Coluna de Carlos Brickmann, via Chumbo Gordo:
Um dia, perguntaram a
Lula se era comunista. “Não”, respondeu. “Sou torneiro mecânico”. Lula
tinha razão e não tinha: não era comunista (como não é até hoje);
torneiro mecânico tinha sido quando ainda era capaz de lembrar-se dos
comandos de um torno. Lula tem fascínio por Cuba e pela família Castro,
mas deve achar Maduro um chato. Maduro, Evo e outros seres servem a seus
objetivos e são descartáveis. Usou, gastou, lixo.
Lula não é comunista.
Nem outros que são chamados de comunistas porque não seguem totalmente a
religião do Estado mínimo – até Fernando Henrique, que privatizou a
Vale e a telefonia, virou comuna, porque torce para que Lula não vá
preso. E João Doria, onde achará um cashmere vermelho para enrolar na
gola do macacão Ferragamo sob medida?
Kim Kataguiri,
direita? Imagine um debate sobre Economia, com Bolsonaro, Kim e o
Instituto Mises. Kim teria de recorrer ao notável livro O caminho da
servidão, de Friedrich Hayek: para debater à altura, só subindo no
livro. E Suplicy, cuja tese da renda mínima vem da economia liberal,
será direitista? Nem toda a direita é fascista, nem toda a esquerda é
comunista. É preciso saber quem é quem para que o debate seja livre, sem
ódios, e permita achar um caminho para o país.
Caso se mantenha a
troca de insultos, como no futebol, acabaremos, como no futebol, tendo
jogos de torcida única. Que, em política, se chamam ditaduras.
A guerra do pernil
O caro leitor
acompanha a briga do presidente bolivariano Nicolás Maduro com
fornecedores brancos, loiros, dizóio azul, neoliberais a serviço
duzianque, que não entregaram os pernis encomendados pela Venezuela só
porque a encomenda não foi paga?
Pois é: a informação
de cocheira (ou, em se tratando de pernis de porco, de cocho) é de que
20 mil toneladas de pernil foram embarcadas pelos exportadores
portugueses, e estão guardadas na Colômbia, pertinho da Venezuela, para
entrega assim que Maduro pagar o preço combinado de € 40 milhões. Mas
não sejamos inflexíveis com Maduro: essa história de ele, como Pai dos
Pobres, distribuir pernis ao seu povo, e por conta de produtores de
outro país, é muito engraçada.
Dinheiro vira pipoca
No Rio de Janeiro os
salários do funcionalismo estão atrasados, faltam recursos para
enquadrar os narcotraficantes em guerra, não há dinheiro para despoluir
seu cartão de visitas, a belíssima Baía da Guanabara, acabaram as verbas
para manutenção dos carros da Polícia (que andaram enguiçando em frente
à bandidagem).
Mas houve dinheiro à
vontade para pagar a mais longa queima de fogos do réveillon: 17 minutos
de foguetório, disparado de grandes barcaças ancoradas perto da praia.
Se houvesse 15 minutos em vez dos 17, qual a diferença? E 13, ou 10? Uma
das cidades mais bonitas do mundo, com aquela orla, com o Cristo
Redentor, teria a festa comprometida se houvesse menos volúpia em
detonar o
Tesouro carioca?
Amarelinha recorde
Em São Paulo, a
grande atração só não foi mais ridícula porque custou menos. Mas na
Avenida Paulista foi batido o recorde mundial de gente pulando num pé
só. Sim, fizeram isso. E não se limitaram a isso: fizeram a maior
questão de registrar a besteira e incluí-la no Livro Guiness. Tudo bem,
era feriado, festa, cada um se diverte como quer, mas recorde de
amarelinha em grupo (para perna direita)…
Agora, vamos à perna esquerda!
O dinheiro detonado
Mas sejamos
compreensivos com os gastos de nossos dirigentes, mesmo que pareçam
estranhos. Vejamos como funciona nosso país fora das festas. O Brasil
paga auxílio-moradia a 88 juízes de tribunais superiores, nove ministros
do Tribunal de Contas da União, 553 conselheiros de tribunais de contas
de Estados e Municípios, 14.882 juízes, 2.381 desembargadores, 2.390
procuradores do Ministério Público Federal, 10.687 procuradores dos
ministérios públicos estaduais. Total das despesas com auxílio-moradia a
quem, em geral, ganha bem, mora em sua própria cidade e, com
frequência, em casa própria, em bairros nobres: R$ 1 bilhão e 580
milhões por ano.
É nosso, mas é deles
O ano que agora
começa é especial: nele ocorre a grande festa eleitoral. A campanha vai
custar R$ 1,7 bilhão, todinha com dinheiro público, como o PT vinha
reivindicando e os adversários se apressaram a apoiar. Os donos dos
partidos distribuem as verbas de acordo com sua vontade. Imagine.
Feliz ano velho
O Rio começou 2018
com tiroteios em três favelas, São Paulo com a morte de um menino de
cinco anos, atingido por bala perdida e pela incapacidade do sistema de
saúde, que durante seis horas não o atendeu. Em Goiás, nove presos
morreram numa rebelião (houve mais duas, essas, porém, sem vítimas) e
dez ficaram feridos.
O ano muda, o Brasil continua.
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