Jussara Soares
O Globo
A coleção de atritos de Fabio Wajngarten com outros integrantes do governo foi decisiva para que o presidente Jair Bolsonaro autorizasse a demissão dele do comando da Secretaria Especial de Comunicação (Secom).
Informado dos desentendimentos de Wajngarten com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, Bolsonaro reagiu dizendo que o auxiliar “não sabe respeitar a hierarquia”, lembrando que já era o terceiro ministro com quem o secretário se desentendia.
SUBSTITUIÇÃO – Wajngarten deve ser substituído pelo secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha, e pode ganhar um novo posto no governo. A mudança deve ser publicada em breve no Diário Oficial da União (DOU).
Antes de Faria, Wajngarten entrou em conflito com o ex-ministro da Secretaria de Governo (Segov) Carlos Alberto dos Santos Cruz e com o atual chefe da pasta, Luiz Eduardo Ramos, quando a Secom era subordinada ao ministério. Em junho do ano passado, a secretaria foi transferida para o Ministério das Comunicações, recriada para abrigar Faria. Na época, Wajngarten apoiou a mudança e a chegada do novo ministro ao governo.
Desde o início, integrantes do Planalto faziam uma bolsa de apostas para saber quanto tempo a boa relação entre ambos duraria, já que os dois têm personalidades diferentes. As rusgas não demoraram aparecer. O principal motivo de atrito era, segundo interlocutores de ambos, o radicalismo e a insubordinação de Wajngarten, que não aceitava Faria como seu superior.
PACIFICAÇÃO – O ministro das Comunicações chegou ao Executivo com o discurso que era “hora de pacificar país” e com a missão de apaziguar as relações do governo Bolsonaro tanto com a imprensa quanto com Legislativo e Judiciário.
No final de 2020, o atrito entre ambos chegou ao auge. Ao saber da briga, Bolsonaro, irritado, deixou nas mãos de Fábio Faria o poder de decidir destino de Wajngarten, lembrando o histórico de conflitos do chefe da Secom. No começo deste ano, os dois voltaram a se entender, e o chefe da Secom ganhou sobrevida no cargo.
No final de janeiro, a interlocutores, Faria dizia que o episódio estava superado e que estavam alinhados novamente. Na festa de comemoração pela eleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) , no dia 1 de fevereiro, Faria e Wajngarten conversavam animadamente e aparentavam um clima amigável.
PERFIL CONCILIADOR – No dia seguinte, em 2 de fevereiro, o ministro das Comunicações embarcou para uma viagem de dez dias por Suécia, Finlândia, Coreia do Sul, Japão e China para visitar empresas de tecnologia 5G. O almirante Flávio Rocha esteve na comitiva. As conversas para que o militar, que comandou a comunicação da Marinha, assumisse a Secom teriam começado durante este período. Elogiado por ter um perfil conciliador, Rocha é considerado o oposto de Wajngarten.
Conflitos com ministros da área militar também contribuíram para Bolsonaro autorizar a demissão de Wajngarten . Além do ministro-chefe da Segov, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, também esteve no alvo. No ano passado, Wajngarten se colocou como interlocutor do governo com representantes da Pfizer para a compra das vacinas. Como a aquisição não avançou, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, passou a ser alvo de “fritura” do chefe da Secom. Bolsonaro também não gostou.
Wajngarten chegou ao governo em abril de 2019. Com perfil explosivo, ao longo de quase dois anos no governo, acumulou atritos com técnicos, militares e até mesmo com alguns integrantes da ala ideológica. A atuação dele também foi criticada pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Ao chefe da Secom é atribuída a fritura que ajudou a derrubar o ex-ministro-chefe da Segov Santos Cruz,e o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.
INTERMEDIAÇÃO DE WASSEF – Apesar dos atritos, Wajngarten conseguiu se manter no cargo por ter construído uma relação próxima ao presidente, que conheceu durante a pré-campanha eleitoral de 2018 por intermédio do advogado Frederik Wassef, atualmente à frente da defesa do senador Flávio Bolsonaro no caso envolvendo as “rachadinhas” no período em que o filho do presidente era deputado estadual no Rio.
Dono da empresa Controle da Concorrência, nome fantasia da FW Comunicação e Marketing, e ex-funcionário do SBT, Wajngarten foi apresentado como um homem capaz de abrir portas em emissoras de televisão para o então candidato. Acabou ganhando força após o Bolsonaro ter levado uma facada em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Wajngarten providenciou a transferência para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
ACESSO LIVRE – Durante os 23 dias de internação, Wajngarten tinha acesso livre ao quarto do então candidato e se aproximou de Carlos Bolsonaro. Depois da eleição, se manteve distante. O contato com o presidente e Carlos foi retomado quando Bolsonaro passou 17 dias hospitalizado para a retirada da bolsa de colostomia , entre janeiro e fevereiro de 2019. Foi justamente nesta época que começou a se desenhar a crise que culminou, dias depois, com a demissão de Bebianno, então ministro-chefe da Secretaria-Geral.
Apesar dos conflitos, Wajngarten sempre contou com o apreço de Bolsonaro. Ele foi mantido no cargo mesmo após o jornal “Folha de S.Paulo” revelar que o chefe da Secom era sócio de uma empresa que recebia dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pelo governo. Agora, ao autorizar a demissão de Wajngarten, Bolsonaro acenou com a chance do chefe da Secom seguir no governo como assessor especial da Presidência. Wajngarten ainda não respondeu.
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