Poucos querem que ela vá embora, mas o candidato que corre por fora para seu lugar, além de se fantasiar no carnaval, acha que vai fazer melhor. Vilma Gryzinski:
Se quisesse, Angela Merkel
ficaria. O bom desempenho do país na crise do coronavírus fechou as
cicatrizes abertas cinco anos atrás, quando a primeira-ministra permitiu
a entrada de mais de um milhão de refugiados vindos de cantos
miseráveis da terra.
Tem
que ter uma vontade de ferro, e vaidade altamente sob controle, para
olhar um índice de 70% de aprovação e, mesmo assim, manter o plano de se
aposentar depois das eleições de outubro do ano que vem.
Fora
os três burocratas do partido dela, com mais chances por causa da
máquina partidária, o candidato mais interessante e com personalidade um
pouco menos cinzenta é Markus Söder.
Ele
é da União Social Cristã, partido bávaro “irmão” da democracia-cristã.
Logo no começo da crise do coronavírus, chegou a superar Angela Merkel
em aprovação por causa da medidas enérgicas para combater a epidemia.
Depois,
as coisas se equilibraram, Merkel tomou uma posição de chefe da nação,
embora, na prática, continuasse a autonomia das dezesseis unidades
constituintes do país, os Länder, estados com relativa independência,
inclusive por muitos terem constituído países separados no passado.
Essa
descentralização é considerada uma das razões do sucesso comparativo da
Alemanha, que chegou ao fim da primeira onda (a segunda também já está
rondando) com pouco mais de 9 500 mortos, contra números três ou quatro
vezes maiores nos outros países europeus grandes, e uma queda anual da
economia calculada em 5,8%, um “bom” número nos tempos atuais.
“A
Alemanha está se saindo melhor na crise do que a maioria dos outros
países industrializados”, anotou a Spiegel, refletindo um orgulho apenas
levemente disfarçado.
Para
manter a economia viva, o governo injetou mais de um trilhão de euros
na mágica – ou falta dela. Os discretos condutores do resgate são o
ministro da Economia, Peter Altmeir, e o das Finanças, Olaf Scholz, que é
da Social Democracia, o partido que divide o governo de coalizão.
Um
dos destinos do derrame de dinheiro é o Kurzarbeit, ou trabalho curto, a
semana abreviada de 10 a 12 horas de trabalho, com o salário bancado
pelo governo.
O esquema permitiu manter o desemprego sob controle. Em agosto, foi de 6,4%. Nos Estados Unidos, foi de 8,4%.
A economia americana é cinco cinco vezes maior do que a alemã, que tem um PIB de quase 4 trilhões de dólares.
Angela
Merkel não quer nem ouvir falar em prolongar seu mandato e respondeu
com um “Nein” curto e definitivo quando um repórter perguntou, se num
momento excepcional como o atual, ela não pensaria nem por um momento em
“continuar numa posição de responsabilidade”.
O
plano que ela tinha para a sucessão sofreu um baque quando a potencial
sucessora, já escolhida como presidente da União Democrata Cristã ,
Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciou em fevereiro, bem no começo da
crise do corona, que não se candidataria a primeira-ministra e deixaria o
comando do partido em outubro do ano que vem.
Sobraram
“os de sempre”, que disputarão a chefia do partido em dezembro (deveria
ter sido em abril, mas a pandemia adiou a programação).
E
Markus Söder. Ele teria alguma chance se a Alemanha entrasse no que já
foi descrito como um “momento Macron”, uma aposta do eleitorado em
alguém mais diferente do que os políticos tradicionais.
No
momento, 38% dos alemães dizem que conseguem vê-lo como Kanzler da
República, mais do que os concorrentes. O mais próximo disso é Olaf
Scholtz, o ministro das Finanças.
Söder, além de parecer que quer, tem que dizer que quer.
Seria,
pelo menos, uma novidade. E não apenas pelas fantasias elaboradas que
ele gosta de desfilar no Carnaval de Munique. Já saiu de Gandalf, Shreck
e de Gandhi (com maquiagem para o rosto ficar mais escuro, o que
provocaria colapsos em série nos Estados Unidos).
Mas
é claro que a fantasia mais chamativa foi a de Marilyn Monroe. Depois
do reinado da sólida, contida e sóbria Angela Merkel, ter uma Marilyn no
governo alemão seria uma novidade.
Por
motivos óbvios, é considerado politicamente incorreto dizer, logo
depois da menção à fantasia de Marilyn, que Söder é casado (com uma
mulher) e tem quatro filhos.
Gay
é o ministro da Saúde, Jens Spahn, também filiado à União Democrata
Cristã, um potencial futuro candidato à chefia de governo.
Spahn
foi vaiado, xingado e até cuspido, de longe, quando tentou conversar
com integrantes de uma manifestação contra o uso de máscaras, um
movimento que está crescendo na Alemanha.
Diante da estupidez, subiu sua cotação.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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