BLOG ORLANDO TAMBOSI
Dessa vez, é sobre seu imposto de renda, revelado em detalhes nada palatáveis pelo 'New York Times', numa repetição do que aconteceu em 2016. Vilma Gryzinski:
No
último debate da campanha de 2016, Hillary Clinton “deu uma aula magna
de como desviar e contra-atacar” (BBC), Donald Trump “se fez de palhaço”
(Guardian) e “saiu com sua campanha demolida” (Vox).
Sem
contar que estava massacrado pelo escândalo do tape onde comentava que,
por ser famoso, podia fazer qualquer coisa com as mulheres, inclusive
“agarrá-las” pelos genitais – o termo era bem menos publicável.
O resultado todo mundo sabe qual foi.
As semelhanças são impressionantes com o debate de amanhã, o primeiro, entre Trump e Joe Biden.
Como
Hillary, Biden está tão à frente das pesquisas que muitos democratas já
estão preparando a festa da vitória – e a lista de cargos a serem
distribuídos.
O
escândalo do momento também é bombástico. Embora menos constrangedor
por não envolver palavrões, evoca a odiosa figura do ricão que não paga
imposto de renda e sustenta uma vida de nababo, enquanto o povaréu tem
que levar a mordida anual.
As
declarações de rendimentos como pessoa jurídica, não física, foram
obtidas pelo New York Times e resumidas assim: Trump pagou 750 dólares
de imposto no ano em que foi eleito presidente e a mesma quantia em seu
primeiro ano na Casa Branca.
Nos dez anos anteriores, não pagou nada, tendo obtido devoluções de espantosos 72,9 milhões de dólares por perdas declaradas.
As
devoluções, se preencherem todos os requisitos, são legítimas,
obviamente – Trump só pode ter as maiores feras do ramo a seu serviço.
A Receita Federal contesta o valor e é esse litígio, entre outros fatos, que Trump tanto lutou para manter em sigilo.
Sem
contar as táticas manjadas de comprar propriedades com o objetivo
explícito de perder dinheiro, no caso dele, os clubes de golfe.
Além de debitar despesas aparentemente pessoais – avião particular, cabeleireiro, maquiador – na pessoa jurídica.
Se todos os milionários brasileiros fossem escrutinados pelos mesmo motivo, quem sobraria?
Trump
pode argumentar, com razão, que vivia de sua imagem, principalmente do
programa de televisão que no Brasil ganhou a tradução de O Aprendiz.
“Alguns
questionarão a publicação dos informes pessoais de renda do
presidente”, escreveu o diretor de redação do Times, Dean Baquet,
sabendo muito bem que o furo do jornal está sendo comemorado com
champanhe pela oposição democrata.
Principalmente
por acontecer na véspera do debate com Joe Biden, com toda expectativa
gerada de que o candidato possa escorregar em algum de seus “brancos” de
memória ou frases sem sentido.
Como
Trump é Trump, tuitou que gostaria que o adversário fosse submetido a
um exame para detectar possíveis substâncias estranhas no organismo.
“Naturalmente, eu também farei um”.
A ideia de fazer um doping no debate presidencial é uma das maiores doidices de Trump – e não faltam concorrentes nessa área.
Mas
tem lógica: se Biden se sair bem, ou não tropeçar catastroficamente,
Trump já sabe que a grande imprensa o dará por vencedor.
“O
vice-presidente Biden pretende responder as perguntas com palavras. Se o
presidente acha que seu melhor argumento é feito com urina, que o
faça”, espetou uma representante da campanha democrata.
A
revelação das manobras fiscais de Trump naturalmente vai ocupar todos
os espaços, depois de dois dias em que ele pareceu tão presidencial
quanto possível ao confirmar a indicação de Amy Coney Barrett para a
Suprema Corte.
Ficou
um pouco mais difícil pintar a juíza e professora de direito de jeito
simples, mãe de sete filhos, com sotaque interiorano e bijuterias
singelamente descombinadas, como uma bruxa malvada que vai acorrentar as
mulheres e obrigá-las a cobrir os cabelos e usar longas túnicas
vermelhas como no livro e série The Handmaid.
Erroneamente,
a inspiração do livro de Margaret Atwood foi atribuída ao grupo de
renovação carismática Povo do Louvor frequentado por Barrett.
O processo de confirmação da juíza vai criar um clima pré-eleitoral mais incendiário ainda.
Na
posição de desfavorecido, com todo o establishment unido contra ele
mais fervorosamente ainda do que em 2016, Trump vai brigar como nunca.
Vencerá como sempre ou, dessa vez, não aguentará?
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