O problema ocorre porque os frigoríficos dependem diretamente de combustível e outros insumos para funcionar. A Cooperativa Central Aurora Alimentos informou que vai paralisar totalmente as atividades de suas indústrias de processamento de aves e suínos em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. A BRF já suspendeu o funcionamento de quatro unidades e nove frigoríficos pelo mesmo motivo.
Nas granjas, os animais correm o risco de começar a passar fome. Pelo menos um milhão de frangos e porcos estão ameaçados, alerta a World Animal Protection (WAP), uma ONG internacional que cuida do bem-estar dos animais. Segundo a ABPA, "os bloqueios impedem o transporte de ração, animais vivos e cargas refrigeradas".
Os produtores explicaram que o estoque de ração nas granjas não é muito grande; é suficiente apenas para 3 ou 4 dias sem abastecimento regular. "A partir do quinto dia, os produtores já começam a intercalar a alimentação -- dia sim, dia não; dois dias sim, um dia não -- para não ter a falta total", explicou José Rodolfo Ciocca, gerente de agropecuária sustentável da WAP.
Mas há ainda um outro problema. Com a paralisação repentina, os frigoríficos, sem ter como dar vazão a seus produtos, suspendem o abate dos animais. "Começa a haver um acúmulo de animais na granja", explica Ciocca. "Os que já estão aptos para o abate continuam crescendo; isso aumenta a demanda por ração, reduz o espaço físico disponível por animal, gerando estresse e aumentando sua vulnerabilidade a doenças."
Para se ter uma ideia do tamanho do problema, somente a Aurora Alimentos abate cerca de um milhão de frangos e 200 mil porcos por dia. Frigoríficos menores abatem 200 mil frangos diariamente. A produção anual de frango no Brasil é de 6,5 bilhões e a de suínos, 44 milhões.
Os animais que já se encontravam na estrada, em transporte, estão sofrendo com a paralisação, o calor e, eventualmente, a falta de alimentos.
Neste primeiro momento, o problema afeta, primordialmente, a produção de porco e de frango. O gado bovino em geral é criado no pasto, com mais espaço e menos dependente de ração, e os produtores têm como contornar o problema mais facilmente. No entanto, milhares de litros de leite estão sendo jogados fora diariamente porque não há como fazer o transporte e tampouco se pode deixar de ordenhar as vacas sob o risco de desenvolverem doenças.
"Estamos gerando um alerta para autoridades e governos para que se envolvam na elaboração de um plano de contingência nacional para casos como esse", afirmou Ciocca. "São milhares de vidas animais sob nossa tutela e não há um consenso ainda para liberar os caminhões de ração, por exemplo."
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