Em sua coluna na Crusoé, Diogo Mainardi fala sobre a morte de seu paí por Covid, no ano passado, na Prevent Senior:
Hesitei
um bocado antes de escrever esta coluna. Meu pai era cliente da Prevent
Senior. Ele morreu de Covid em agosto do ano passado, no hospital
Sancta Maggiore. Quando anunciei sua morte, os bolsonaristas abarrotaram
as redes sociais com mentiras, negando que ele houvesse morrido de
Covid. Nise Yamaguchi, a principal animadora do gabinete paralelo do
Ministério da Saúde, encarregou-se pessoalmente de espalhar falsidades
sobre ele em grupos de WhatsApp. Na véspera de sua morte, conversei com a
médica que o atendia na UTI. Ela disse que o vírus havia atingido seu
rim (ele só tinha um). Ela disse também que, com toda a probabilidade,
meu pai havia sido infectado no próprio hospital, depois de ser
internado com uma pneumonia.
O
motivo pelo qual hesitei em escrever sobre a Prevent Senior foi esse
meu envolvimento pessoal e direto. Falei diversas vezes sobre a morte de
meu pai, sem o menor constrangimento, mas não citei o plano de saúde
porque meu juízo estava envenenado pela dor. Além disso, eu queria
evitar que seu nome fosse novamente conspurcado pelos bolsonaristas, que
o usaram para acobertar seus crimes. Só resolvi escrever sobre o tema
na quarta-feira, depois que a CPI da Covid acusou a Prevent Senior de
ter fraudado os atestados de óbito de Anthony Wong e Regina Hang. Assim
como meu pai, eles morreram de Covid. Assim como meu pai, eles estavam
internados no hospital Sancta Maggiore. Assim como meu pai, houve a
tentativa de ocultar a causa de suas mortes. Segundo o prontuário de
Anthony Wong, a médica responsável por seu caso era aquela mesma Nise
Yamaguchi.
Os
documentos hospitalares obtidos pela CPI mostram que ambos foram
diagnosticados com Sars-CoV-2 e, em seguida, medicados com o “kit
Covid”, composto por hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina.
Anthony Wong recebeu até ozonioterapia retal. Não sei se meu pai também
foi submetido a esses experimentos sádicos. O fato é que, no atestado de
óbito de Anthony Wong, consta que ele morreu de choque séptico,
pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus. No de Regina
Hang, disfunção múltipla de órgãos, choque distributivo refratário,
pneumonia bacteriana, síndrome metabólica e acidente cerebral isquêmico
prévio. Tanto num caso quanto no outro, não há nem sombra do vírus. O
diretor da Prevent Senior, em seu interrogatório na CPI, confessou que a
Covid era apagada do registro dos pacientes depois de 14 dias no
hospital.
Para
fraudar a causa da morte de Anthony Wong e Regina Hang, o hospital
Sancta Maggiore contou com a cumplicidade de dezenas de funcionários,
entre médicos e enfermeiros, que seguiram as ordens de seus chefes. Como
disse Mario Sabino, em O Antagonista, é preciso intervir judicialmente
na Prevent Senior, afastando sua diretoria. É claro, porém, que essas
duas fraudes refletem algo ainda mais pavoroso: a perversão assassina
que acometeu o Brasil durante a epidemia, em que a insanidade
bolsonarista foi manobrada por um bando de quadrilheiros, a fim de
ocultar 600 mil mortes na vala comum da idiotice e da barbárie. O dever
de todos aqueles que, como eu, perderam seus afetos para o vírus é
revirar seus cadáveres e trancar os criminosos na cadeia.
blog ORLANDO TAMBOSI
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