Interessante análise feita por Márcio Coimbra, colunista da Gazeta do Povo, sobre a falta de senso de realidade dos chamados "centristas":
Os tucanos trabalharam nesta campanha como linha auxiliar do petismo.
Isto decorre da falta de um projeto orgânico de partido para o país,
acima das vaidades pessoais, aliada a falta de uma leitura certeira do
cenário político eleitoral deste ano. O PSDB, assim como outros
partidos, tinha em seus quadros nomes viáveis para a disputa
presidencial. Todos acabaram por embaralhar-se em um emaranhado de
negociações e soberba política, algo que acabou entregando de presente
para Jair Bolsonaro o discurso antipetista.
João Doria fez a leitura certa deste pleito presidencial. Sabia que
existia uma via aberta contra o PT. Desde o princípio antagonizou com o
partido, assumindo a linha de frente dos ataques contra Lula. Com bom
trânsito entre os aliados e os caciques de Brasília, o ex-prefeito de
São Paulo era o nome preferido do mundo político para a missão, mas
havia um impeditivo no meio de tanto entusiasmo: Geraldo Alckmin, que
também queria ser candidato.
Nas hostes tucanas, Alckmin teria precedência em relação a Doria, uma
vez que era um membro fundador do PSDB e depois dos insucessos de José
Serra e Aécio Neves, havia chegado novamente a sua vez. Nada de
primárias ou consultas nas bases. Como sempre, o partido escolheria seu
candidato perto das benesses oficiais e longe do pulsar das ruas. Um
acordo entre caciques.
No centrão, o Democratas também possuía uma joia eleitoral em suas
mãos: Ronaldo Caiado. Com trânsito no eleitorado da direita, dono de um
discurso firme contra o petismo, manteve também uma postura cética e uma
distância regulamentar do governo Temer. Com apoio no agronegócio,
tinha o perfil perfeito para encarar esta disputa presidencial e vencer.
Seu partido, o Democratas, preferiu tomar outro rumo. Caiado será
eleito governador de Goiás com uma votação épica.
Faltou nestes casos, tanto ao PSDB, quanto ao DEM, a ideia de que é
mais importante chegar ao poder e implementar sua agenda, do que a
vaidade e interesses pessoais dos caciques. Os partidos brasileiros
ainda não aprenderam uma lição básica da política: precisam se aglutinar
em torno de um programa e escolher o nome mais viável eleitoralmente.
Isto fortalece o partido e suas bases. Chapas orquestradas dentro dos
gabinetes e longe das ruas geralmente resultam em fracassos eleitorais.
Doria e Caiado teriam condições de aglutinar apoios de centro-direita
que certamente dividiriam o eleitorado de Bolsonaro. Seus partidos,
entretanto, se equivocaram nas escolhas. Hoje, reféns de uma candidatura
natimorta, sem conexão com os desejos do eleitor, os tucanos e seus
aliados temem pela ascensão do deputado-capitão, que já ultrapassa os
30% das intenções de voto.
Bolsonaro surge no vácuo deixado pela inabilidade política daqueles
que tinham chance de absorver o antipetismo. Erraram na avaliação de que
o Brasil escolheria o caminho do meio. Ao se impor como candidato,
Alckmin empurrou o voto antipetista para Bolsonaro. Ao atacar o capitão,
colheu uma rejeição que implodiu sua campanha e abriu espaço para
Haddad crescer. Uma sucessão de erros que levou à polarização do cenário
eleitoral.
De antigos protagonistas, aqueles partidos que poderiam chegar ao
Planalto acompanharão a apuração como meros espectadores, certos de que
os votos que poderiam levá-los ao poder repousam confortavelmente nas
mãos de Bolsonaro. Uma vitória, que se confirmada, alterará de maneira
profunda o jogo de forças da política brasileira.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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