Coluna de Carlos Brickmann, via Chumbo Gordo:
O presidente Michel
Temer, usando sem parar a máquina do Governo, prometendo ampliar ainda
mais as vantagens oferecidas a quem o apoia, mantendo-se ao lado de
cavalheiros amplamente conhecidos como Romero Jucá, Eliseu Padilha,
Moreira Franco, atraindo para seu grupo mais pessoas vocacionadas para
integrá-lo, como o deputado Carlos Marun, tem o apoio de 6% do
eleitorado – um número como o ostentado, veja só, por Dilma. Por que
usar maneiras tão discutíveis de fazer política, para ter resultados tão
frustrantes? Por que, com tão pouco apoio, ensaia tentar a reeleição?
Simples: porque a
primeira obrigação de um político é sobreviver. Vale tudo, portanto,
para manter-se no cargo, mesmo tendo de chamar de Vossa Excelência
alguns cavalheiros que só agora aprenderam a usar talheres às refeições
(e a devolvê-los no final do banquete). Sobreviver não quer dizer que
continue dando as ordens – que essas, mesmo em seus melhores tempos,
dava em voz tão baixa que o gravador de Joesley não pôde captá-las
direito.
Sobreviver significa
ficar livre de juízes de primeira instância, como Sérgio Moro. Tentar a
reeleição segue a mesma lógica: findo o mandato, Temer perde o foro
privilegiado e cai nas mãos dos juízes de primeira instância, como Moro.
Temer só não tentará a reeleição se houver um acordo que lhe garanta
foro privilegiado ou indulto. Sem isso, não perguntem a Temer se prefere
o demônio ou Moro. E se ele responde?
Perdão demais
Indulto é decisão
privativa do presidente da República. O Supremo não deveria se
intrometer no assunto, mas se intrometeu (e, cá entre nós, foi bom). O
presidente decide, mas decidir aumentando ainda mais as regalias dos
delatores é meio muito. Pense num dedo-duro bem safado, que trocou
amigos e cúmplices por uma pena que é quase um prêmio. Ganharia mais um
prêmio, ficando livre de cumprir outro pedaço daquela pena de mentirinha
com a qual foi premiado, e sem pagar multa nenhuma? Dá inveja dos
bandidos que roubam o Tesouro e, sem dó, entregam até a mãe.
Temer, mestre de
Constituição, sabe que foi além do razoável. Se sabe, por que fez? Para
indicar a aliados que, se apanhados, terão apoio, pois alguém lá em cima
gosta deles. Que sigam votando com Temer. A arma de Temer para a
reeleição é a economia. Se tudo der certo e ele ficar, será bom para o
bando todo. Bando, claro, no bom sentido; é sinônimo de “grupo”.
É isso aí
Por falar em Carlos
Marun, uma pessoa nova no grupo sempre é alguém que ainda não se
acostumou a narrar os fatos da maneira que agrade os companheiros. Pois
não é que Marun, agora ministro da Secretaria de Governo, acaba de
admitir que está pedindo apoio à reforma da Previdência especialmente
para quem recebe recursos oficiais?
“Não vamos abrir mão
de pleitear o apoio dos agentes públicos brasileiros e, especialmente,
daqueles beneficiados por ações do Governo”, disse. Ou, em linguagem
menos rebuscada, é recebendo que se dá. É bom aproveitar a verdade antes
que o ministro Marun aprenda a dizê-la.
O golpe e “o górpi”
O governo da
Venezuela expulsou o embaixador brasileiro, por “representar um Governo
de extrema direita” – na linguagem petista, “o górpi”. As coisas estão
agora mais claras: a Venezuela está entre os quatro países bolivarianos
que pegaram dinheiro do BNDES para realizar obras e, agora, dão o golpe
no credor, não pagando as prestações. Segundo a Operação Lava Jato, há
nesses empréstimos, com os quais seriam pagos os serviços de
empreiteiras brasileiras, farto superfaturamento, que em parte voltou ao
Brasil para pessoas bem relacionadas.
Maduro falou mal do
Brasil, do Canadá (que também expulsou diplomatas venezuelanos) e de
Portugal (ver nota abaixo). Mas a crise que a Venezuela procura para ter
um inimigo externo e abafar a crise interna é com outro país: a Guiana.
Tão logo o vizinho descobriu petróleo na fronteira com a Venezuela,
Maduro passou a reivindicar a região. Tenta intimidar o vizinho com os
jatos Sukhoi que comprou da Rússia. Não vai adiantar: a Guiana tem o
apoio de Brasil e Colômbia. E os Sukhoi são caças ótimos mas não voam
sozinhos.
A Guerra do Pernil
O presidente
venezuelano Nicolás Maduro está também em crise com Portugal. Prometeu
distribuir pernis de porco neste fim de ano a todas as famílias
venezuelanas, encomendou o produto a Portugal e só se esqueceu de pagar a
conta – deste ano e do ano passado. Os exportadores portugueses
suspenderam a operação, e Maduro acusa o Governo português de sabotar o
socialismo venezuelano por ordem, claro, dos Estados Unidos.
O curioso é que o
Governo português, como o brasileiro, não exporta carne nenhuma: quem
exporta são as empresas produtoras. E todas têm o vicio capitalista,
neoliberal e pequeno burguês de exigir o pagamento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário