MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Quem cala, quem fala


Reprodução da internet
Janio de Freitas
Folha
A situação desagradável de Lula, sob cerco crescente e cada vez mais voraz, em grande parte é uma criação sua. A cada petardo que lhe atiram, a reação de Lula é invariável: o silêncio emburrado. Até que, ao acaso ou por uma circunstância especial, manda um dos seus petardos típicos em resposta a uma das suspeitas acusatórias, feito mais de ira do que esclarecimento.
Com o ganho que seu governo facilitou às classes já favorecidas, muito maior que o transferido às classes de baixo, Lula, ao que se pôde deduzir, supôs-se aceito pelo conservadorismo econômico e político. Já deu muitos sinais de ressentimento do que considera a ingratidão de uns e a deslealdade de outros, estes na “esquerda” e até integrantes do seu governo. Mas o erro de avaliação não foi do conservadorismo e dos adversários políticos, que não mudaram. Aproveitaram o que o governo Lula, como qualquer outro, lhes deu, e continuaram fiéis à sua natureza.
O caso do triplex no Guarujá ilustra bem a conduta um tanto masoquista de Lula. A Lava Jato tem espichado essa rentável história, mas a inesperada concorrência de um promotor de Justiça de São Paulo veio precipitar atos novos. Ocorrência incompatível com quem se declara a pessoa mais honesta do país. Admitindo-se que seja ao menos tão honesto quanto são os honestos do país, Lula há de ter explicações cabais e divulgáveis sobre o que ligou seu nome ao tal apartamento, capazes de eliminar no nascedouro as suspeitas postas já como denúncias de improbidade. Se não puder esclarecer, ou, por qualquer motivo, não quis fazê-lo, o menos admissível é expelir ressentimento e descontrolar-se em bravatas verbais que nada resolvem.
DELATOR MENTIROSO
No emaranhado de revelações, com e sem aspas, e obscuridades que fazem a novela da Lava Jato, o recente depoimento do lobista Fernando Moura, desdizendo-se, pode ser muito mais importante do que aparenta. A começar da irritação que causou nos procuradores da Lava Jato, por desfazer algumas acusações, por exemplo, a José Dirceu, o depoimento abre caminho a novas verdades. São brechas que ou forçam ou permitem revelações até aqui evitadas por determinados depoentes.
Os procuradores entenderam de outro modo. Preferiram ameaçar Fernando Moura com a retirada do prêmio à delação, por prometer, para obtê-la, afirmações que retirou ao falar já como delator premiado. Para obter o direito ao prêmio, qualquer um diz qualquer coisa que agrade aos inquiridores.
As delações contêm inúmeras contradições que caracterizam mentira de um dos depoentes, senão dos dois, e jamais os procuradores ameaçaram com represália. Se suspenso o direito de Fernando Moura ao prêmio, caberá ao Supremo Tribunal Federal decidir qual dos seus depoimentos é mais verdadeiro. Menos para efeito do prêmio do que para os processos e julgamentos. Uma questão interessante.
DEPOIMENTO DE DIRCEU
Previsto para amanhã, o depoimento de José Dirceu é esperado já como peça de algumas revelações capazes de mudar partes do quadro divulgado. Dirceu não é a figura-chave dos fatos que geraram a Lava Jato, como não deveria ser no julgamento do mensalão, mas é provável que seja o maior repositório de informação sobre os dois episódios. O problema é que as expectativas desse gênero costumam fracassar. Sobretudo em petistas, prova-o Lula mais uma vez. Atitude que às vezes é valorosa como lealdade partidária ou pessoal, mas, com frequência, de resultado final mais negativo do que menos. Até, ocasionalmente, para o país.

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