Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
Pesquisas
são bons indicadores de tendências eleitorais. Mas sofrem do Mal do
Meteorologista: quando acertam ninguém se lembra, quando erram ninguém
se esquece. E pesquisa dificilmente mostra mudanças de última hora, como
aquela que levou Erundina do quarto lugar à vitória contra Maluf.
De
qualquer forma, há indicadores melhores do que qualquer pesquisa: a
posição de algumas personalidades políticas que sempre acham o melhor
caminho para o poder. Michel Temer, por exemplo, permite que tentem
articular sua candidatura, mas exige que antes resolvam um problema sem
solução: a união dos partidos centristas em torno de um candidato. Ou
seja, ele acha que a eleição está definida entre Lula e Bolsonaro, e não
vai entrar.
E
entre Lula e Bolsonaro? Vejamos um personagem: Geddel Vieira Lima.
Lembra-se dele? O que tinha R$ 51 milhões em dinheiro vivo em casa, sem
origem conhecida? Pois Geddel, um dos caciques do MDB baiano, fechou com
Lula, esquecendo Simone Tebet, candidata de seu partido. Para garantir o
acesso ao presidente, vai apoiar o candidato do PT na Bahia, sabendo
que lá vai perder. Renan Calheiros, o político alagoano que sabe como
poucos chegar ao poder, também ignora a candidata de seu MDB e fecha com
Lula.
Outros
políticos de carreira vão com Bolsonaro. Aécio Neves, tucano, não quer
um candidato único do centro, porque aspira dar a volta por cima com o
presidente. Mas Renan e Geddel conhecem melhor o caminho das pedras.
De anti-Lula a Lula
Lembra-se
de Antônio Rogério Magri? Era presidente do Sindicato dos
Eletricitários de São Paulo e foi levado à campanha de Fernando Collor
para ser o líder trabalhista adversário de Lula.
Hoje é Lula desde criancinha.
Simone? Quem?
Um
caso interessante é o de um político que não é conhecido pela
capacidade de chegar ao poder. Mas sua posição, como a de Temer, é de
quem não acredita em terceira via. O deputado estadual Eduardo Rocha, do
MDB do Mato Grosso do Sul, chefe da Casa Civil do governador tucano
Reinaldo Azambuja, é presença constante nas reuniões de Eduardo Riedel,
candidato a governador pelo PSDB mas fechado com Bolsonaro.
Eduardo Rocha é o marido da senadora Simone Tebet, candidata contra Bolsonaro.
A fuga dos votos
Em
vez de brigar com os números, por que não analisá-los? George Bush,
presidente popular, vitorioso na guerra contra o Iraque, que tinha
ocupado o Kuwait, não percebeu que seu prestígio se esvaía à medida que o
desemprego aumentava nos Estados Unidos. Enquanto isso, seu adversário,
Bill Clinton, martelou os temas econômicos a campanha toda. Clinton
ganhou a eleição e se reelegeu.
O
grande tema econômico que vai estourar agora é o aumento enorme do
seguro-saúde individual: 15,5%, já autorizado pela ANS, Agência Nacional
de Saúde Suplementar. O caro leitor conhece alguma categoria que tenha
tido 15,5% de aumento salarial em qualquer dos últimos anos? É a maior
alta desde que foi criado o sistema de reajuste, no ano 2000. Já está
valendo, a partir de 1º de maio.
É pagar ou ficar sem seguro-saúde.
Bolsonaro, sendo Bolsonaro
Duas
tragédias em dois dias: na primeira, com 25 mortos numa favela, o
presidente se manifestou elogiando a macabra operação. Não manifestou
nenhuma estranheza ao saber que a Polícia Rodoviária Federal, cuja
função é patrulhar as rodovias, participava de uma mortífera operação de
combate longe de qualquer estrada. Na segunda, uma coisa horrorosa, ele
silenciou.
Silêncio retumbante
O
caso é o seguinte: um motociclista foi intimado pela Polícia Rodoviária
Federal a parar (e parou), em Umbaúba, Sergipe porque estava sem
capacete. É uma transgressão com punições previstas no Código de
Trânsito Brasileiro (aliás, quem viola essa norma com frequência é o
presidente Jair Bolsonaro).
O
motociclista Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, foi algemado e
colocado no bagageiro de uma viatura. Como não conseguiram fechar a
tampa, já que o detido não encolhia as pernas, encheram a viatura com
gás lacrimogêneo. O motociclista morreu asfixiado. Bolsonaro não falou
sobre o fato.
Colocou
sua equipe inteira para falar mal da pesquisa eleitoral e não deu a
menor importância à morte de um motociclista nas mãos de sua polícia.
A desculpa
A
versão da Polícia Rodoviária Federal para a morte de Genivaldo precisa
ser conhecida: no boletim de ocorrência, descreve os fatos, mas garante
que a morte nada teve a ver com a asfixia por gás lacrimogêneo. A morte
teria ocorrido por mal súbito. "Por todas as circunstâncias, diante dos
delitos de desobediência e resistência, após ter sido empregado
legitimamente o uso diferenciado da força, tem-se por ocorrida uma
fatalidade, desvinculada da ação policial legítima", diz a equipe da
PRF.
Claro: como na frase atribuída a Lampião, o rei do cangaço, “eu faço o furo, mas quem mata é Deus”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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