MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 27 de novembro de 2011

Criação de cordeiros é feita sem o uso de medicamentos convencionais

 

Propriedade trabalha para colocar no mercado um cordeiro precoce.
Animais são criados em consórcio com a romã.

Do Globo Rural
A Fazenda Águas da Tamanduá tem o desafio de engordar cordeiros sem usar tratamentos nem alimentos convencionais em pleno sertão do Nordeste. A segunda parte da reportagem explica como é feito o manejo de um rebanho orgânico.
A fazenda trabalha para colocar no mercado um cordeiro precoce, abatido aos quatro meses de idade. Os animais são criados em consórcio com a romã.
“Com toda a biodiversidade, a ovelha pode beliscar acidentalmente uma folhinha, mas, imediatamente, ela desiste. Não é atrativo pra ela”, diz o veterinário Alan Glaybon.
O veterinário Alan Glaybon, responsável pela criação, explica que a biodiversidade está no pasto nativo, uma mistura de gramíneas e leguminosas que aparece naturalmente, aproveitando a adubação e a irrigação da romã. “Há uma gama de espécies leguminosas e gramíneas nativas, que apresentam um valor nutritivo elevado, com teores de proteína oscilando de 15 a 20 ou até mais do que isso, o que supre por completo as exigências de algumas categorias das ovelhas”, esclarece.
O pasto também traz benefício para a romã porque as leguminosas têm capacidade de retirar nitrogênio do ar e transferir para o solo, funcionando como adubo.
Seguindo o conceito da sustentabilidade, as áreas de pastejo são delimitadas por cercas elétricas abastecidas com energia solar. De mamando a caducando, o plantel da fazenda tem perto de mil animais mestiços, que são o resultado do cruzamento das raças santa inês e dorper.
Na propriedade se trabalha com monta natural. Basta soltar os carneiros no meio das ovelhas que o cruzamento acontece rapidamente. Cada estação de monta dura 45 dias. Ao final desse período é dado um descanso de 25 dias para só então recomeçar uma nova estação. Isso vai se sucedendo ao longo do ano. Essa foi a maneira encontrada para ter cordeiro para abate o ano todo.
A maior parte do rebanho passa o dia no campo e só volta para o aprisco no final da tarde. As ovelhas que vão parir são confinadas em uma maternidade. “Elas passam 15 dias confinadas até o parto. Depois de paridas, elas ficam mais 15 dias neste lugar”, diz o veterinário Alan Glaybon.
Antes da entrada de um novo lote de ovelhas, a maternidade é limpa e desinfetada com vassoura de fogo e uma solução de iodo. O ambiente também é confortável, com área coberta, água, sal mineral e alimento à vontade. Na média, as ovelhas criam quase três cordeiros a cada dois anos.
Aos 15 dias de vida os cordeiros são separados das mães e vão para uma baia, onde já têm acesso a outros alimentos. As ovelhas vão paro campo e voltam três vezes por dia para amamentar as crias. Essa é a chamada mamada controlada. Conforme os cordeiros vão crescendo, as mamadas diminuem.
Os reprodutores e os cordeiros para abate também ficam confinados. Assim como as ovelhas paridas, recebem alimentação reforçada: um concentrado feito com farelos de soja, arroz e milho. Quase tudo é produzido na fazenda porque a legislação dos orgânicos determina que 85% do que o animal come também têm que ser orgânico.
Alimentar tantos animais não é tarefa fácil. Além dos ingredientes do concentrado, a fazenda produz silagem de capim elefante e feno. Da área de oito hectares, a cada 45 dias saem 18 toneladas de feno de capim tifton e a fazenda está sempre atrás de novas alternativas.
A moringa, bastante conhecida porque as sementes são usadas para a purificação de água, serve como complemento de proteína na alimentação dos animais. A planta é cortada, triturada e seca ao sol por alguns dias.
Boa alimentação e manejo caprichados são fundamentais para ter animais saudáveis. Um dos principais problemas em criação de cordeiro é a verminose. No sistema orgânico é proibido usar vermífugos convencionais. Por isso, a fazenda teve de encontrar tratamentos alternativos.
O uso de sementes de abóbora seca e triturada está apresentando bons resultados. O tratamento funciona assim: mensalmente 10% do plantel faz exame de fezes, o chamado OPG, onde ovos dos vermes são contados. O tratamento tem que ser feito por três dias seguidos é repetido 15 dias depois. Com esse manejo, os animais têm um ganho de peso médio de 250 gramas por dia. Assim, os cordeiros ficam prontos para o abate aos quatro meses.
Para abater os animais a fazenda fez parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, que têm um frigorífico no campus de Sousa. A veterinária e professora Ana Valéria Marques explica as vantagens de se trabalhar com animais cruzados e precoces.
“Os animais novos, com 120 dias, fornecem uma carne mais suculenta e de melhor qualidade. A raça santa inês tem uma capacidade de acumular gordura interna. As raças de corte têm a capacidade de acumular essa gordura subcutânea, que é importante na hora do resfriamento para o frio não queimar a carne e porque a gordura dá a suculência da carne”, diz Ana Valéria.
Depois do abate, a carcaça é desmembrada para ser vendida separadamente, em cortes nobres. Tem picanha, filé mignon, paleta e pernil com ou sem osso, e costelinhas, chamadas de carré francês. A professora Maria das Dores Barreto explica as vantagens desse processamento.
“Agregação de valores, o rendimento da carcaça e se aproveitar para fazer os embutidos. Assim, não tem desperdício”, avalia Maria das Dores.
O frigorífico não tem inspeção federal. Por isso, a carne só pode ser vendida dentro da Paraíba. Mas, hoje, isso não é problema. “O mercado paraibano tem consciência de qualidade e nós queremos atender hoje prioritariamente o mercado paraibano”, disse o agricultor Pierre Landoult.
Para montar a estrutura, doutor Pierre Landoult fez um grande investimento. “Investimos R$ 7 milhões. O grande segredo é saber qual é o espaço. Nós temos de olhar o lucro a médio prazo. Nós estabelecemos um retorno em cinco anos e vai crescer tranquilamente e vamos conseguir zerar a dívida”, calcula.
O investimento é grande e o pessoal da fazenda ainda tem muito que aprender. Mas com mercado tão favorável, o trabalho tem tudo pra dar certo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário