Shaw foi eugenista e admirador de fascistas. Mas é também um dos poucos dramaturgos ingleses cujas peças ainda podem ser encenadas para o deleite da plateia um século mais tarde. Theodore Dalrymple para o City Journal, com tradução para a Gazeta do Povo:
Os
alunos da Academia Real de Artes Dramáticas exigiram que o nome de seu
teatro seja mudado. Atualmente, o teatro é batizado em homenagem a
George Bernard Shaw, que legou parte de seus direitos autorais à
Academia (RADA, na sigla em inglês). Por uma feliz coincidência, este
ano o trabalho de Shaw entra em domínio público e seu espólio não terá
de continuar dando dinheiro para a Academia.
Os
alunos querem o nome de Shaw retirado do teatro porque ele era um
eugenista fervoroso e teceu elogios extremamente tolos a Hitler,
Mussolini e Stalin. Shaw acreditava que os seres humanos deveriam se
reproduzir como os animais se reproduzem numa fazenda, e uma vez ele
disse que as pessoas improdutivas deveriam ser eliminadas.
Óbvio
que a administração da Academia acatará a demanda dos alunos: ela já
declarou que a RADA foi “institucionalmente racista” com toda a
humildade sincera de alguém acusado de ser acumulador capitalista
durante a Revolução Cultural.
Meu
sentimento em relação a George Bernard Shaw é contraditório. Ele era um
salafrário de alta classe, sempre em busca de fama e que defendia
causas ruins, e em geral preferia uma boa piada à verdade. Ele
considerava Louis Pasteur e Joseph Lister fraudes e, no fim da vida,
deixou de acreditar que germes causavam doenças.
Ele
associava o casamento à legalização da prostituição e disse muitas
outras coisas absurdas para chamar a atenção. Ninguém tem certeza do
quanto ele acreditava em suas piores frases e se esperava mesmo
influenciar alguém ao dizer aquilo.
Por
outro lado, ele foi um dos poucos dramaturgos ingleses cujas peças
ainda podem ser encenadas para o deleite da plateia um século mais
tarde. Uma ou duas peças podem até ser consideradas geniais. Ele sempre
tinha ótimas tiradas e, se era insuportavelmente grosseiro, em sua prosa
era cheio de energia e geralmente muito elegante. Aprendi a escrever
com ele. Muitas das piadas dele são quase tão engraçadas quanto as de
Oscar Wilde.
O
teatro foi batizado em homenagem ao dramaturgo – um dramaturgo de fama
mundial – e não ao pensador ou analista político. As peças dele estão em
catálogo desde sempre. Não se pode negar as realizações dele no teatro.
Shaw é praticamente o fundador do drama inglês contemporâneo. Posso me
lembrar de ao menos 20 peças nos recônditos da minha mente.
Se
todas as pessoas celebradas por suas excepcionais conquistas forem
tiradas do pedestal porque depois se descobriu que elas não eram santas
(de acordo com a ideia atual de santidade), vamos acabar homenageando
apenas a nós mesmos.
Não
permitiremos mais montagens de Shakespeare porque, em seu testamento,
ele deixou para a esposa sua “segunda melhor” cama, revelando assim
(supomos) sua profunda misoginia.
Deveriam
dizer aos alunos da RADA que, se eles odeiam tanto o nome do teatro,
deveriam estudar em outro lugar. Mas no clima atual de total
pusilanimidade, e de uma rendição tão abjeta que torna a visita de
Neville Chamberlain a Munique quase um ato de heroísmo, isso jamais será
feito.
Theodore Dalrymple é médico e escritor.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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