Repetindo: esse personagem está pleno de certeza de ser uma ilha no meio de um oceano de trouxas. Guilherme Fiuza para a Gazeta do Povo:
João
Dória disse que não precisa da Anvisa para validar sua vacina. João
Dória é o governador de São Paulo e a Anvisa é a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. Tradução: uma autoridade brasileira está
transformando saúde pública em assunto particular.
Dória
disse que bastará a vacina ser validada por qualquer outro órgão de
saúde do mundo. Dória diz qualquer coisa. Disse que salvou dezenas de
milhares de vidas com seu lockdown indiscriminado, totalitário e burro.
Estudos sérios em Harvard, Stanford e outros centros importantes já
fulminaram essa bravata. As regiões com maiores níveis de trancamento
não tiveram menos óbitos. Dória jogou na lama o nome do Instituto
Butantã para fazer seu marketing irresponsável.
As
relações do atual governador de São Paulo com a ditadura chinesa
parecem suscitar situações exóticas. Essa desenvoltura para tentar
atropelar a autoridade sanitária brasileira, por exemplo, é um movimento
bastante comum num regime autoritário, onde o governante sobrevoa as
leis e as instituições de acordo com o que lhe convém. João Dória quer
ser presidente da República, mas não está com paciência para esperar. Já
começou a exercitar seus instintos discricionários para ver se cola.
Parece confiante na retaguarda ditatorial que arranjou.
A
impaciência desse arrivista é proporcional à paciência dos brasileiros
com os seus arroubos. Um sujeito que trancou severamente o coração da
economia brasileira, alegando uma ética humanitária indemonstrável, e
ainda insinuando que os que consideravam necessário continuar
trabalhando eram gananciosos, jamais teve de apresentar à sociedade os
critérios de suas medidas extremas. Quantos milhares de empresas
quebraram? Quantos milhares de pessoas perderam o emprego e ficaram à
míngua, dependendo de socorro estatal? O laudo demonstrando que o
lockdown totalitário era questão de vida ou morte nunca apareceu, e
nunca vai aparecer.
Mas
o arrivista segue imperturbável seu roteiro obscuro. Passou a defender a
obrigatoriedade da aplicação de uma vacina que não existe, sendo
signatário de uma parceria para o desenvolvimento do produto imunizante
em associação com um laboratório chinês – sediado na referida ditadura
que escondeu a disseminação do vírus impondo ao mundo uma pandemia. Nada
constrange João Dória. Nem o fato de que as características do contágio
não indicam a necessidade de vacinação de toda a população. Seus sócios
mandam no povo com chicote debaixo do braço e ele está apaixonado por
essa ideia.
Depois
disse que houve uma “confusão” sobre a sua declaração de atropelamento
da Anvisa. Afirmou que a validação da vacina poderia ser feita por
instituições no exterior, mas que esperava pela certificação da agência
brasileira para vacinação no país. Ou seja: Dória está absolutamente
convicto de que só lida com idiotas. De que valeria a validação no
exterior sem a autorização para aplicação no Brasil? Qual a serventia da
sua bravata? Possivelmente acredite que assim estaria pressionando ou
constrangendo a Anvisa em direção à decisão que ele quer porque quer que
seja tomada ontem.
É
a mesma linha da distinção luminosa que fez, em outra ocasião, sobre a
diferença existente entre comprar vacina e aplicar vacina. Repetindo:
esse personagem está pleno de certeza de ser uma ilha no meio de um
oceano de trouxas. E talvez esteja certo – se continuar avançando na sua
paranoia de poder sem que a sociedade lhe mostre os limites da
democracia.
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