Reportagem de Miguel Caballero e Renata Mariz, edição de ontem de O Globo, destaca a indefinição do eleitorado, principalmente das eleitoras, em relação às eleições presidenciais de outubro. Essa indefinição, acredito, decorre da falta de transparência nos projetos que dizem pretender executar. É uma pena, porque tal situação desloca a intenção de voto em torno de um alvo indefinido. O desapontamento é maior entre as mulheres. Mas é preciso levar em conta que as mulheres representam 52% do eleitorado e os homens, portanto, 48%.
Tenho a impressão que a sensação de apatia vai diminuir a partir do momento em que começar o horário eleitoral na televisão e no rádio. Esta visão, aliás, é da professora Fátima Pacheco Jordão, especialista em comunicação política.
31 DE AGOSTO – Vamos conferir a partir de 31 de agosto, quando poderemos principalmente confrontar a influência das redes sociais e das emissoras de rádio e tv. Até o momento as redes sociais não influíram para animar os eleitores. Vamos ver se a partir de setembro, por exemplo, esse comportamento se modifica. É próprio da campanha política acentuar a mudança no decorrer dos dias na medida em que se aproxima o desfecho nas urnas.
De qualquer forma, os eleitores têm razão na sua frieza. Afinal de contas, um mar de corrupção afundou o país e o povo. Como alguém poderia pensar o contrário numa fase de total descrédito do poder e dos políticos. Um exemplo: Valdemar Costa Neto, voz maior do PR, foi quem decidiu o apoio da legenda a Geraldo Alckmin. Enquanto isso, Roberto Jeferson, do PTB, foi responsável pelo compartilhamento da legenda também com Geraldo Alckmin. São dois nomes marcados pela corrupção.
SEM VICES – Uma prova capaz de explicar o desânimo encontra-se na dificuldade de escolha dos candidatos a vice-presidente. Nenhum vice foi escolhido ainda pelos quatro candidatos com mais possibilidades de vencer: Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes e Alckmin. Fica nítida a dificuldade tanto dos que querem ser eleitos quanto de todos nós eleitores.
Se os candidatos tivessem programas específicos, poder-se-ia dizer que o eleitorado está mais apático do que os candidatos. Entretanto, são os próprios candidatos que fornecem a prova do contrário. Se eles até agora não conseguiram completar suas chapas, como esperar que os votantes tenham se definido a uma distância de pouco mais de dois meses das urnas. Os candidatos, pelo contrário, preocupam-se em negociar apoios em troca de tempo na televisão. Assim esquecem como viabilizar as propostas que vão emoldurar suas campanhas.
EXPLICAÇÕES – É necessário que os candidatos consigam explicar quanto e como pretendem mudar a face do governo do país. Vejam só: falar que vão resolver os problemas da saúde, da segurança, dos transportes, da educação, isto é algo comum no pensamento do eleitorado. Principalmente as mulheres, que se preocupam mais com a saúde de que com qualquer outro tema.
Mas não é esta a questão. A dúvida essencial é como os candidatos vão obter recursos capazes de realizar suas metas. Trata-se de uma explicação indispensável, porque, caso contrário, as palavras o vento leva, e tal perspectiva se repete de um pleito para outro.
TEMAS CRÍTICOS – Todos os postulantes abordam sempre os temas críticos, mas não tocando na forma de enfrentá-los, as promessas caem no vazio. Daí a reação das eleitoras e eleitores, principalmente das mulheres. Está se verificando, de outro lado, um sentimento de frustração que se renova a cada quatro anos. Até aqui, 30 anos depois da redemocratização, o panorama de angústia das classes de menor renda não foi coberto pelos projetos dos governantes.
Citei 30 anos porque houve eleições livres em 89. A pobreza não diminuiu, e os problemas coletivos, entre eles o desemprego, que afetou também a classe média, não foram solucionados e nem os governos passaram ao povo uma ideia de que caminhariam para uma evolução concreta no campo econômico social.
Daí porque o desânimo tomou conta de grande parte do eleitorado. Entretanto, tenho a impressão de que depois da televisão o clima vai mudar. Esperemos que pelo menos desta vez os programas políticos não sejam apenas promessas.
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