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Lula da Silva, Grande-Colar da Ordem da Liberdade por Jorge Sampaio, discursa a 25 de Abril de 2023 a convite de Marcelo Rebelo de Sousa, que condecorou Zelensky com a mesma Ordem. Eugénia de Vasconcellos para o Observador:
A
questão Lula da Silva nas celebrações do 25 de Abril não é uma questão
menor. É uma questão exemplar. Não se pode defender uma coisa e o seu
contrário. Ou pode quando se trata de liberdade e de democracia?
Lula
da Silva tem sido claro e consistente. Para Lula, a Ucrânia é tão
responsável pela guerra como a Rússia de Putin. Pior. Os Estados Unidos,
a União Europeia e a NATO partilham da responsabilidade pela invasão
russa da Ucrânia. E pela estimulação da guerra através do fornecimento
de armas e de formação militar. Ou seja, este é um homem que faz
equivaler agressor e agredido. E tem-lo demonstrado em sucessivas
declarações. Logo após a invasão russa da Ucrânia; em entrevista à Time;
voltou a fazê-lo em Pequim; e agora nos Emiratos Árabes Unidos. Este é o
homem a quem Lavrov, ministro dos negócios estrangeiros da Rússia de
Putin, agradeceu «a clara compreensão da génese da situação», e sobre
quem disse «temos visões similares». A convicção de Lula da Silva da
responsabilidade da Ucrânia, dos Estados Unidos, da União Europeia e da
Nato na invasão russa, repito, russa, tem sido reiterada em cada
oportunidade.
Isto
é o mesmo que dizer que as valas comuns de Bucha, Izium, de Mariupol
são também de responsabilidade ucraniana, norte-americana, europeia e da
NATO. O mesmo para os civis ucranianos mortos. Para as crianças mortas e
para as raptadas. Para as mulheres violadas. Para as vítimas de
tortura. Isto é o branqueamento dos crimes de guerra russos.
Como tive oportunidade de escrever, aqui, no Observador, a este propósito,
há mais de um ano, Lula da Silva faz parte do grupo daqueles para quem
se uma mulher de mini-saia é violada, é porque estava a pedi-las – na
verdade, igual posição tem qualquer fundamentalista que no Irão nos
repugna quando exige que a mulher se cubra totalmente e nem o cabelo
mostre para garantir o controlo do comportamento sexual dele.
Lula
da Silva considera que a integridade territorial de um país, logo o
direito internacional, não tem significado efectivo. No entanto, é este o
homem que, a despeito do horário, discursará no Parlamento, no dia das
comemorações do 25 de Abril.
Celebramos
a democracia com o discurso de quem tão profundamente a desrespeita,
com a conivência de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Augusto
Santos Silva.
Ouvir
Marcelo Rebelo de Sousa justificar o convite com as boas relações
institucionais entre Portugal e Brasil e a relação privilegiada entre os
dois países não apaga as declarações anti-democráticas e em absoluto
desrespeito pela Carta das Nações Unidas e pela União Europeia que
reiteradamente Lula da Silva proferiu.
E
se a presença de Lula no Parlamento a 25 de Abril tem convulsionado os
media é só porque repugna a muitos portugueses, qualquer que seja a sua
filiação política. O PSD, através de Paulo Rangel, veio exigir ao
governo «a demarcação diplomática e pública» das posições de Lula, e uma
«posição pública e formal». Os exemplos de repúdio são tantos, mesmo
dentro do próprio Partido Socialista, que este veio, através de Jaimila
Madeira, justificar tal presença. As declarações feitas em nome do PS
manifestam a desonestidade intelectual e moral deste socialismo. Onde
diz «paz», está implicada a submissão ucraniana, pois foi condenada a
entrega de armas pelos aliados europeus. Onde diz países da CPLP,
implica economias dependentes da Rússia.
Não
deixa de ser uma coisa e o seu contrário, enquanto é também uma ironia:
Lula da Silva, Grande-Colar da Ordem da Liberdade por Jorge Sampaio,
discursa a 25 de Abril de 2023 a convite de Marcelo Rebelo de Sousa, que
condecorou Zelensky com a mesma Ordem.
A autora escreve segundo a antiga ortografia
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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