Percival Puggina
Enquanto a direita se permite lidar com visões de mundo, conceito de pessoa humana, valores morais, relação entre o estado e o indivíduo, a esquerda mergulha de cabeça em estratégias para o poder; as pautas da direita também lhe dizem respeito, mas sempre na perspectiva de sua estratégia até o poder.
Graças a essa determinação e a esse foco, esquerdistas podem desenhar um cronograma de decisões judiciais em instância máxima para tirar Lula da cadeia e posicioná-lo no partidor da corrida presidencial. É o uso do poder de Estado para um projeto político perante o qual tudo mais flexiona a coluna vertical e cede passagem.
Portanto, quando Lula, Haddad e seu braço direito Gabriel Galípolo falam na criação de uma moeda comum para a América do Sul, o eixo dessa reflexão é muito mais político do que econômico. Tem a ver com formação de bloco, com a consolidação do momento comunista vivido pelos países da região, tem a ver com causar dano aos interesses norte-americanos e tem a ver com aquilo que ficou bem evidente durante os últimos quatro anos quando as bandeiras do Brasil tomaram as ruas: o antinacionalismo que caracteriza a esquerda ao longo de sua história.
Dessa vertente vem a ideia sempre repetida da “Pátria Grande”. Quando Lula, há alguns meses, falando num evento petista, gravou mensagem de apoio à candidatura do “companheiro” Gustavo Petros na Colômbia, ele fez o auditório repetir com ele, em coro, palavra por palavra, o que dizia. E o que afirmava, em sucessivos mantras, era a possibilidade que se abriria com sua própria eleição e a de Petros, junto com outras vitórias esquerdistas, de concretizar a “integração política, econômica e cultural” do continente. Bye Bye Brasil?
Todas as experiências ibero-americana de integração travam nas instabilidades políticas, na corrupção e nos ciclos recessivos, depressivos e espirais inflacionárias que marcam, no ritmo de cada um, a vida dos povos da região. O próprio Mercosul tem febre cada vez que a Argentina adoece e resolve alterar suas alíquotas de importação. Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua, em 2010, criaram o SUCRE (Sistema Unificado de Compensação Regional), como meio de troca entre os países da região. O SUCRE andou devagar até que a Venezuela adoeceu de vez.
A ideia de criar o SUR é tola, mas sempre é bom interpretar devidamente as tolices do adversário. Elas nos revelam seus objetivos de poder: obviamente esse bloco seria comandado pelo PT valendo-se do maior peso econômico do Brasil.
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