Se a vacina impede a doença e a morte (as “autoridades” garantem ter havido apenas 70 vítimas entre os milhões de vacinados com menos de 80 anos), a que título se quer separar os vacinados, que estão protegidos, dos que escolheram não estar? Alberto Gonçalves via Observador:
A
14 de Janeiro de 1978, em São Francisco, John Lydon questionou o
público: “Conhecem a sensação de ser enganados?”. Imediatamente após
esse momento célebre, Lydon acabou com o concerto, com os Sex Pistols,
com o movimento “punk” e com a farsa em que aquilo se transformara.
“Conhecem
a sensação de ser enganados?”. É uma pergunta que me tem ocorrido
bastante neste ano e meio de folclore virológico. Não ocorre a muitos,
de certeza à maioria. Há dias, entrei num escritório para tratar de
rotinas e a funcionária, que estava de rosto descoberto como é normal em
pessoas honestas ou alheias a fanatismos religiosos, apressou-se a
pegar no farrapo e a prendê-lo nas orelhas pelo elástico. Disse-lhe que
por mim não era necessário o gesto, e acrescentei que achava a encenação
ridícula. A funcionária respondeu que “tinha de ser”. Não percebi se o
imperativo se prendia com a preocupação dela com a saúde ou o respeito
por ordens “superiores”. Percebi que ficou assaz espantada quando a
informei de que em inúmeros países já ninguém, excepto os assaltantes,
esconde a cara. “Não me diga!” Eu disse. E disse mais: “Não reparou nas
bancadas dos estádios estrangeiros, sem limites à lotação, sem
“distanciamentos” e sem máscaras? (contive-me para não adicionar “e sem
as restantes poucas-vergonhas”). A funcionária, de súbito sorridente,
não reparara: “Ai, pois é!” Ai, pois é.
Para
demasiados portugueses, todos os delírios imputados à Covid tornaram-se
tão normais e inevitáveis quanto a chuva ou o bom tempo, isso na remota
época em que a chuva e o bom tempo eram normais e inevitáveis e não
sintomas das “alterações climáticas” que afligem o eng. Guterres. É, de
facto, a consagração do “tem de ser”. As pessoas usam máscara porque tem
de ser, mantêm as distâncias porque tem de ser, untam as mãos com gosma
porque tem de ser, contam os convivas à mesa porque tem de ser, cumprem
horários alucinados porque tem de ser, vacinam-se a elas e aos filhos e
aos periquitos porque tem de ser, enfiam cotonetes no nariz porque tem
de ser, exibem certificados de pureza porque tem de ser, em suma fazem
figuras de urso. Porquê? Porque tem de ser.
E
porque é que tem de ser? Aqui as opiniões divergem. Porque o governo é
que manda. Porque as “autoridades” assim decidem. Porque “especialistas”
alimentados por patrocinadores ou desejo de fama juram que sim. Porque
os “media” apelam ao pânico. Porque esta particular maleita suscita um
medo desproporcionado em sujeitos que não se imaginavam mortais. Porque
há denúncias. Porque há multas. Porque não há vontade de descobrir uma
relação de causalidade entre as medidas impostas e as respectivas
consequências. Porque essa causalidade não existe e convém ocupar o
vazio com um nevoeiro de regras e sanções, as quais, embora brutalmente
irracionais, concedem aos pobres de espírito um simulacro de
“orientação” e uma prova de virtude. Porque o conformismo, parente
próximo da irresponsabilidade, é dos principais activos pátrios.
Um
exemplo do absurdo em vigor? Tomem lá vários. Se a vacina impede a
doença e a morte (as “autoridades” garantem ter havido apenas 70 vítimas
entre os milhões de vacinados com menos de 80 anos), a que título se
quer separar os vacinados, que estão protegidos, dos que escolheram não
estar? O que justifica a vacinação de jovens que nem querendo adoecem
com Covid? Se alunos e professores são testados à entrada, as máscaras
nas escolas servem para quê? Se alunos e professores andam de máscara
nas escolas, os testes servem para quê? Como é que os hotéis, em que mal
nos cruzamos com estranhos, são forçados ao “certificado” e os
supermercados e autocarros, com a promiscuidade de um curral, não são? O
que explica que os “pivots”, “especialistas” e políticos que nos exigem
farrapo nas trombas mesmo na rua conversem sem farrapo em estúdios
fechados? De que forma 40 moços nos copos constituem um perigoso
ajuntamento ilegal e 40 mil devotos de Estaline aos molhos perfazem a
legalíssima e sanitária Festa do “Avante!”? Qual a probabilidade de cada
“parecer técnico” sofrer convulsões até se encaixar direitinho nas
decisões prévias do dr. Costa? A que se deve o empenho de esquerdistas
na defesa de vacinas obtidas graças ao capitalismo da estirpe
“selvagem”? Que buraco negro engoliu, pelo menos dos noticiários, os
países e lugares que não ligam à Covid e obtêm resultados similares a um
charco de proibições do calibre de Portugal? Qual o argumento para
banir por cá a entrada de cidadãos de Israel, pioneiro na terceira dose?
A terceira dose da vacina dispensa a administração da quarta, quinta e
vigésima oitava? Conhecem a sensação de ser enganados?
Admito
que são perguntas ingénuas, infantis até. Não vamos confundir as
cabecinhas de gente que faz um semi-círculo de 5 metros na calçada para
se desviar de nós, que se besunta com álcool-gel na praia e que tem a
melhor impressão do desempenho das dras. Graça & Marta. Isto é gente
simples, para quem a “ciência” são os palpites saídos do conselho de
ministros. Se inventariarmos o conhecimento científico de tais
portentos, aprendemos que as vacinas, os “certificados”, as máscaras, os
testes, os “distanciamentos”, os recolhimentos e os horários
esquizofrénicos são indispensáveis no combate à Covid – e indispensáveis
a ponto de nenhuns dispensarem os demais. Essa gente não entende que a
valoração obsessiva e simultânea de tudo é igual a não valorizar nada.
Essa gente não quer realidade: quer delírios confortáveis. Se procuram
“negacionistas” a sério, ei-los.
Se
procurarem John Lydon, vive em Venice Beach e confessa pouco receio da
ameaça da moda. É que a mulher sofre de Alzheimer, uma das inúmeras
chatices que reduzem ao ridículo a histeria com a Covid. Também tem de
ser.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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