Vicente Nunes
Correio Braziliense
A recessão e o quadro inflacionário se tornam mais dramáticos diante do estrago que estão fazendo no mercado de trabalho. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, afirma que o desemprego, que atingiu 7,9% em outubro, chegará a 10% no ano que vem, retornando aos níveis de 2006 — um retrocesso de uma década. Somente nos últimos 12 meses, a renda média real dos trabalhadores caiu 7%. Isso quer dizer que, além das demissões em massa, quem ainda consegue uma vaga está sendo obrigado a aceitar salários menores. O resultado disso será mais retração econômica.
O que mais perturba especialistas é o estrago social que está se desenhando no país. Recessão, inflação alta e desemprego tendem a elevar a pobreza, por mais resistente que seja a rede de proteção criada nos últimos anos. Nas periferias das grandes cidades, já se vê um contingente maior de homens adultos desocupados. Muitos sequer têm dinheiro para pagar as passagens de ônibus que lhes permitiriam procurar trabalho. Os recursos do seguro-desemprego, que vinha segurando as despesas emergenciais, já acabaram. Restará, nesse ambiente de insatisfação, o aumento da violência.
O IBGE mostra que, em relação a outubro do ano passado, a taxa de desocupação em Salvador passou de 8,5% para 12,8%; em São Paulo, quase dobrou, saltando de 4,4% para 8,1%; em Recife, foi de 6,7% para 9,8%; em Belo Horizonte, de 3,5% para 6,6%; no Rio de Janeiro, de 3,8% para 6,0%; e, em Porto Alegre, de 4,6% para 6,8%. Para André Perfeito, o aumento do desemprego faz parte do ajuste que Levy e o Banco Central buscam para derrubar a inflação. Resta saber, segundo ele, se a sociedade aguentará calada esse arrocho.
PRESENTE DE GREGO
A ordem, dentro do governo, é para monitorar as tensões sociais que possam despontar país afora devido ao descontentamento com a economia. Dilma já deixou claro a interlocutores a preocupação com o risco de a nova classe média, a mais beneficiada pelo longo período de crescimento econômico, sair às ruas e encampar as pressões pelo impeachment. A presidente sabe que, neste momento, não tem nada a oferecer para aplacar as mazelas que estão destruindo o poder de compra das famílias e inibindo os investimentos produtivos.
A alternativa será apresentar paliativos, como o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), sancionado agora. Lançado em julho, o projeto trouxe pouquíssimo alento. As demissões se acentuaram, a economia afundou na recessão e a desconfiança em relação ao governo só cresceu, por causa, sobretudo, da crise política que travou o país.
Dilma, Levy e companhia poderão até recorrer à retórica para tentar segurar os ânimos. Mas, com o bolso dos trabalhadores tão estragado às vésperas do Natal, a missão será quase impossível. Em vez da esperança de dias melhores, o que a petista está entregando para a população é um grande presente de grego.
Correio Braziliense
A recessão e o quadro inflacionário se tornam mais dramáticos diante do estrago que estão fazendo no mercado de trabalho. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, afirma que o desemprego, que atingiu 7,9% em outubro, chegará a 10% no ano que vem, retornando aos níveis de 2006 — um retrocesso de uma década. Somente nos últimos 12 meses, a renda média real dos trabalhadores caiu 7%. Isso quer dizer que, além das demissões em massa, quem ainda consegue uma vaga está sendo obrigado a aceitar salários menores. O resultado disso será mais retração econômica.
O que mais perturba especialistas é o estrago social que está se desenhando no país. Recessão, inflação alta e desemprego tendem a elevar a pobreza, por mais resistente que seja a rede de proteção criada nos últimos anos. Nas periferias das grandes cidades, já se vê um contingente maior de homens adultos desocupados. Muitos sequer têm dinheiro para pagar as passagens de ônibus que lhes permitiriam procurar trabalho. Os recursos do seguro-desemprego, que vinha segurando as despesas emergenciais, já acabaram. Restará, nesse ambiente de insatisfação, o aumento da violência.
O IBGE mostra que, em relação a outubro do ano passado, a taxa de desocupação em Salvador passou de 8,5% para 12,8%; em São Paulo, quase dobrou, saltando de 4,4% para 8,1%; em Recife, foi de 6,7% para 9,8%; em Belo Horizonte, de 3,5% para 6,6%; no Rio de Janeiro, de 3,8% para 6,0%; e, em Porto Alegre, de 4,6% para 6,8%. Para André Perfeito, o aumento do desemprego faz parte do ajuste que Levy e o Banco Central buscam para derrubar a inflação. Resta saber, segundo ele, se a sociedade aguentará calada esse arrocho.
PRESENTE DE GREGO
A ordem, dentro do governo, é para monitorar as tensões sociais que possam despontar país afora devido ao descontentamento com a economia. Dilma já deixou claro a interlocutores a preocupação com o risco de a nova classe média, a mais beneficiada pelo longo período de crescimento econômico, sair às ruas e encampar as pressões pelo impeachment. A presidente sabe que, neste momento, não tem nada a oferecer para aplacar as mazelas que estão destruindo o poder de compra das famílias e inibindo os investimentos produtivos.
A alternativa será apresentar paliativos, como o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), sancionado agora. Lançado em julho, o projeto trouxe pouquíssimo alento. As demissões se acentuaram, a economia afundou na recessão e a desconfiança em relação ao governo só cresceu, por causa, sobretudo, da crise política que travou o país.
Dilma, Levy e companhia poderão até recorrer à retórica para tentar segurar os ânimos. Mas, com o bolso dos trabalhadores tão estragado às vésperas do Natal, a missão será quase impossível. Em vez da esperança de dias melhores, o que a petista está entregando para a população é um grande presente de grego.
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