Duas cidades americanas criam programas de combate à pobreza que excluem brancos - e abrem, claro, uma tremenda discussão. Vilma Gryzinski:
Oakland é uma cidade rica com bolsões de muita pobreza e contrastes que fazem os do Brasil parecer brincadeira.
Como em tantas outras cidades americanas, as áreas mais pobres têm uma população quase exclusivamente negra.
Agora,
a cidade da baía de São Francisco, bafejada pelas fortunas provenientes
do mundo High tech do Vale do Silício, tem uma inovação: um programa de
renda mínima destinado apenas a famílias com ao menos um filho abaixo
dos 18 anos e renda que seja pelo menos metade do que a média dos
Estados Unidos (59 mil dólares).
O
programa é financiado inteiramente por doações filantrópicas, o que
facilita, mas não elimina um possível obstáculo constitucional: ele se
destina apenas a famílias na categoria BIPOC – sigla em inglês para
negros, indígenas e pessoas de cor.
Seiscentas famílias nessa condição receberão 500 dólares por mês durante um ano e meio.
“A
pobreza que estamos vendo hoje em dia não é produto de fracasso
pessoal, mas de falência sistêmica”, disse a prefeita Libby Schaaf, tão à
esquerda, no espectro político americano, que criou um sistema de
alerta sobre batidas da polícia de imigração a clandestinos radicados na
cidade, durante o governo Trump.
Nem é preciso dizer que um programa social que exclui brancos pode ser considerado inconstitucional.
O
programa é similar a um já em vigor em Marin County, o terceiro
município mais rico dos Estados Unidos, que paga o dobro, mil dólares,
aos contemplados, e é bancado, em parte, com dinheiro público.
“A estrutura do programa é racialmente discriminatória”, disse ao site Reason o analista jurídico Walter Olson.
Segundo
ele, mesmo que as verbas tenham origem privada, o grau de participação
de funcionários municipais na distribuição vai pesar se houver
contestação na justiça.
O bolsa-família para negros pode criar confusão com um outro tipo de subvenção, a indenização de inspiração racial.
Um
município da região de Chicago, Evanston, aprovou um programa-piloto
que dará 25 mil dólares a 16 famílias negras para reformas doméstica ou
como entrada em outro imóvel.
Detalhe interessante: os 400 mil dólares iniciais são bancados pelo imposto sobre a maconha legalizada.
O programa pretende compensar danos discriminatórios sofridos por habitantes negros no campo da habitação.
O
dinheiro não vai diretamente para as famílias, mas para as lojas de
material de construção ou os bancos que financiam novos imóveis.
Por causa disso, está sendo chamado de “paternalista”.
A
discriminação por raça só é admitida nos Estados Unidos, em
circunstâncias específicas e por período limitado, no âmbito das
admissões universitárias.
É claro que separar pessoas por cor para receber benefícios sociais tem um potencial de alta complexidade.
As
discussões sobre esses programas pioneiros vão moldar os próximos e,
por motivos óbvios, têm interesse também para o Brasil por causa das
perguntas fundamentais que coloca: as desvantagens por raça ou cor se
sobrepõem às desvantagens sócio-econômicas? Onde acaba uma e começa
outra? Reparações por discriminação com origens na escravidão ou por
circunstâncias específicas são uma forma razoável ou desejável de fazer
justiça?
Não existem respostas fáceis.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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