponto de vista de Alves, a Europa vai demorar uns dez anos para fazer os ajustes necessários. “Eles vão demorar bastante tempo para retomar a produtividade e cair na lógica capitalista”, sugeriu.
Nascimento da moeda
Três anos antes de sua entrada em circulação, o euro, criado como última etapa do processo de integração europeia iniciado após a Segunda Guerra Mundial, já existia como moeda “invisível”, usada em operações contábeis, como pagamentos eletrônicos. Mas a moeda “física” já vinha sendo preparada desde 1996, quando foi feito um concurso para o desenho das notas.
Os alemães rejeitaram o euro desde o início, já que o marco alemão, introduzido em 1948 em substituição ao Reichsmark, tinha sido um símbolo da estabilidade e pujança econômica da Alemanha.
Em julho de 1999, deu-se início à produção das notas e moedas. Em dois anos e meio, 15 fábricas haviam produzido 14,9 bilhões de notas e 52 bilhões de moedas. Em apenas dois meses, de 1º de janeiro a 1º de março de 2002, já haviam substituído mais de 6 bilhões de notas e 30 bilhões de moedas dos países membros da zona do euro: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda Itália, Luxemburgo, Holanda e Portugal.
Cada país “fabrica”, sob controle do BCE, suas próprias divisas. As moedas têm, assim, uma face “europeia”, que traz um mapa da Europa, e uma face “nacional”, com símbolos escolhidos por cada país.
Com informações do Jornal da Globo, da AFP e da EFE
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