O DEFENSOR
Em um gesto considerado
sem precedentes, o presidente americano Donald Trump insinuou que
poderá retaliar países que não votem a favor da candidatura da América
do Norte para receber a Copa do Mundo de 2026. A decisão será tomada
pela Fifa no dia 13 de junho, em Moscou. Além do pleito de Estados
Unidos, Canadá e México, está na corrida o Marrocos.
Em uma mensagem nas
redes sociais durante a noite de quinta-feira, Trump foi claro. “Os EUA
apresentaram uma candidatura forte com o Canadá e México para a Copa do
Mundo de 2026”, escreveu. “Seria uma pena se países que sempre apoiamos
fizessem agora lobby contra os EUA”, alertou. “Por qual motivo
deveríamos apoiar esses países quando eles não nos apoiam (incluindo nas
Nações Unidas)?”, questionou.
A mensagem foi recebida como uma ameaça e pressão sobre os países que, em dois meses, decidirão a sede do Mundial de 2026.
Fora da Copa da Rússia
após não conseguir se classificar, os Estados Unidos estão no centro
hoje do debate sobre o futuro da Fifa. A entidade máxima do futebol
abriu a possibilidade para que, pela primeira vez, três países pudessem
sediar o Mundial. Isso por conta da ampliação do número de seleções, de
32 para 48
Gianni Infantino,
presidente da Fifa, estima que o novo formato geraria US$ 1 bilhão
(aproximadamente R$ 3,5 bilhões) a mais em renda para a entidade, mesmo
que para isso seja necessário um número maior de sedes, com a realização
de 80 partidas em apenas um mês.
Do lado do Marrocos, as
queixas apontam para a preferência de Infantino pela candidatura
americana. O país do norte da África chegou a protestar contra decisões
de última hora da Fifa em modificar certos critérios para a escolha
final da sede.
A suspeita é de que
Infantino, ao levar o torneio para os EUA, queira agradar as autoridades
americanas, que continuam investigando as suspeitas de corrupção no
coração do futebol.
A mensagem de Trump
ainda foi dada horas depois que o presidente da França, Emmanuel Macron,
deixou Washington. A França já indicou que apoiaria a candidatura do
Marrocos.
Entre as delegações
africanas, o peso de Trump no processo tem sido considerado,
principalmente depois de ele se referir aos países africanos e outros em
desenvolvimento como “buracos de m. .”. Na Fifa, cerca de um quarto dos
votos são de países africanos.
Em termos da qualidade
da infraestrutura, a candidatura da América do Norte insiste que já tem
tudo pronto para o evento, enquanto o Marrocos teria de construir ou
renovar praticamente todos os estádios.
POLÍTICA – Na Fifa,
quem vota são as 209 federações nacionais e a entidade insiste que não
existe um posicionamento político por parte dos cartolas. Mas a história
desmente essa tese.
Para o Mundial de 2022,
no Catar, o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, insiste que a
decisão que pesou foi tomada pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy,
interessado nos investimentos do Catar em seu país.
Em uma reunião no
Palácio do Eliseu, em Paris, Sarkozy teria convocado Michel Platini,
então presidente da Uefa, para o orientar sobre o voto. Platini, por sua
vez, acabou levando para o Catar todos os votos europeus.
O próprio Blatter
admitiu que havia um acordo para dividir a Copa entre as duas super
potências. Em 2018, ela ficaria com os russos e, em 2022, com os
norte-americanos, o que acabou não acontecendo.
A escolha das sedes
olímpicas também se tornou um assunto de Estado, com presidentes fazendo
campanhas explícitas e trocando apoio baseado na votação de suas
cidades. Para 2016, o Rio contou com um departamento inteiro do
Itamaraty para aproximar a candidatura de países aliados, principalmente
na África, América do Sul e Oriente Médio.
Se a Copa de 2026 for
para os EUA, o território norte-americano irá repetir a mesma situação
que foi registrada no Brasil na atual década, com um Mundial e uma
Olimpíada no espaço de dois anos. Em 2028, Los Angeles receberá os Jogos
Olímpicos.
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