Nos próximos dias, a cúpula do Cidadania deve aprovar a pré-candidatura do senador. Entrevista do senador Alessandro Vieira a Marcelo de Moraes, do Estadão:
Projetado nacionalmente pela atuação na CPI da Covid, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) decidiu apresentar sua candidatura à Presidência por não aceitar a polarização da disputa entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como defensor da construção de uma candidatura de terceira via, o
senador, que é delegado da Polícia Civil, reconhece que resolveu entrar
na corrida eleitoral por não ver no centro do debate político a defesa
do combate à corrupção e ações para a redução da miséria no País.
"A
gente não pode ser condenado a vida inteira a ter problemas de
corrupção. Nenhum País está condenado a isso", disse o senador em
entrevista ao Estadão. "E no cenário que a gente tinha, a discussão
estava entre quem rouba mais ou quem rouba menos. Quem faz mais
escândalos. E a gente não pode ter uma mediocridade tão grande. Tem de
tentar avançar naquela renovação que a gente defende desde 2018."
Para
Alessandro, outros candidatos da terceira via acabam não conseguindo
tratar do problema porque são "reféns de articulações partidárias que
são incompatíveis com o combate à corrupção".
"Eu já vinha conversando. Há algum tempo, eu tenho contato com praticamente todos eles. Eduardo Leite, Luiz Henrique Mandetta, João Doria. O contato com o Ciro
é que era um pouco mais distante, mas tenho conversado com pessoas do
partido dele. E a gente não vê esse perfil. Ainda que eles tenham nas
mãos até mesmo pesquisas que apontam essa demanda da sociedade, eles são
refratários. Até porque, muitas vezes, são reféns de articulações
partidárias que são incompatíveis com o combate à corrupção”.
Nos próximos dias, a cúpula do Cidadania
deve aprovar a pré-candidatura do senador. Essa movimentação
reposiciona o partido no jogo da eleição, depois da frustração provocada
pela desistência do apresentador Luciano Huck de concorrer ao Planalto.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
O senhor comunicou ao comando do Cidadania que pretende disputar a Presidência da República. Por qual razão decidiu fazer isso?
A
minha motivação é relativamente simples. Existe uma série de pautas que
não vejo na agenda daqueles nomes que já se colocaram como
pré-candidatos. A mais marcante para mim é a questão do combate à
corrupção. Mas você também tem outras. Como a questão de uma renda
mínima, ou renda básica, com a qual você possa fazer um colchão para
esses milhões de miseráveis, que a gente está tendo acrescidos por conta
da pandemia. Então, o objetivo é trazer isso para o debate e colocar
essas pautas e outras tantas na mesa. E depois ver o que a gente pode
fazer em termos de alternativa de terceira via.
No
Senado e na sua vida profissional anterior, o senhor já se pautava por
ações no combate à corrupção. Sua candidatura vai se pautar também nessa
linha?
Sem
dúvida. A gente continua vendo que mudou o governo e o problema
persiste. É preciso uma mudança de verdade. Não é só uma mudança de
nomes. Tem de ser de práticas, de exemplos. E, repito, hoje eu não vejo
nenhum dos pré-candidatos falando sobre isso. Você não pode simplesmente
ignorar isso daí.
Sua
candidatura representa mais uma tentativa de construção de uma terceira
via alternativa a Bolsonaro e Lula. O senhor pretende conversar com os
outros pré-candidatos que estão se colocando como opções para a terceira
via?
Eu
já vinha conversando. Há algum tempo, tenho contato com praticamente
todos eles. Eduardo Leite, Luiz Henrique Mandetta, João Doria. O contato
com o Ciro é que era um pouco mais distante, mas tenho conversado com
pessoas do partido dele. E a gente não vê esse perfil. Ainda que eles
tenham nas mãos até mesmo pesquisas que apontam essa demanda da
sociedade, eles são refratários. Até porque, muitas vezes, são reféns de
articulações partidárias que são incompatíveis com o combate à
corrupção.
Assim que seu partido lhe der sinal verde para colocar sua pré-candidatura na rua, qual será sua estratégia de ação?
Se
o partido der ok, a gente vai começar a ter um diálogo mais intenso com
a sociedade, o que significa viagens e também muita ação digital. De
aproximação e entendimento do que são as verdadeiras demandas do Brasil.
O
senhor conseguiu ter visibilidade por sua atuação na CPI da Covid.
Acredita que isso pode ajudar a projetar a sua candidatura
nacionalmente?
A
CPI ajuda no sentido da visibilidade e também nessa compreensão de
cenário. A gente percebe que persistem os mesmos esquemas, com as mesmas
pessoas, inclusive. Só mudou o ponto de conexão. Como se fosse aquela
conexão de tubos em que você trocou uma rosca pela outra, botou um
adaptador e ficou tudo certo. Onde antes estavam os sindicalistas, ou
pessoas mais vinculadas ao partido, agora você tem militares da reserva
ou lobistas que fazem essa conexão.
O
senhor cita a volta da pobreza extrema como uma de suas prioridades. O
senhor acha que hoje esse é o problema mais sério que precisa ser
resolvido no Brasil?
Você
tem alguns pontos de partida. A mim parece que você não vai conseguir
discutir nada se não resolver esse problema da miséria. Porque todo o
restante, educação, oportunidade de emprego, só chega se você tira a
pessoa do estado de absoluto desespero. E hoje isso está na faixa de 20
milhões de pessoas. Isso é muito grande. Está impactando todas as
cidades, grandes, médias. Eu que sou do Nordeste mais ainda vejo isso de
perto. E há realmente essa volta do desespero pela fome. A gente tem de
atender isso de imediato, dentro de uma coisa responsável, com fonte de
financiamento. Existem já projetos no Congresso nesse sentido. É
preciso também fazer a reforma política, começando pelo fim da reeleição
para cargos executivos para tentar colocar o Brasil numa roda virtuosa.
O senhor comunicou aos outros pré-candidatos da terceira via que pretendia se lançar na disputa?
Não.
Num primeiro momento, o debate sempre foi em cima de ideias e
bandeiras. Quando num segundo momento você percebe que essas ideias e
bandeiras não estão representadas, aí senti a necessidade de colocar o
meu nome.
O
senhor acha que era importante colocar essas ideias no debate eleitoral
quando ainda falta mais de um ano até a eleição? Esse é o timing
adequado?
Sim.
Acho que as pessoas precisam resgatar uma esperança de que dá para
resolver esse problema também. A gente não pode ser condenado a vida
inteira a ter problemas de corrupção. Nenhum país está condenado a isso.
E no cenário que a gente tinha a discussão estava entre quem rouba mais
ou quem rouba menos. Quem faz mais escândalos. E a gente não pode ter
uma mediocridade tão grande. Tem de tentar avançar naquela renovação que
a gente defende desde 2018.
Seu partido lhe deu alguma sinalização sobre prazo para responder sobre sua candidatura?
O
partido deve ter uma reunião da Comissão Executiva Nacional essa semana
para tratar disso. Depois, outra com o Diretório Nacional. Porque tenho
colocado, desde o início, que só faz sentido ser candidato se for um
projeto coletivo. Projetos individuais e personalistas a gente tem às
dúzias. Então, precisa ter essa convicção de que é coletivo mesmo.
E se o partido não aceitar sua candidatura? O senhor pretende trocar de legenda para levar a candidatura adiante?
No
momento não tem nenhuma expectativa de mudança de partido ou coisa que o
valha. A receptividade ao projeto está sendo muito alta. E a gente vai
ter de aguardar os posicionamentos, que acredito serão positivos. Eu
vejo muitos partidos pensando para dentro. E você tem de ouvir um pouco
mais a sociedade. Saber o que a sociedade está procurando. Quais são os
perfis. E aí apresentar as pessoas corretas, capacitadas, nesse perfil.
Acho que faltou isso em 2018 e a gente está pagando um preço muito alto.
O
senhor acha que o Brasil está caminhando para repetir o mesmo processo
eleitoral ocorrido em 2018, se não houver uma candidatura com esse
perfil que o senhor defende?
Tenho
certeza. Você vai ter candidaturas muito parecidas e que não comunicam o
desejo real de mudança para a sociedade. E aí favorece os projetos que
são de continuidade. Seja de continuidade imediata do Bolsonaro ou do
retorno do Lula.
O
senhor coloca o combate à corrupção como um tema central de sua
campanha e essa também é a principal bandeira do ex-ministro Sérgio
Moro. Ele ainda não anunciou se pretende ser candidato. O senhor pensa
em pedir apoio a ele?
Ele
tem um tempo ainda dessa fase de atividade particular. Temos de
respeitar. Imagina-se que ele possa ter algum posicionamento ainda esse
ano. É uma figura importante da história do Brasil. Mas, agora, a gente
precisa encaminhar soluções dentro daquilo que está efetivamente em
campo e posto para fazer esse enfrentamento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário