O “ativismo” envolve insultar e assediar sexualmente a autora. Artigo de Brendan O'Neill, editor da Spiked, para a Oeste:
Eis
que os astros pop John e Esward Grimes, cantores e apresentadores de
TV, com seus topetes arianos e seus maneirismos estranhamente intensos,
não só parecem uma dupla de membros da Juventude Hitlerista que foi às
compras na cadeia de lojas TK Maxx. O modo como falam só aumenta a
sensação. Na semana passada, sempre ávidos por entrar na onda, mesmo que
seja uma onda de ódio misógino, os gêmeos do pop irlandês sugeriram a
seus seguidores do Twitter queimar o novo romance de J. K. Rowling
quando for publicado. “Alguém precisa de lenha neste inverno?”, dizia o
tuíte. “O próximo livro de J. K. é perfeito para queimar em uma fogueira
romântica. Oh, acomodem-se, não vemos a hora.”
Deixemos
de lado os níveis industriais de ousadia necessários para dois rapazes
que não sabem a diferença entre um ponto de exclamação e um ponto de
interrogação tentar atacar a escritora britânica mais bem-sucedida de
todos os tempos. A coisa mais impressionante sobre o tuíte dos irmãos é
sugerir que a queima de livros está de volta. O grito dos jovens
fascistas para que o novo livro de Rowling seja queimado foi retuitado e
curtido milhares de vezes, por exércitos de supostos aliados das
pessoas trans que se voltaram contra a autora como ela fosse um
Voldemort da vida real: uma figura maligna e desprezível cujos trabalhos
deveriam ser jogados em enormes fogueiras, enquanto a multidão
politicamente correta grita de prazer.
O
ódio por J. K. Rowling está fora de controle. Ele vai muito além das
tentativas de cancelamento diárias e dos estridentes ataques das hordas
do Twitter contra qualquer um que ouse desviar-se do pensamento das
elites politicamente corretas. O ódio por Rowling é muito mais cru,
muito mais intenso, muito mais irracional.
O
pecado intelectual da autora, seu crime verbal, claro, é acreditar no
sexo biológico. Ela acredita que existem diferenças entre homens e
mulheres. E acha que homens biológicos deveriam cair fora de espaços de
mulheres em vestiários, torneios esportivos, prisões, centros de apoio a
vítimas de estupro e outros. Muitos de nós concordam com ela. E por
isso ela é frequentemente bombardeada com ameaças de estupro e morte.
“Chupe meu pau!”, vermes sexistas tuítam para ela. Eles conclamam que a
autora morra no fogo. Enviam-lhe pornografia explícita. A hashtag
#RIPJKRowling repercutiu na semana passada no Twitter. Essas pessoas
estão loucas. Quando seu “ativismo” envolve insultar e assediar
sexualmente uma mulher por ter um pensamento que é diferente do seu,
você precisa ter uma conversa séria consigo mesmo.
O
ódio transtornado contra Rowling se intensificou depois que foi
relatado que seu próximo romance da série Strike — a série de romances
policiais que ela escreve sob o nome Robert Galbraith — terá, de pano de
fundo, a história de um homem que se veste de mulher e sai por aí
assassinando mulheres. “Transfobia”, as massas iluminadas e conscientes
do Twitter previsivelmente gritaram. Não pela primeira vez, a fúria
sexista que se volta contra Rowling foi, em grande parte, inflamada por
Pink News. A revista gay on-line empenhou-se em aplicar a mulheres
céticas em relação a certos aspectos da transgeneridade o rótulo de
“TERFs” — isto é, bruxas, cretinas e mulheres arrogantes que, na
verdade, deveriam fazer o que os editores da Pink News mandam.
O
filistinismo cego da multidão anti-Rowling se confirma no fato de que
ninguém leu o romance. Ele ainda nem foi lançado. Mas, quando as hordas
da censura pararão para ler, observar ou pensar de fato sobre o livro, a
pintura ou o filme que querem boicotar ou queimar? A turba não é
conhecida por um engajamento racional. Então, assim como os
nacional-socialistas da Alemanha queriam apagar a arte degenerada, e
figuras como Mary Whitehouse queriam banir peças rudes, as massas
anti-Rowling também têm fantasia de atear fogo a um romance que ainda
não leram porque foi escrito por uma mulher que elas desprezam
irracionalmente.
Por
que o ódio por Rowling é tão inflamado, tão instável? Parece-me haver
duas razões. Primeira, a própria natureza não cancelável de J. K.
Rowling enfurece essas turbas que estão tão acostumadas a extrair um
mea-culpa de toda figura pública contra a qual se voltam. Rowling é
grande demais, bem estabelecida demais, global demais para ser
massacrada facilmente pela polícia do politicamente correto. A recusa
dela a abandonar suas crenças e opiniões sobre sexo e gênero enlouquece
esses autoproclamados guardiões da moral, porque os faz lembrar as
limitações de seu poder censor. Sua firmeza também é um lampejo para
todos os demais, um lembrete de que mesmo nesta era sombria de censura
você pode manter seus princípios. E isso é intolerável para as hordas
politicamente corretas que não querem nada além de conformidade
inabalável de toda a sociedade a seus dogmas políticos e morais.
Em
segundo lugar, a rejeição da autora da ideia de que as pessoas podem se
autoidentificar com o sexo que prefiram representa um desafio para toda
a igreja do identitarismo. Pode ser um desafio involuntário — tenho
certeza de que Rowling não é totalmente contra as políticas identitárias
—, mas, mesmo assim, é um desafio. O ceticismo em relação à
transgeneridade põe em questão não apenas o direito de homens serem
legalmente reconhecidos como mulheres e acessarem espaços para mulheres,
mas também as culturas no narcisismo, da validação terapêutica e do
conformismo — que são as pedras fundamentais da perspectiva identitária.
Ela lança dúvidas sobre a crença do século 21 de que a identidade do
indivíduo é sacrossanta e que a sociedade e todos os seus habitantes têm
o dever de validar e se curvar a essa identidade.
Ao
levantar questões contra a ideia louca de que pessoas com pênis podem
literalmente ser mulheres, Rowling está questionando implicitamente o
hiperindividualismo e a altíssima consideração pela política
identitária. Ela ajuda a reintroduzir na discussão pequenas questões da
razão coletiva e realidade objetiva — nesse caso, o fato de que a
sociedade e a biologia têm uma compreensão de sexo e gênero que você não
pode simplesmente eliminar como “transfobia”.
É
por isso que eles a odeiam. É por isso que odeiam TERFs. Essas mulheres
questionadoras são as moscas na sopa da visão de mundo identitária. A
insistência de Rowling em pensarmos nos direitos das mulheres, na
realidade biológica e na razão objetiva ao discutir a transgeneridade
representa um golpe contra a irracionalidade da política identitária de
modo mais amplo. “Queimem os livros dela!”, gritam eles, porque sabem
que essa bruxa ameaça derrubar sua religião.
Brendan O’Neill é editor da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. E siga Brendan no Instagram: @burntoakboy
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário