O que o STF fez ao inocentar Lula foi mostrar o grande erro da operação Lava Jato: ela não sabia com quem estava falando. E não foi por falta de aviso. Guilherme Fiuza para a Gazeta do Povo:
O
STF reparou uma injustiça histórica. De fato, havia um erro na questão
da competência para julgar Lula. Todo mundo sabe que ele só poderia ser
julgado numa vara onde houvesse um juiz capaz de atestar a idoneidade do
ladrão.
E
isso não aconteceu. Lula foi condenado por corrupção passiva e lavagem
de dinheiro (duas vezes) porque o judiciário de primeira instância, de
segunda instância (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e de terceira
instância (Superior Tribunal de Justiça) estava muito mal equipado, sem
um único juiz amigo que pudesse compreender a complexidade desse homem
bom que assaltou o povo sem querer prejudicar ninguém. Ao menos uma
fração daqueles quase 5 bilhões de reais devolvidos pela quadrilha do
petrolão poderia ter sido usada para comprar um pouco mais de
compreensão.
A
vara de Curitiba só podia julgar processos relacionados à Petrobras. A
OAS ganhou de Lula contratos fraudulentos com a estatal petrolífera e
pagou a ele e seu bando propinas oriundas do caixa de corrupção da
empreiteira, mas não tinha nenhum azulejo do triplex do Guarujá com o
carimbo “Obrigado, Lula, pela grana que nós roubamos juntos da
Petrobras”.
Ou
seja: uma coisa é você roubar honestamente a maior empresa pública do
país porque você tem o legítimo desejo de ficar rico que nem os seus
comparsas; outra coisa muito diferente é a Justiça querer adivinhar o
que foi propina decorrente da negociata e o que foi só um presentinho do
seu amigo empreiteiro porque ele gosta de você. Obviamente isso é
questão de foro íntimo, e a 13ª Vara de Curitiba vai ter que responder
por invasão de privacidade.
O
que o STF fez ao inocentar Lula foi mostrar o grande erro da operação
Lava Jato: ela não sabia com quem estava falando. E não foi por falta de
aviso. A intelectualidade de cabresto, a burguesia decadente, as
subcelebridades e a bandidagem do bem alertaram desde sempre os homens
da lei: para Lula não há lei. E o escândalo do mensalão era a prova
cabal disso (ou científica, como se diz hoje nos melhores fundos de
quintal): José Dirceu foi preso por montar um propinoduto entre empresas
estatais e o PT para comprar deputados e outras bugigangas – e Lula
saiu assobiando numa boa, porque Dirceu era seu braço direito, mas nem
todo mundo sabe o que o seu braço direito faz. Nem a sua mão boba.
A
Lava Jato não quis entender isso. Se recusou a obedecer a lei máxima
nacional segundo a qual roubar não é crime se você é um picareta
festejado por estrelas cadentes da MPB e por uma legião de inocentes
úteis e inúteis. Perdeu, playboy. Ressuscitando sua lendária militância
em favor de Dilma Rousseff, a musa dos intelectuais, o ministro Fachin
sacou sua faquinha e tchum! Adeus, roubalheira. Aí foi só correr para o
abraço das togas esvoaçantes, exuberantes como asas de urubu em perfeita
coordenação para envolver e proteger a carniça. Lula livre!
Agora
ninguém segura. Se as eleições fossem hoje, Lula seria eleito com 171%
dos votos – informa o Instituto DataVenia. E você tem duas opções:
arrumar um padrinho na cleptocracia ou se levantar daí e avisar que não
vão te assaltar de novo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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