O Observador entrevista o ativista Michael Shellenberger, que diz estar cansado do "ambientalismo apocalíptico" — e escreveu um livro para dizer que as alterações climáticas não são o fim do mundo.
Em
2003, o ambientalista norte-americano Michael Shellenberger foi um dos
autores do “New Apollo Project”, um apelo à aposta nas energias
renováveis e um roteiro para um Green New Deal nos Estados Unidos. Ele e
Ted Nordhaus haviam fundado, naquele ano, o Breakthrough Institute, um
dos mais importantes think-tanks ambientais dos EUA. Quatro anos depois,
o projeto serviu de base à proposta de política climática do candidato
presidencial Barack Obama, subsequentemente implementada através de
investimentos milionários em energias renováveis. Em 2008, a defesa de
uma abordagem alternativa à luta climática, sobretudo baseada na noção
de que o ativismo ambiental não conseguira atingir as metas que se
propusera, valeu-lhe o título de “herói do ambiente” para a revista Time.
Mas,
ao longo das últimas duas décadas, Shellenberger mudou gradualmente de
ideias. Cansado daquilo a que chama o “ambientalismo apocalíptico”,
criou uma nova instituição, a Environmental Progress, e dedica-se
atualmente à defesa da energia nuclear enquanto solução para as
alterações climáticas. Ao fim de vinte anos de viagens e investigações
sobre as dinâmicas sociais que guiam o modo como olhamos para as
alterações climáticas, Michael Shellenberger escreveu o livro que diz
que gostava de ter lido quando era criança: Apocalipse Nunca. Como o Alarmismo Ambiental nos Prejudica a Todos chegou esta semana às livrarias portuguesas através da Leya.
No
livro, um extenso ensaio sobre o clima do planeta, Shellenberger
escreve que as alterações climáticas são reais, mas não são o fim do
mundo — e rejeita todo o tipo de linguagem apocalíptica, visando
sobretudo grupos radicais como o Extinction Rebellion (de que o movimento Climáximo
é o elo de ligação em Portugal) ou a ativista sueca Greta Thunberg.
Para Shellenberger, as repetidas promessas de que o mundo vai acabar
dentro de uma década têm prejudicado aquilo que devem ser os esforços
para, efetivamente, proteger o planeta: contribuir para o crescimento
económico dos países mais pobres e optar por fontes de energia
verdadeiramente limpas, designadamente a energia nuclear.
Numa
entrevista ao Observador a partir da Califórnia, onde vive, o
ambientalista reiterou que “a ciência não sustenta qualquer alegação
apocalíptica” sobre o clima e acusou os partidos “verdes” e os ativistas
de usarem alegadas preocupações ambientais para privarem os países mais
pobres de se desenvolverem economicamente. Para Shellenberger, os EUA e
a Europa são a prova de que, quanto mais rico e desenvolvido for um
país, menos poluidor será esse território. Importa, por isso, acabar com
as “lavagens cerebrais” que procuram convencer os mais novos de que o
mundo está a piorar — e, simultaneamente, desfazer mitos associados à
energia nuclear e expor o lado negro, muitas vezes oculto, das energias
renováveis.
O
título do seu livro, Apocalipse Nunca, é um desafio à própria linguagem
que usamos neste tópico, que tem sido muito discutida. Há dois anos, o
The Guardian, um dos jornais mais influentes do mundo, decidiu substituir
a expressão “alterações climáticas” por “crise climática”. E o espectro
é maior, vai do apocalíptico “a nossa casa está a arder” até ao outro
extremo, de quem diz que as alterações climáticas são falsas. Como é que
lhe devemos chamar?
Penso que “alterações climáticas” é a expressão cientificamente correta.
Mas como olha para este conflito sobre a linguagem? É um modo de chamar a atenção para o problema?
Penso
que o fazem para chamar a atenção. A ideia de uma crise é, obviamente,
errada, mas é uma palavra religiosa. É uma palavra apocalíptica. Por
isso, faz sentido que queiram usar “crise”. Vejo agora que muitos já
mudaram para “emergência”. É um escalar, um exagero. É extremismo, é
tentar ser mais fanático, de modo a ter atenção numa economia de atenção
limitada. É um fator de tudo aquilo que descrevo no livro, da ansiedade
e da depressão que emana do ambientalismo, do advento das redes
sociais. Até mesmo de uma secularização crescente, que leva as pessoas a
querer um apocalipse que dê sentido às suas vidas — e para ganharem
poder social e cultural.
Nas
primeiras páginas do livro, faz duras críticas em específico ao grupo
Extinction Rebellion, uma das faces mais visíveis da luta ambientalista.
Acredita que estes grupos — e outros que lhe estão associados,
incluindo que operam em Portugal — prejudicam mais do que ajudam a
causa?
Sim.
Há três motivos pelos quais eu escrevi este livro: o ambientalismo
apocalíptico está a causar ansiedade e depressão, particularmente entre
os mais novos; está a impedir os países mais pobres de se desenvolverem
economicamente ao privá-los de modos eficientes e baratos de produzir
comida e energia; e está a fazer uma “lavagem verde” [greenwashing] ao
encerramento de centrais nucleares, o que resulta em energia mais cara,
numa Europa mais dependente da Rússia para o gás natural e numa poluição
atmosférica maior. O que me motivou foi o facto de o ambientalismo
apocalíptico estar a fazer estas três coisas que, na minha opinião, são
muito danosas.
Mas,
especialmente num mundo muito polarizado, não teme que escrever um
livro como este o leve a ser considerado um negacionista do ambiente?
Escrevi
o livro, em parte, por causa disso. Na badana do livro, digo: “As
alterações climáticas são reais, mas não é o fim do mundo. Nem sequer
são o nosso problema ambiental mais sério”. E forneço as provas para
sustentar esses argumentos. Algumas pessoas dirão que sou um
negacionista do clima, outras pessoas dirão que sou um alarmista do
clima. Esse é o motivo pelo qual escrevi o livro. Para que as pessoas
possam perceber que há uma terceira via.
Para mostrar a ciência.
A
ciência não sustenta qualquer alegação apocalíptica. Na verdade, a
ciência mostra-nos que todas as principais tendências ambientais estão a
ir na direção certa. As emissões de dióxido de carbono estão a descer
em todos os países ricos do mundo. Podem já ter chegado ao pico a nível
global. Estamos a usar menos terreno para produzir comida. Temos
soluções perfeitas para o desperdício de plástico, mas recusamo-nos a
usá-las e usamos más soluções. Muitos dos problemas ambientais — o
plástico nos oceanos, as emissões de dióxido de carbono e o uso de mais
terreno para a produção de comida do que devíamos, que retira espaço à
natureza — são essencialmente causados pelos ambientalistas, pelos
Verdes.
Devido a políticas ambientais?
Partidos
verdes, políticas verdes. Hoje, nos Estados Unidos e na Europa, estão a
tentar encerrar as centrais nucleares e substituí-las por combustíveis
fósseis. Isso acontece agora. Estão a tornar a Europa mais dependente de
painéis solares feitos na China, hoje em dia, mesmo sabendo que eles
são feitos em condições de escravatura,
com carvão. Estão a privar as nações pobres de África de barragens
hidroelétricas. Até as estão a privar de gás natural, já que a Europa
importa gás natural de África. É um conjunto de agendas muito sinistro
que tem sido vendido usando aquele tipo de transe hipnótico religioso,
para levar as pessoas a crer que os painéis solares fabricados por
muçulmanos escravizados na China são, de alguma maneira, colocar os
“verdes” europeus e norte-americanos em harmonia com a natureza. É uma
má religião pagã a ser usada para justificar práticas bárbaras contra o
ambiente e contra as pessoas.
Não
acredita que, pelo menos, Greta Thunberg e todos estes movimentos
ambientalistas estão a chamar a atenção das pessoas para o problema? Não
será esse um mérito de tudo isto? Ou teme, pelo contrário, que
contribua mais para a eco-ansiedade do que para uma maior atenção?
O
que é que Greta Thunberg e os seus aliados andam a fazer? A fechar
centrais nucleares, a aumentar o uso de gás natural e a aumentar o uso
de painéis solares chineses. As emissões da Europa chegaram ao pico em
meados da década de 1970 porque construíram centrais nucleares e
começaram a transição do carvão para o gás natural — e ninguém falava de
alterações climáticas na década de 1970. Por isso, quando olha para o
resultado dos comportamentos das pessoas, e não apenas para aquilo que
elas dizem… Porque deveríamos acreditar no que alguém diz? Não devemos
acreditar no que dizem os partidos verdes, não devemos aceitar
acriticamente o que dizem. Greta Thunberg está a participar num
movimento que está a encerrar centrais nucleares a substituí-las por gás
natural. Ponto final. O que precisa de saber mais sobre aquele
movimento? Estão a fazer uma lavagem verde ao encerramento de centrais
nucleares.
Queria
ir à questão da energia nuclear a seguir, mas deixe-me perguntar-lhe
pela nova geração de ativistas antes. O Michael também fez parte desse
tipo de ativismo. No livro conta como, na sua juventude, quando ouviu
falar do impacto da produção de carne na floresta tropical, organizou
uma festa no quintal para angariar fundos para a luta ambientalista. Ou
seja, na qualidade de alguém que fez isto com 16 anos, entende como e
porque é que os mais jovens se sentem atraídos quando ouvem falar das
alterações climáticas, quando veem documentários apocalípticos e quando
respondem a esses apelos, certo?
Sim!
Foi por isso que escrevi o livro. Escrevi o livro para os mais jovens.
Eles estão a sofrer uma lavagem ao cérebro para acreditarem que o mundo
está a ficar pior de maneiras em que não está a ficar pior — e a não
apreciarem as maneiras em que o mundo está a ficar melhor. As zonas de
vegetação e de floresta estão a regressar na Europa e nos Estados
Unidos. Estamos a usar menos terra para cultivar mais comida. Os nossos
fornecimentos de energia tornaram-se muito, muito mais limpos ao longo
dos últimos cinquenta, cem anos. Mulheres, minorias, gays, lésbicas —
toda a gente vive vidas melhores e mais longas. A depressão e a
ansiedade são tudo consequências insidiosas de uma cultura altamente
mediatizada em que as pessoas estão, basicamente, a sofrer lavagens ao
cérebro para achar que as coisas estão a piorar, quando na verdade estão
a melhorar.
Está preocupado as novas gerações?
Sim,
claro! A ansiedade, a depressão e o suicídio estão a aumentar entre os
adolescentes. Não digo que tudo isso se deve ao alarmismo climático —
penso que é, sobretudo, relativamente às redes sociais. Mas as redes
sociais estão a alimentar essa ansiedade. E depois vem a Greta Thunberg dizer
“quero que entrem em pânico”. Porque é que haveria de querer que alguém
entrasse em pânico? Porque há de querer que os seus inimigos entrem em
pânico? Não devíamos querer que ninguém entrasse em pânico. O pânico
significa comportamento sem pensar. Porque haveríamos de querer que
alguém se comportasse sem pensar? Não desejo isso aos meus piores
inimigos. É perigoso!
Mas
porque é que acha que estes movimentos agem assim? Consegue encontrar
uma justificação para esse comportamento com base na sua própria
experiência?
Há
três razões. Dinheiro, poder e religião. Obviamente, há interesses
financeiros poderosos. Quando se fecha uma central nuclear e a substitui
por gás natural e painéis solares, custa cerca de 8 mil milhões de
dólares por ano. São interesses financeiros enormes para tudo isto.
Infraestrutura climática, baterias de transmissão, carros elétricos…
Todos querem subsídios. É também uma questão de poder. Creio que é uma
tentativa de obter poder por parte da Europa relativamente ao mundo,
sobre o qual tem cada vez menos influência. É também uma tentativa de
obter poder por parte de elites globais, nos Estados Unidos e no resto
do mundo, cujo poder retrocedeu em comparação com o crescente poder da
China. É um esforço por se manterem relevantes, por manterem controlo.
Vemos isto em situações mais banais, por exemplo, com Emmanuel Macron a
usar a Amazónia como justificação para sair do Mercosul, porque a carne e a soja do Brasil ameaçam os agricultores franceses.
Um
dos exemplos que dá no livro é o de que a própria Europa já esteve
coberta de floresta — e nós desenvolvemos a nossa economia destruindo-a
para produzir outras coisas. Encontra nestes discursos políticos algum
tipo de hipocrisia ou contradição?
Não
é apenas contradição, na verdade. É uma extensão, uma continuação do
colonialismo. É assim que a Europa mantém África pobre. É assim que a
Europa mantém os países pobres em baixo. Ao dizer-lhes: “Não, não! Não
se podem desenvolver, porque têm de proteger o ambiente”. Dizem que é “a
nossa Amazónia”. Ouça a linguagem! É “nossa”, “pertence ao mundo”.
Creio
que, para muitas pessoas, uma das afirmações mais chocantes que faz no
livro é a de que a Amazónia, que estamos habituados a pensar como os
“pulmões” do planeta, não o é. Claro que o diz com uma base científica,
que está no livro. Mas, quando o diz, está a tentar alertar para a
necessidade de nos focarmos no crescimento económico dos países mais
pobres — em vez de colocarmos as prioridades ambientais acima disso?
Não,
não é isso que digo. Digo que o progresso ambiental ocorre com o
desenvolvimento. Toda a ideia de que o desenvolvimento económico colide
com o progresso ambiental está errada. A Europa, à medida que se tornou
mais rica, reduziu as suas emissões. À medida que a Europa e os Estados
Unidos se tornaram mais ricos, reduzimos a quantidade de espaço que
usamos para produzir comida. O mesmo vai acontecer nos países pobres.
Porque é que não o queremos? O Congo precisa de uma grande barragem
hidroelétrica. As barragens hidroelétricas não criam emissões de dióxido
de carbono. Porque é que a Europa se opõe? Porque é que o Banco Mundial
não a financia? Porque é que os Estados Unidos não a querem apoiar?
Porque queremos manter o Congo em baixo. “Oh, vamos dar aos congoleses
uns painéis solares e umas baterias.” Sim, suficientes para ler um livro
ou para ligar o rádio. E a energia para se desenvolverem? Energia para
autoestradas, quintas, irrigação, sistemas de águas residuais, sistemas
de recolha do lixo? E as infraestruturas que lhes permitem ser ricos?
Porque é que a Europa não quer isso para África?
Mas
esta diferença entre os países ricos e pobres também é apontada pelos
ambientalistas, como argumento para o alarmismo, ao dizer que eles estão
mais expostos às alterações climáticas do que nós. O Michael contrapõe
esta tese dizendo que eles já estão hoje mais expostos a qualquer risco
por serem mais pobres. A solução para esta desigualdade deve dar
prioridade ao desenvolvimento económico desses países?
Bom,
consideramos que todos os seres humanos devem ter direitos semelhantes?
Pensamos que os pobres devem ficar pobres? Tentamos, ativamente,
mantê-los pobres? Porque é isso que esta agenda está a fazer. Privar os
países de fábricas, privá-los de combustíveis fósseis, privá-los de
energia moderna, privá-los de esgotos, saneamento e águas limpas… Tudo
isto são coisas de que precisamos para ser uma nação desenvolvida.
Então, porque é que a Europa e os Estados Unidos se opõem a elas para os
países pobres? Dizem que o fazem em nome do ambiente, mas isso é
obviamente um erro, porque, à medida que os Estados Unidos e a Europa se
tornaram mais ricos, ao longo dos últimos cem anos, vimos a nossa
poluição atmosférica diminuir, menos fumo nas cidades, emissões de
dióxido de carbono a descer ao longo dos últimos 45 anos na maioria da
Europa, a descer há 15 anos nos Estados Unidos. Não faz qualquer
sentido. Tem de ser qualquer coisa além disto.
E
como encontramos um meio caminho entre reduzir as emissões, que temos
de fazer nas próximas décadas, e o crescimento económico?
Não
é uma questão de equilíbrio nem é uma questão de encontrar um meio
caminho. Não é isso que estou a descrever. Os Estados Unidos reduziram
as suas emissões de dióxido de carbono ao longo dos últimos vinte anos
mais do que qualquer país alguma vez o fez em todo o mundo. Fizemo-lo
tornando-nos mais pobres? Fizemo-lo ao equilibrar alguma coisa? Não! A
eletricidade tornou-se mais barata. O gás natural tornou-se mais barato.
E é por isso que as emissões de dióxido de carbono desceram. A sua
questão está formulada de modo errado. Está neste enquadramento em que
eles querem que esteja, que é esta ideia de que, para proteger o
ambiente natural, as pessoas têm de ser pobres.
Temos de repensar o paradigma, então?
Nós
tínhamos o paradigma certo antes da década de 1970. Em 1965 as pessoas
sabiam que, ao ficarmos mais ricos, protegeríamos o ambiente. Que a
única maneira de proteger o ambiente era tornar-se mais rico. Os
pensadores malthusianos reverteram isso. Depois da guerra começaram a
apresentar os seus argumentos. Tudo isto está no capítulo 11 do
Apocalipse Nunca.
Mas
o Michael também teve de fazer esse caminho — e acho que isso é que
pode ser interessante para os leitores desta entrevista e, depois, deste
longo livro. Como fazer esse caminho entre o atual pensamento
ambientalista e aquilo que o Michael defende agora? É apenas com base na
leitura do que dizem os cientistas? É que nem os cientistas têm todos a
mesma posição sobre o grau de alerta que devemos ter?
Lendo
o Apocalipse Nunca. Quem me dera que ele existisse… Não havia um livro
como o Apocalipse Nunca quando eu era miúdo. Foram vinte anos de
trabalho, de investigação, de vida, de escrita, de descobertas, de
viagens. O livro sintetiza toda a melhor ciência disponível, baseia-se
todo na melhor ciência revista por pares do IPCC. Usa-o para desmontar
as coisas em que as pessoas acreditam. Repare no que está a acontecer
com os plásticos. Hoje, é claro que muito do plástico que está nos
oceanos veio de países ricos que o tentaram reciclar, e como hoje 90% do
nosso plástico não é reciclável, foi enviado para os países mais pobres
e depois para os oceanos. Vemos estas consequências indesejadas destas
políticas más, pagãs e malthusianas de sinalização das virtudes.
A
dada altura no livro descreve como o próprio Michael esteve envolvido
no ativismo, e conta um episódio em que atacaram publicamente a Nike, na
década de 1970. A intenção era chocar as pessoas. Os ambientalistas
têm-no feito ao longo das últimas décadas. Chocar as pessoas não é uma
forma de chamar a atenção para os problemas?
Há
coisas com as quais devemos estar chocadas. Devíamos estar chocados com
o facto de, afinal, a maioria dos nossos painéis solares serem feitos
por muçulmanos escravizados na China que usam carvão. Isso devia ser
chocante para as pessoas. Devia ser chocante que os esforços para
reciclar o plástico resultem em tanto desperdício de plástico no oceano.
Devia ser chocante para as pessoas que a energia nuclear é a forma mais
segura de produzir eletricidade. Estas coisas são verdade, são
chocantes e a razão pela qual ninguém as sabe é que há agendas poderosas
para que as pessoas não as saibam. Portanto, há alguma coisa de mal em
que as coisas sejam chocantes? Claro que não. Mas devemos ficar chocados
com as coisas certas. O problema não é o alarmismo em si mesmo. Devemos
ser alarmistas quando descobrimos uma nova pandemia! Quando há uma
pandemia, devemos ser alarmistas. Se houver um asteroide a caminho da
Terra, devemos ser alarmistas. Não devemos ser alarmistas com as
alterações climáticas. Não devemos ser alarmistas acerca do consumo de
carne. Essas tendências estão a caminhar no sentido certo. Devemos estar
alarmados pelo facto de reciclar plástico resultar em mais plástico no
oceano. Devemos estar alarmados pelo facto de o número de centrais
nucleares estar a descer.
Parece-lhe,
portanto, que é contraproducente um excesso de alarmismo. Aqueles
avisos de que a próxima geração vai morrer antes de chegar a adultos…
Sim.
Deixe-me distinguir entre duas coisas: há o alarmismo e há o
ambientalismo apocalíptico. Estão relacionados, mas não são o mesmo.
Penso que devemos estar alarmados com algumas coisas, mas as previsões
apocalípticas, a ideia de que o mundo vai acabar em dez anos, é
simplesmente uma alegação religiosa perversa. É o tipo de coisas que as
pessoas das seitas dizem. É narcisista. De todos os milhões de anos, de
tudo o que já existiu, de repente os humanos são tão poderosos que vão
acabar com o mundo.
Habitualmente,
quando as religiões dizem essas coisas é porque prometem algum tipo de
salvação. Qual é a salvação que esta religião ambientalista promete?
Bom,
chegou a haver uma utopia muito mais forte, mas atualmente é muito mais
fraca. Antes, havia uma utopia das renováveis, dos orgânicos. Ainda há
algo disso, mas tornou-se mais fraco. Parte da razão é que a Greta
Thunberg, os ambientalistas e os “verdes” em geral não querem aceitar a
responsabilidade pelas consequências negativas das renováveis.
Em
2003, o Michael foi um dos autores do “New Apollo Project”, um projeto
que apelava a um Green New Deal. Barack Obama viria a usar esse programa
para implementar políticas ambientais nos EUA. Pode recordar quais eram
os principais objetivos desse plano? Diz que falharam por não terem
promovido a energia nuclear.
Isto
aconteceu relativamente cedo no desenvolvimento das energias
renováveis, mas todos nós acreditávamos que as renováveis eram boas para
o ambiente. Por isso, procurámos grande subsídios para elas. Porém, eu
descobri gradualmente o quão terríveis elas são para o ambiente, porque
exigem 300 vezes mais terra do que o gás natural e as centrais
nucleares. Comecei a gerar todo o tipo de oposição dos ambientalistas a
nível local.
Diz
que as políticas de Green New Deal habitualmente falham por não
incluírem uma aposta forte na energia nuclear — e critica que se façam
apelos para que a humanidade simultaneamente se afaste da energia
nuclear e combata as alterações climáticas. Portanto, o que defende é
que o caminho para o combate às alterações climáticas passa pelo
investimento em energia nuclear?
Sim.
Mas
imagino que consiga imaginar os medos das pessoas relativamente à
energia nuclear, quando sabem o que aconteceu em Chernobyl, ou mais
recentemente em Fukushima. Compreende os medos das pessoas? Como
consegue convencer-nos de que é o modo mais seguro de produzir
eletricidade?
Sim, compreendo. E é por isso que escrevi um capítulo inteiro sobre o tema e é por isso que dei quatro TED Talks sobre isso.
Claro que entendo. Eu fui criado na década de 1980, fui sujeito a
filmes aterrorizadores como todas as crianças foram. Fomos ensinados que
as centrais nucleares podiam explodir como bombas. Ensinaram-nos que o
nuclear era uma ameaça apocalíptica. É por isso que faço o que faço.
Tem
sido também muito crítico de figuras do Partido Democrata, nos EUA, que
lutam contra a energia nuclear. O que acha dos planos de Joe Biden para
os próximos anos? Ficou contente que os EUA tenham voltado ao Acordo de
Paris?
O
Acordo de Paris é irrelevante, é só relações públicas. Biden está,
maioritariamente, a lutar pelas energias renováveis e pelo gás natural —
e isso enredou-se numa crise
com as revelações de que os painéis solares chineses estão a ser
fabricados por muçulmanos escravizados. Também está com problemas porque
temos tido falhas elétricas e falta de energia devido a uma dependência
excessiva das energia renováveis. Eu já estive mais contente, porque
parecia que iam tentar fazer alguma coisa em prol da energia nuclear,
mas isso arrefeceu. Há aqui duas coisas. Em primeiro lugar, é preciso
uma transição do carvão para o gás natural; e em segundo, uma expansão
da energia nuclear. Se fizermos essas duas coisas, não há crise
climática.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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