A vitória de Ayuso na Espanha nasceu da defesa intransigente da Liberdade. Sem justificações à esquerda e contra os extremismos à direita, pois sem liberdade não há igualdade. André Abrantes Amaral para o Observador:
A
vitória de Isabel Díaz Ayuso nas eleições de Madrid é um sinal que a
direita em Portugal deve ter em conta. Ayuso venceu porque não pediu
autorização nem deu justificações à esquerda. Ayuso venceu com um
programa oposto ao do Vox e não porque governou coligada com este. Ayuso
ganhou em toda a linha porque percebeu que o que os madrilenos mais
queriam, o que os madrilenos mais desejavam era liberdade. E se a sua
governação desde 2019 teve isso em conta, o programa que apresentou nas eleições da última terça-feira tiveram esse ponto em consideração.
O
primeiro aspecto que Ayuso referiu durante a campanha foi que sem
liberdade não há igualdade. Esta é uma verdade óbvia, mas muitas vezes
esquecida. Pelo menos em Portugal onde se confunde liberdade com
oportunismo e exploração. Onde a liberdade deixou de estar relacionada
com a igualdade perante a lei. Onde ser um bom cidadão não equivale a
ser zeloso no trabalho, em tentar poupar parte do rendimento que se
recebe, em cuidar por uma boa educação escolar para os seus filhos ou em
ser socialmente prestável. Em Portugal um bom cidadão não passa de um
bom cumpridor de regras. Alguém que paga impostos, consome (porque o
socialismo precisa de consumo para que a economia pague a despesa
pública), entrega o futuro dos filhos ao estado e questiona o menos
possível. Com tantas regras transformámo-nos num país extremamente
desigual pois quando as regras dificultam a vida, nomeadamente os
negócios e as empresas, o que resulta é que apenas os que se relacionam
com o poder, ou os que têm mais dinheiro, as conseguem ultrapassar. Uns
recebem autorizações especiais; os outros, os cidadãos comuns sem
ligações ao poder socialista, ficam para trás.
A
liberdade pressupõe igualdade perante a lei. Sem uma não há lugar à
outra. Esta foi a mensagem-chave que Ayuso recuperou e que em Portugal
devemos retomar também. Porque a liberdade exige tolerância, respeito
pelas diferenças, espaço para que todos possam e consigam viver de
acordo com aquilo que lhes diz algo. Em comunhão com a sua essência
humana. Em liberdade na busca de si próprios.
Esta
liberdade não é abstracta. Concretiza-se na escolha da educação dos
filhos, na escolha da escola, seja esta pública ou privada. Implica
ainda a liberdade dos pais escolherem a educação dos filhos de acordo
com as suas crenças e os seus valores. Pressupõe, inclusive, liberdade
na escolha da escola pública, pois que a determinação da escola através
de critérios estatais, baseados no território, conduz à desigualdade.
Uma desigualdade da qual quem queira fugir terá de mentir e violar
regras. Deixar de ser um bom cidadão porque quem queira o melhor para os
seus filhos terá forçosamente de desrespeitar regras. E isto não é um
pormenor. É uma verdadeira degradação moral a que o estado obriga e que
passa dos pais para as crianças e para os jovens. Porque sem liberdade
não há moral.
Esta
liberdade não é abstracta. Concretiza-se na liberalização da actividade
económica, para que não existam empresas campeãs nacionais, que mais
não são que empresas favorecidas pelo poder político. Não há liberdade
sem igualdade. Em democracia o estado é governado não para gerir, mas
para garantir a liberdade e a igualdade; não para mandar, mas para se
conter. O enfoque de uma governação deve ser o de garantir que o estado
cumpre as suas funções essenciais sem que o excesso de intervenção
destrua o esforço das pessoas. A consequência é óbvia: um governante
deve cuidar para que as contas públicas sejam excedentárias e que o
excesso se aplique na efectiva redução da dívida acumulada. Porque com
dívida pública não há liberdade nem igualdade. Uma elevada dívida
pública exige impostos altos e um controle burocrático da actividade
económica (da vida das pessoas), um golpe na liberdade que nunca será
igual para todos, pois haverá sempre os que conseguem ficar de fora ou
mesmo escapar. É a velha máxima da liberdade e da igualdade perante a
lei.
A
vitória de Ayuso trouxe algum alento à direita portuguesa: mostrou que
afinal é possível vencer o socialismo. Mas a vitória de Ayuso em Madrid
não caiu do céu, mas da defesa corajosa e intransigente da Liberdade.
Porque, e uma vez mais repito, sem liberdade não há igualdade. Com esta
fórmula, Ayuso venceu os socialistas, arrumou o perigoso Podemos e
esvaziou o Vox. Isabel Díaz Ayuso fez-nos ver que a mensagem base de
Margaret Thatcher continua a ter ouvinte ávidos. Basta trabalho,
confiança e não querer saber o que dizem os defensores das regras que
tolhem a liberdade. Não perder tempo em justificar a liberdade àqueles
que não a prezam. Àqueles que a receiam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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