Oito anos após lei, como Anvisa e farmacêuticas querem diminuir falsificações e roubos de remédios
Postado em 30/12/2017 9:50 DIGA BAHIA
Medicamentos
falsificados, irregulares, oriundos de contrabando ou roubo poderão ser
interceptados mais rapidamente a partir do próximo ano. No primeiro
trimestre de 2018, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e
um grupo de seis empresas farmacêuticas começam um projeto-piloto para
rastrear remédios desde a produção à venda no Brasil.
A medida pode ajudar a diminuir a circulação de produtos
falsificados ou de qualidade duvidosa, estimados em 10% do total de
remédios vendido em países de baixa e média renda, como o Brasil,
segundo relatório recente da OMS (Organização Mundial da Saúde). O total
gasto com esses medicamentos pode chegar a US$ 30 bilhões globalmente,
estima a organização.
A medida pode ajudar a diminuir a circulação de produtos
falsificados ou de qualidade duvidosa, estimados em 10% do total de
remédios vendido em países de baixa e média renda, como o Brasil,
segundo relatório recente da OMS (Organização Mundial da Saúde). O total
gasto com esses medicamentos pode chegar a US$ 30 bilhões globalmente,
estima a organização.
O processo tem início com o fabricante ou importador do
remédio, que informa à Anvisa quando o produto sai do laboratório e é
enviado para uma revendedora. Por sua vez, quando as revendedoras
recebem e quando revendem o medicamento, elas detalham à agência as
informações sobre quais drogarias ou hospitais receberam o produto.
“Os códigos de cada caixinha vão nos ajudar a monitorar
se o produto transita na cadeia conforme ele vai sendo informado [pelas
empresas]. Com isso, evitamos o uso de produtos sem registros, roubados
ou extraviados”, explica Pedro Ivo Sebba Ramalho, diretor-adjunto da
Anvisa.
A agência também espera que o sistema ajude as ações de
recolhimento – quando um remédio apresenta problemas de qualidade e
precisa ser retirado rapidamente de circulação. “Saberemos onde estarão
todas as unidades de lote com problemas”, afirma Ramalho.
Produtos de alto valor
Entre os produtos a serem monitorados na primeira fase
do programa, estão remédios caros, geralmente visados por criminosos.
“Se um falsificador de moeda estiver operando, ele não irá falsificar
notas de 2 reais, mas irá querer falsificar notas altas, para compensar a
fraude. Então um dos critérios são os produtos de maior valor
agregado”, diz Ramalho.
Outro critério são produtos usados com frequência e,
portanto, de alto volume – outro campo de interesse dos falsificadores.
Os medicamentos que começam a ser rastreados no ano que vem são
Tandrilax (analgésico e relaxante muscular), Climene (para terapia de
reposição hormonal feminina), Micardis (para hipertensão), Levaquin
(antibiótico) e Faulblastina (utilizado no tratamento de vários tipos de
câncer).
Os produtos são das farmacêuticas Aché, Bayer,
Boehringer Ingelheim, Janssen-Cilag e Libbs, que participam da fase
piloto da iniciativa. Futuramente, Eurofarma e Roche também devem ser
inseridas, segundo o Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos
Farmacêuticos no Estado de São Paulo).
“Quando estiver totalmente implementado, será possível
monitorar o percurso dos produtos originais em todas as etapas do
processo de produção, distribuição, venda aos consumidores e utilização
em clínicas, hospitais e residências”, diz Nelson Mussolini,
presidente-executivo do Sindusfarma.
Antibióticos estão entre os mais falsificados
Algumas das classes de medicamentos a serem rastreadas
pela Anvisa – antibióticos, analgésicos e remédios para câncer – estão
entre as principais falsificadas globalmente, segundo a OMS.
Antibióticos, por exemplo, representaram um quinto dos casos denunciados
à organização entre 2013 e 2017, seguidos por anestésicos e
analgésicos, com 8,5% dos casos.
De acordo com a OMS, citando dados da organização
policial Interpol, organizações criminosas antes especializadas no
mercado de drogas estão migrando para o segmento de remédios porque “os
lucros são altos, os riscos de serem detectados e julgados são pequenos e
as penalidades, se o processo é de fato bem sucedido, praticamente
insignificantes quando comparado com aqueles aplicados no tráfico de
drogas de larga escala”.
De acordo com Joseane Ames, autora do estudo Falsificação de medicamentos no Brasil ,
que analisou dados da Polícia Federal sobre apreensões de medicamentos
falsos no país entre 2007 e 2010, criminosos estão interessados em
produtos ou que custem caro ou que sejam de difícil acesso à população.
“Mesmo em pequena quantidade, até medicamentos contra
câncer foram encontrados entre as apreensões, tanto pelo valor de
mercado quanto pela dificuldade algumas vezes de encontrar para a
venda”, diz a pesquisadora. “Infelizmente falsificações ainda são muito
comuns em medicamentos de custo elevado ou proibidos pela Anvisa”,
afirma.
No período pesquisado por Ames, um total de 610
medicamentos, incluindo antidepressivos, esteróides anabolizantes,
produtos para disfunção erétil masculina e produtos para emagrecer,
foram declarados falsos após análises por peritos criminais. Questionada
pela BBC Brasil sobre apreensões a partir de 2011, a Polícia Federal
não respondeu.
Já a Anvisa disse não ter estimativas sobre o montante
de remédios falsificados ou de qualidade ruim em circulação. Em 2016, a
Anvisa afirma que seis lotes de medicamentos falsificados foram
apreendidos. A entidade não precisou o volume de unidades envolvidas nos
seis lotes interceptados.
Apesar da falta de estatísticas oficiais, o problema é
considerado grave pela agência. Para o próximo ano, Anvisa trabalha em
um plano nacional de combate a medicamentos falsificados, parte de uma
estratégia internacional da OMS para levar diferentes países a
desenvolver programas nacionais para tratar do problema.
O Brasil é um importante aliado nesse tema. O país foi o
responsável por coordenar um guia, lançado pela OMS em outubro, para
outras nações desenvolverem programas capazes de frear a produção e
venda de medicamentos falsificados ou de qualidade ruim.
Controle difícil
Um dos principais desafios de reguladores é a internet,
que abriu um vasto campo de atuação para criminosos que lucram com o
comércio de medicamentos falsificados, sem registro ou de qualidade
ruim. Reguladores nem sempre são capazes de frear a máquina
propagandista utilizada por criminosos online e em redes sociais para
promover e vender esses produtos.
Um caso recente envolve os produtos Control PRO- Premium
e Natural-D – Tratamento Avançado, ambos divulgados em sites em
português prometendo resultados milagrosos no controle do diabetes tipo
2. Em meados de dezembro de 2017, a Anvisa baniu os dois produtos, mas,
duas semanas após o veto, os itens continuavam sendo amplamente
ofertados, inclusive nos sites nomeadamente proibidos de divulgá-los.
Os riscos trazidos pelos produtos, de fabricante
desconhecido, vão desde envenenamento pela presença de substâncias
desconhecidas a falhas fatais no tratamento, uma vez que produtos
irregulares podem não trazer as substâncias de fato terapêuticas e nas
quantidades certas, necessárias para os pacientes que precisam fazer o
controle da doença.
Ramalho, da Anvisa, reconhece a dificuldade de processar
e prender criminosos que atuam na venda online de produtos irregulares.
“A internet é um dos que apresentam grau de desafio maior, inclusive
porque muitos dos sites que vendem os produtos são sediados fora do
Brasil, o que impede o alcance da autoridade sanitária para penalizar
esses provedores.”
No caso do produto Control-Pro, o site onde o produto é
vendido deturpou comunicados reais da Anvisa para divulgar os produtos.
Os autores da notícia falsa mencionam a liberação, em julho de 2017, de
um novo medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2, mas afirmam
que a agência aprovou as substâncias contidas no produto irregular – o
que não é verdade.
Os autores trazem ainda depoimentos de supostos
pacientes que dizem ter voltado a consumir alimentos que antes não
podiam por causa da doença após usar o produto por 30 dias.
Para Mussolini, do Sindusfarma, o acompanhamento de
anúncios de produtos farmacêuticos na internet ainda é falho. “A Anvisa
terá de reforçar sua estrutura de monitoramento e controle para
enfrentar esse novo desafio”, diz.
Consciência sanitária
Além de auxiliar com denúncias à Anvisa, pacientes e
consumidores podem auxiliar o órgão regulatório ao buscar apenas
fornecedores autorizados e evitar a compra de medicamentos em feiras,
camelôs e postos de beira de estrada, além de evitar o consumo de
produtos duvidosos.
Atenção a mecanismos de segurança simples presentes nos
remédios de fato autorizados no país podem ajudar nessa pesquisa.
Medicamentos com registro sanitário, por exemplo, têm na embalagem uma
tinta reativa que, ao ser raspada, traz a palavra “Qualidade”, além da
logomarca da empresa fabricante. Produtos aprovados também são lacrados
ou trazem selo de segurança, os quais indicam a inviolabilidade do
produto.
“É importante a questão da consciência sanitária das
pessoas, além de buscar informação para ter acesso a produtos
regularizados, para que o paciente possa ter um consumo seguro”, aponta
Ramalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário