Bernardo Mello Franco
Folha
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Eike
Batista não é a musa de Caetano, mas nasceu com o dom de iludir. No
papel de empresário, convenceu investidores a financiar projetos
mirabolantes e irrealizáveis. Na pele de investigado, tenta se vender
como uma vítima do sistema que o levou ao topo. Antes
de se entregar à polícia, o ex-bilionário apostou no mito do corruptor
bonzinho. Ele repetiu a fábula de que empresários inocentes são
obrigados a corromper políticos malvados. O conto ainda ludibria muita
gente, a julgar pelos pedidos de selfie no aeroporto de Nova York.
“A
Lava Jato está passando o Brasil a limpo”, disse o ex-bilionário, como
se não tivesse nada a ver com a sujeira. “O Brasil que está nascendo
agora vai ser diferente, tá certo? Porque você vai pedir suas licenças,
vai passar pelos procedimentos normais, transparentes, e se você for
melhor, você ganhou”, afirmou.
As
declarações de Eike sugerem que ele defendia a normalidade e a
transparência, mas foi forçado a pagar propina para sobreviver. Esse
discurso omite o fato de que a corrupção é uma via de mão dupla. O
corruptor compra uma vantagem ilegal sobre os concorrentes e busca uma
recompensa maior do que o suborno.
APENAS GORJETA
– Numa única transação com o governo Sérgio Cabral, o dono do grupo X
pagou R$ 37,5 milhões por um terreno avaliado em R$ 1,2 bilhão. Diante
do lucro na operação, a propina de US$ 16,5 milhões ao peemedebista
ganha a dimensão de uma gorjeta.
Na
decisão em que mandou prender Eike, o juiz Marcelo Bretas lembrou que
não existe corrupto sem corruptor, e vice-versa. “Se por um lado chama
nossa atenção a figura do agente público que se deixa corromper, por
outro lado não se deve olvidar da figura do particular, pessoa ou
empresa corruptora que promove ou consente em contribuir para o desvio
de conduta”, escreveu.
Uma
boa novidade da Lava Jato é que megaempresários, empreiteiros e
lobistas acostumados a subornar políticos também passaram a ser punidos.
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