Duarte Bertolini
A obviedade anda tão rara no Brasil, que os “luas vermelhas” do PT (lembram dos “luas pretas” do MDB?) pensaram que os fatos e o resto de racionalidade e inteligência ainda existentes em parte da mídia e população brasileira iriam aceitar passivamente a versão de virgem inocente e cerrariam fileiras de forma incondicional ao lado do PT, na condenação dos golpistas e, por extensão, na consolidação do projeto autoritário permanente de poder do partido e seus adoradores.
A robusta inteligência estratégica e ideológica do PT não se satisfaria com a condenação dos atos do 8 de Janeiro e a responsabilização dos bolsonaristas (referendada solidamente por toda sociedade), com a consequente prostração de Bolsonaro e seus seguidores.
Não, era necessário que o novo bezerro de ouro, agora vermelho e com auréola de democrático salvador da nação, fosse identificado, reconhecido e obviamente adorado. O poder quase absoluto seria a consequência celestial petista do 8 de janeiro.
DEU TUDO ERRADO – Graças a Deus, somos poucos. mas não somos tão burros e tão moldáveis quanto eles imaginam. O PT conseguiu o quase impossível. Trouxe para seu colo a investigação, mas permitiu o ressurgimento das narrativas bolsonaristas (depois de os presos estarem convenientemente limpos e desinfetados, além de aterrorizados que estavam com a enérgica ação de Moraes), e assim o novo governo petista (até então algoz implacável, paladino da ordem e da democracia) resulta todo arranhado, com as indeléveis marcas da facilitação do vandalismo, coparticipação e desonestidade de atos e propósitos.
Pensei muitas vezes em escrever sobre este assunto, mas a motivação anda muito baixa. Quando pensávamos haver nos livrado dos rebanhos jumento/religiosos/nacionalistas, eis que, ao contrário, eles permanecem vivos e zurramente ativos, agora irmanados pelos rebanhos ideológicos, democratas, salvadores da pátria e arrombadores de cofres da nação.
UMA FARSA VISÍVEL – Não existe mais um mínimo rastro de diálogo político, que dirá qualquer tipo de conversa ou argumentação razoável.
E a farsa estava visível desde o primeiro momento. Comentei com minha esposa no dia 8 mesmo: “Como é possível que eu, mísero e desconhecido brasileiro, tenha deixado de lado qualquer ocupação e ficado grudado na TV, desde o primeiro momento e da primeira imagem, enquanto o presidente continuava olimpicamente passear com amigos no interior de São Paulo e só chegasse ao final da tarde a Brasília?”. Não deveria ter voltado imediatamente e comandado pessoalmente a reação?
Depois as imagens consolidaram a estranheza. E ai começam todas as manobras diversionistas em que o PT sempre foi useiro e vezeiro, com a imprensa amiga e intelectuais alertando indignados sobre a traição do general Gonçalves Dias a Lula, etc, etc, etc. Enfim. o PT sendo o PT, e o Brasil sendo o Brasil. Tristes tempos, quanto mais lutamos para sair do atoleiro mais nos afundamos.
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