Dos seis municípios que ficam próximos do Parque Nacional, apenas um está aberto à atividade
Aurelio Nunes
Especial para o bahia.ba
Porto Seguro iniciou seu processo de abertura no dia 15 de julho e a Praia do Forte já vem recebendo muitos visitantes desde o feriado de 7 de setembro. Salvador começou a liberação do acesso à orla marítima no último dia 21 e os meios de hospedagem de Itacaré estão autorizados a funcionar com até 70% de sua capacidade. Trocando em miúdos, não faltam opções ao turista que vem à Bahia em busca da combinação sol e mar. O mesmo não pode ser dito dos amantes do ecoturismo e do turismo de aventura. Eles terão de aguardar um pouco mais ou então submeter-se a um leque de opções bem mais restrito, principalmente se o destino for a região da Chapada Diamantina.
Dos seis municípios que ficam no entorno do Parque Nacional da Chapada Diamantina, apenas um, Mucugê, está aberto à atividade turística. Andarái, Ibicoara, Itaetê e Palmeiras permanecem fechados. E Lençóis, principal destino da região, reabre a partir do dia primeiro de outubro. Mas quem quiser passar pela barrreira sanitária montada na entrada da cidade, situada a 420km de Salvador, terá de comprovar que não está contaminado pela covid-19 e que tem uma reserva de hotel ou pousada local. Segundo a Secretaria Estadual de Turismo, trata-se da primeira e única cidade baiana a fazer tal exigência.
“Somos contrários à obrigatoriedade do teste negativo de covid-19 pois trata-se de uma exigência impeditiva ao ingresso do turista no município. Batemos nesta tecla porque exigir o teste é praticamente o mesmo que manter a cidade fechada”, critica a presidente da Associação Comercial, Empresarial, Industrial, Agrícola e de Serviços de Lençóis, Ana Moreira. Na condição de gerente financeira do Hotel de Lençóis, um dos maiores da cidade, ela diz que, nas atuais condições impostas pela prefeitura não compensa reabrir as portas do estabelecimento, fechadas há seis meses.
O presidente do Conselho Municipal de Turismo, Anselmo Macedo, também diz que a maioria dos conselheiros do órgão que representa é contrário à exigência de teste. “Realizamos uma reunião no último dia 18 e, na frente do prefeito eu pedi para que as pessoas que apoiavam essa medida se levantassem: apenas três dos 45 presentes ficaram de pé”, lembra. Anselmo é gerente geral do hotel Portal de Lençóis e diz que, apesar das restrições, pretende reabrir as portas no final de semana do feriado de 12 de outubro.
IMBROGLIO – A própria redação do decreto publicado pela prefeitura de Lençóis gerou polêmica. Entre a exigência de teste de covid e de reserva em meio de hospedagem, a inclusão da expressão “alternativamente”, abre espaço para a interpretação de que na ausência do primeiro documento é possível entrar na cidade apenas com o segundo. Consultado sobre o assunto pela reportagem do bahia.ba, o advogado Marcos Quintas Gonçalves foi categórico. “Com esse decreto na mão eu entro em Lençóis sem teste”, declarou.
A Prefeitura de Lençóis discorda desta interpretação. Em a nota divulgada pela assessoria de comunicação, o órgão explica que condicionar a liberação da entrada de turistas à cidade à apresentação de teste negativo de covid-19 foi uma medida tomada “para maior segurança da comunidade. O Município está realizando monitoramento dos casos e uma flexibilização maior está prevista se o quadro apresentado e avaliado for favorável para tal. É importante salientar que decidimos por uma abertura gradual e lenta”, diz a nota.
É com a promessa de tal flexibilização gradual das normas que a Prefeitura pretende promover uma distensão na disputa com o trade turístico local. Até o final de semana, a ACEL estava disposta a judicializar a questão. Mas hoje, uma série de informações extraoficiais que já circulam na cidade – como a de que a Prefeitura contratará uma empresa especializada na realização de testes rápidos de Covid-19 para atuar junto à barreira sanitária – tratou de acalmar os ânimos. “Essa exigência do teste deve funcionar só no começo pra filtrar a entrada e vai cair em 15 dias, no próximo decreto”, aposta Anselmo.
PARQUE FECHADO – A disposição pela reabertura ao turismo encontra outro obstáculo na região: a suspensão da visitação ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, decretada em 22 de março, e ainda em vigor. Assim que a cidade de Mucugê anunciou a reabertura ao turismo, no início do mês, o Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICM-Bio), órgão que responde pela gestão do Parque, deslocou uma equipe de brigadistas para impedir o acesso à trilha para a Cachoeira dos Funis. Ainda não está decidida a adoção de medida similar em Lençóis e nos demais municípios que fazem divisa com o Parque, caso decidam reabrir também. Mas equipe para isso, não falta: o último processo seletivo contratou 42 brigadistas, a maioria deles exercendo apenas algumas atividades de campo, já que não há registros de queimadas na região.
A estação meteorológica do INMET de Lençóis registrou um acumulado de 1.224,3mm de chuva entre janeiro e agosto de 2020, 60% a mais que a média histórica para o período, que é de 765,2mm.
Em alguns pontos, o ICM bio conta com ajuda externa, caso da Cachoeira da Fumaça, um dos atrativos mais procurados da Chapada, onde a entrada está ė vigiada pela Associação de Condutores de turistas do Vale do Capão (ACVVC). A localidade é um distrito do município de Palmeiras, onde o decreto de fechamento à atividade turística vence no dia 2 de outubro. O Conselho de Gestão do Capão (CGC), coletivo de associações do Vale, reivindica que a Prefeitura prorrogue o decreto por mais 30 dias, para somente depois de novembro iniciar a reabertura gradual do turismo local.
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