Meryl Streep, a anti-Trump, continua na sua mansão indevassável. |
O jornalista português Alberto Gonçalves, agora no Observador,
destila sua verve sobre a escória que berra nas ruas contra Trump, com
apoio de celebridades norte-americanas. Nunca é demais lembrar que o
dito cujo foi legitimamente eleito, destronando Obama, ícone do
esquerdismo politicamente correto:
A acreditar na
quantidade de americanos que prometeu deixar o país se o extraordinário
sr. Trump chegasse à Casa Branca, seria de esperar que os EUA fossem
hoje um imenso deserto. Não é o caso. Claro que demasiadas pessoas
correram para os aeroportos nas últimas semanas. Mas foi apenas para
protestar as restrições à imigração, prova da maldade intrínseca do novo
presidente e, em boa parte, herança do anterior. Num ápice, a rapaziada
regressou à vidinha habitual: berrar na rua, destruir propriedade
alheia, berrar na rua, impedir homossexuais inoportunos de falar em
Berkeley, berrar na rua. Mesmo a actriz Meryl Streep, que segundo a
própria integra uma das classes mais discriminadas do país (os
presunçosos?), continua, ao que tudo indica, a habitar a sua mansão de
Los Angeles, curiosamente rodeada por muros de betão.
De facto, o número de
cidadãos de partida para o exílio é tão baixo que o Washington Post se
viu e desejou para descobrir um único exemplo. Após buscas aturadas, e
confessamente difíceis, lá encontraram o casal Yeager, ela reformada e
ele um escritor que ganha dinheiro a criticar o “consumismo”. Os Yeagers
colocaram a casa à venda para fugir à “devastação eleitoral” (cito) e
passar os próximos 4 ou 8 anos no estrangeiro. Onde? As hipóteses são
múltiplas: Panamá, Costa Rica, Nova Zelândia, Malásia, Vietname,
Tailândia, Croácia, Polónia, Espanha ou, talvez, Portugal. Repararam na
honra?
Entretanto, o
Huffington Post meteu-se no assunto. Entre parêntesis, noto que o
Huffington Post é um site “informativo”, do género de informação que,
quando o dono da Starbucks anuncia a contratação de 10 mil refugiados e
as acções da empresa se despenham a pique, faz uma notícia intitulada:
“Apoiantes de Trump: tentativa de boicote à Starbucks falha com
estrondo”. Fora de parêntesis, este baluarte do grande jornalismo
aproveitou a história dos Yeagers, retirou-lhe tipicamente a graça e
apresentou-a como modelo a seguir. A fim de ajudar ao êxodo dos EUA,
sugeriu (os desorientados agradecem sugestões) onze destinos ideais.
Nesses paradisíacos destinos, há ditaduras ou democracias questionáveis,
regimes alérgicos aos famosos direitos humanos, albergues exóticos,
cenários de homicídios, entrepostos do terrorismo islâmico, a
“neoliberal” Irlanda, outra vez a remota Nova Zelândia. E outra vez
Portugal.
Convém esclarecer os
candidatos que, ao primeiro impacto, não distinguirão Portugal da
América. Também os nossos “media” estão repletos de criaturas
empenhadíssimas em convencer os simples, a bem ou a mal, de que o sr.
Trump é a reincarnação de Hitler ou o Belzebu alaranjado (a teoria
divide-se). As semelhanças, porém, terminam aqui. Ou na virtual
“megafábrica” da Tesla que se converteu num “stand” de automóveis a
sério. Sob essa superfície, somos uma sucessão de encantos.
Temos futebol, ou
melhor, conversas acerca de árbitros, dirigentes e autocarros. Temos
televisões a avisar que não nos devemos aproximar do mar revolto excepto
para filmar o mar revolto e enviar-lhes o vídeo. Temos um
ex-primeiro-ministro, vários ex-banqueiros e muitas futuras
ex-personalidades envolvidas num folclórico rol de trapaças, nas quais
metade da imprensa nem toca. Temos deputados que acreditam em Marx e em
elfos que querem “debater” e legalizar a eutanásia – de terceiros. Temos
uma dívida pública que cresce com galhardia e não incomoda vivalma.
Temos um governo legitimado pelo apoio de partidos leninistas que juram
não apoiar o governo. Temos um presidente optimista e afectuoso até para
com o “rating” de “lixo”. Temos hora marcada com uma bancarrota que a
ninguém aflige. Temos calor (?), gastronomia, hospitalidade, rotundas e
paisagem. E temos, sobretudo, a garantia de que em Portugal nunca caberá
um populista do calibre do sr. Trump (que o parlamento formalmente
condena): os populistas caseiros já ocuparam tudo. Os refugiados dos EUA
podem vir à vontade. Ambos.
Notas de rodapé:
Em duas ocasiões
recentes, o eng. Guterres referiu-se às origens judaicas do Monte do
Templo, em Jerusalém. Indignada, a Autoridade Palestiniana invocou uma
resolução da UNESCO e exigiu um pedido de desculpas. Quem tem razão?
Ambos. O actual Muro das Lamentações é evidentemente o que sobra do
Segundo Templo, ou ao que consta uma parede contígua. Por outro lado, há
meses que o braço da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (a
designação é irónica) passou a referir-se ao Monte do Templo
exclusivamente pelos seus nomes árabes, de modo a enterrar a
desagradável conexão hebraica e a legitimar as pretensões da Fatah e
similares.
Perante isto, resta
ao eng. Guterres uma de duas saídas. Ou manda os palestinianos à fava,
por respeito à História e – eis um termo em desuso – à verdade. Ou ata
uma corda ao pescoço e parte de joelhos ao encontro do sr. Abbas, por
respeito à utilíssima instituição a que preside e a que o pérfido sr.
Trump, para consternação universal, ameaça cortar subsídios. Até ver, o
eng. Guterres apenas lamentou (longe do Muro) as políticas do último, e
não abriu a boca sobre o primeiro. É assim que se vai longe.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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