O ministro finge ignorar que o indulto forjado por Michel Temer foi
concebido para livrar da cadeia corruptos de estimação, escreve Augusto Nunes:
Na sessão do Supremo Tribunal Federal desta quinta-feira, o ministro
Gilmar Mendes caprichou na pose de juiz dos juízes para reiterar que
enxerga nos brasileiros sem toga um ajuntamento de idiotas. Decidido a
justificar o indulto concebido por Michel Temer para livrar da cadeia
corruptos de estimação, Gilmar enriqueceu o capítulo brasileiro da
história universal da infâmia com dois falatórios capazes de deixar
ruborizados até chicaneiros patológicos.
No primeiro, o doutor em tudo avisou que libertar bandidos em louvor
do Natal é atribuição privativa do presidente da República, que pode
fazer o que quiser. Pode, por exemplo, tratar a pontapés a lei, a ética,
a sensatez, a moralidade e a Constituição. O chefe do Executivo,
ressalvou Gilmar, “está submetido aos custos políticos da concessão do
indulto”. Tradução: os insatisfeitos que votem contra Temer nas próximas
eleições. Haja safadeza.
No segundo falatório, o ministro da defesa de culpados tentou
contestar a informação divulgada pelos procuradores engajados na força
tarefa da Lava Jato: se o texto forjado por Temer permanecer intocado,
22 dos 39 alvos da operação encarcerados no Paraná serão contemplados
com o perdão. Depois de qualificar a constatação de “propaganda enganosa
e pouco responsável”, Gilmar ampliou seu vasto acervo de tapeações em
juridiquês de porta de cadeia.
“Dos 22 ditos beneficiados, 14 são delatores que já estavam livres do
cárcere”, disse. “Já estão a salvo, mas por ato do Ministério Público
Federal”. Se não sabe a diferença entre indulto e prisão domiciliar,
Gilmar não pode ser ministro por excesso de despreparo. Se sabe e finge
que não sabe, não merece ser ministro por excesso de cinismo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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