Assinado por Salim Mattar, ex-ministro do governo Bolsonaro, Cledorvino Belini, Henrique Salvador, Modesto Araújo e mais 200 pesos pesados da economia do Estado, documento faz contraponto a texto da federação com críticas ao STF. Reportagem publicada pelo Estadão:
Horas após o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, divulgar documento com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF),
questionando decisões dos ministros, defendendo sites investigados pela
divulgação de fake news e a liberdade de expressão de políticos presos
por ataques à Corte, um grupo de mais de 200 empresários e executivos
mineiros divulgou documento, nesta quarta-feira, 1º, nomeado Segundo
Manifesto dos Mineiros.
A
peça defende as instituições brasileiras, o Estado de Direito e a
democracia, em contraponto às considerações de Roscoe, feitas também
nesta quarta. O empresário é próximo do presidente Jair Bolsonaro.
O
novo Manifesto dos Mineiros faz alusão ao documento assinado por
lideranças estaduais, em 1943, que exigia o fim do Estado Novo e a
redemocratização do Brasil. Na época, a carta aberta trilhou o caminho
para o surgimento de diversas outras, contribuindo para um clima
político que levou à deposição de Getúlio Vargas (1882-1954), em 1945.
Assinam o documento pesos pesados da economia de Minas Gerais como o empresário Salim Mattar,
presidente da Localiza, ex-secretário de Desestatização do governo
Bolsonaro; Cledorvino Belini (ex-presidente da Fiat Chrysler
Automobiles); Henrique Moraes Salvador Silva e José Henrique Dias
Salvador (Rede Mater Dei); Modesto Carvalho de Araújo Neto (Drogaria
Araújo); Evandro Neiva (Grupo Pitágoras); Nadim Donato Filho
(Sindilojas); e José Anchieta da Silva (ACMinas). A peça já conta com
mais de 200 assinaturas de empresários e executivos mineiros.
“A
ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de
anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada
serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada, antes,
deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro
tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de
comportamentos em todas as dimensões da vida”, afirma o manifesto.
Grupo defende reforma do Estado
O
manifesto ainda aponta que “as mudanças estruturais que o Estado
Brasileiro necessita (e que o Povo Brasileiro reclama) exigem das
lideranças, todas, e daqueles que ocupam cargos e funções nas estruturas
produtivas e fornecedoras de serviço e de conhecimento (tanto públicas
quanto privadas) uma urgente tomada de posição”. Sem citar nominalmente
Bolsonaro, a peça diz que “o que se pretende provocar é outro tipo de
ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de comportamentos em
todas as dimensões da vida”.
“É
preciso pôr fim à vida estamental do aparelho do Estado que, no Brasil,
desde sempre, é uma presa capturada por grupos de pessoas que se
autoprivilegiam e conduzem a vida das pessoas segundo seus interesses
pessoais, secundando os legítimos interesses do povo e da sociedade
brasileira”, diz o documento.
Os
empresários e executivos também defendem uma reforma do Estado
brasileiro, com “a reforma político-eleitoral, a reforma administrativa,
a reforma do sistema de educação (só a educação transforma as pessoas),
a reforma do sistema de segurança, a reforma orçamental e econômica, a
reforma do sistema tributário (são reformas de conteúdo)”.
Relações com Bolsonaro
O
Estadão entrou em contato com a assessoria de imprensa da Fiemg, nesta
quinta-feira, 2, mas a entidade não se manifestou sobre o manifesto até a
publicação desta matéria.
Desde
a posse de Bolsonaro, o presidente da Fiemg manteve diversos encontros
com o presidente. Rotineiramente, o auditório da sede da entidade é
ocupado por palestras de ministros e autoridades governamentais. Em
março do ano passado, Roscoe integrou a comitiva de Bolsonaro que
visitou o então presidente dos EUA, Donald Trump, em Miami, na Flórida. À
época, a viagem tornou-se célebre pelo número de contaminados pela
covid-19. Em 16 de março, Roscoe informou que foi o 14º passageiro que
pegou o vírus.
Leia a íntegra do "Segundo Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro":
"As
mudanças estruturais que o Estado Brasileiro necessita (e que o Povo
Brasileiro reclama) exigem das lideranças, todas, e daqueles que ocupam
cargos e funções nas estruturas produtivas e fornecedoras de serviço e
de conhecimento (tanto públicas quanto privadas) uma urgente tomada de
posição.
A
ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de
anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada
serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada, antes,
deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro
tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de
comportamentos em todas as dimensões da vida.
O
objetivo é construir (na verdade, reconstruir) um projeto de Nação para
o Brasil, dando sentido novo ao que seja patriotismo, de modo a fazer
do povo brasileiro uma gente mais feliz e colocando o Brasil como Nação
altiva, livre e democrática no concerto das Nações.
O
país necessita de uma verdadeira "reforma do Estado" (reforma
continente) nela compreendendo as reformas internas necessárias,
sobressaindo: a reforma político-eleitoral, a reforma administrativa, a
reforma do sistema de educação (só a educação transforma as pessoas), a
reforma do sistema de segurança, a reforma orçamental e econômica, a
reforma do sistema tributário (são reformas de conteúdo).
Já
se revelou, e faz tempo, equivocada uma maneira de governar onde os
Municípios e os Estados são reféns permanentes do que pensa e do que
deseja o governo central sediado em Brasília. Esse centralismo que
aumenta as desigualdades, já impôs atraso e miséria a toda a Nação
Brasileira.
Vive-se
um século XXI que já vai alto e os problemas da gente brasileira
continuam, na base, praticamente os mesmos: analfabetismo, esquecimento,
ausência de infraestrutura básica (como água e esgoto, por exemplo),
além do agravamento de uma escalada criminosa crescente, em vários
sentidos (de balas perdidas, assaltos e discriminações).
É
preciso valorizar, e se necessário for criar um novo capitalismo que
valorize a inteligência humana, um capitalismo humanizado, porque o
centro da vida é a Pessoa Humana.
É
quase ulceroso falar, no Brasil, em reforma constitucional, mas é
imperativo reconhecer que a Constituição de 1988 já cumpriu o seu papel
histórico de assegurar a democracia e de valorizar a cidadania. Quanto
ao demais, o que dela se recolhe é um texto antônimo de si mesmo, na
medida em que oferece, para uma mesma pergunta, como resposta, sempre um
sim e um não. Não se desconhece a delicadeza do tema e as dificuldades a
serem encontradas no seu enfrentamento.
É
preciso extirpar das leis todo tipo odioso de privilégio que cria
castas e diferenças entre as pessoas em função de seus fazeres e de suas
responsabilidades. É situação, afinal, que não faz de Pessoa alguma,
figura diferente e privilegiada em relação aos demais. É preciso
repristinar esta verdade: perante o Estado todos os cidadãos são
cidadãos comuns.
É
preciso pôr fim à vida estamental do aparelho do Estado que, no Brasil,
desde sempre, é uma presa capturada por grupos de pessoas que se
autoprivilegiam e conduzem a vida das pessoas segundo seus interesses
pessoais, secundando os legítimos interesses do Povo e da Sociedade
Brasileira.
É
preciso criar mecanismos eficientes de erradicação e de controle da
erva daninha da corrupção, banindo da vida pública aqueles que se servem
do Estado para, criminosamente, atender a interesses menores e que não
correspondam às obrigações do cargo e das funções que exerçam. Tais
medidas devem alcançar, por igual, aqueles que ocupem posições de
destaque em todos os poderes do Estado: Executivo, Legislativo,
Judiciário e Instituições agregadas.
É
preciso criar mecanismo a permitir que as instituições representativas
da Sociedade Civil tenham voz ativa junto aos poderes constituídos,
fazendo as vezes daquele ‘Poder Moderador’ criado na França pelo
pensador Benjamin Constant, de modo a nunca mais permitir arranjos que,
atendendo a interesses outros, não correspondam aos anseios da Sociedade
e do Povo Brasileiro.
O
Brasil se insere dentre os países do mundo que já viveram todas as
experiências de governos e mandonismos: o Brasil colônia deu lugar ao
Brasil império; que deu lugar ao Brasil república, a velha e a nova;
experimentou, por mais de uma vez, as ditaduras;
conheceu,
em voo de pássaro, a experiência do parlamentarismo, antes de chegar à
nova república. Portanto, a experiência para reescrever o Brasil quem a
possui somos nós próprios: os Brasileiros.
Esse
passado inspirador retém matéria prima suficiente para que possamos, de
mãos dadas, construir um futuro promissor para o Brasil-nação. A
respeito, é relevante trazer a texto a constatação de que instituições
brasileiras sérias e comprometidas existem e são inúmeras, como ilhas,
no entanto. O propósito deste Manifesto está em propiciar a ligação de
todas essas ilhas, dando-nos as mãos. Se todas essas ilhas derem as
mãos, a partir de propósitos comuns, construiremos um grande
Brasil-arquipélago.
Dessa
construção, (na verdade, reconstrução), sobressairá fortalecido o
respeito à integridade das pessoas e suas diferenças e nascerá uma
sociedade mais tolerante. É preciso plantar e implantar definitivamente
uma política que reconheça o valor do meio ambiente.
As
mudanças estruturais e estruturantes que este Manifesto suscita – e que
por certo serão aprimoradas – caminharão através de um ‘GRANDE PACTO
PELO BRASIL’. Esta é a pregação maior com a qual se pretende plantar e
colher um Brasil que tenha futuro.
Registro
final: Não se adota neste texto por equívoco, como título, a expressão
‘SEGUNDO MANIFESTO DOS MINEIROS’. A iniciativa compreende um alertar a
Gente Mineira e a Gente Brasileira, chamando a atenção para aquele
corajoso e desprendido ato praticado por um grupo de pró-Homens
conseguiu."
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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